Vamos falar sobre saúde mental?

Olhe ao redor e responda: quantos dos seus amigos e familiares, ultimamente, disseram estar “sempre cansados”, “borocoxô”, “sem ânimo”? E, ainda: como você tem se sentido?

A pergunta parece simples, mas quando paramos para pensar, a resposta talvez seja um pouco mais complexa. Mas calma: tudo bem não estar bem – e saiba que você não é o único.

Segundo uma pesquisa recente (Umane, 2022), os diagnósticos de depressão aumentaram em 41% nos anos de pandemia. Já de acordo com o Ministério da Saúde, o percentual de crianças e adolescentes com sintomas de ansiedade e depressão dispararam do período pré-pandêmico para o pós, com índices de 25,2% e 20,5%, respectivamente.

A boa notícia em meio aos números de incidência da depressão é que a saúde mental está em pauta. Falar sobre o assunto e tirar o tabu da frente é fundamental para entender o momento e buscar ajuda. Batemos um papo com Luiz Gonzaga Leite, coordenador do Departamento de Psicologia do Hospital Santa Paula (São Paulo), que deu explicações sobre o assunto. Confira:

Quais os efeitos diretos deste período de enfrentamento à Covid-19 sobre a saúde mental?

O aumento dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais durante e após a pandemia podem ocorrer por diversas causas. Dentre elas:

– ação direta do vírus da Covid-19 sobre o sistema nervoso central;
– experiências traumáticas associadas à infecção ou à morte de pessoas próximas;
– estresse induzido pela mudança na rotina de trabalho ou nas relações afetivas, devido às medidas de distanciamento social ou pelas consequências econômicas;
– interrupção de tratamento por dificuldades de acesso.

Esses cenários não são independentes. Ou seja, uma pessoa pode ter sido exposta a várias dessas situações ao mesmo tempo, o que eleva o risco para desenvolver ou agravar transtornos mentais já existentes.

Quando falamos em saúde mental, as pessoas geralmente associam à depressão. No entanto, há outras doenças como ansiedade e fobias diversas. Quais são as mais comuns?

Depressão, síndrome do pânico, ansiedade generalizada, fobias, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Transtorno Afetivo Bipolar, esquizofrenia, transtornos de somatização, Transtornos do Impulso e Dependência de Química e etilismo.

Como avalia a relevância de fomentar o debate sobre saúde mental em espaços públicos de conversa, como em ambientes de trabalho?

É comum encontrarmos programas e atividades de cuidados com a saúde voltados para a parte física do colaborador. Entretanto, é preciso olhar para a saúde mental, assim como para os cuidados com o corpo. Afinal, por se manifestarem de forma silenciosa, muitas vezes as enfermidades psicológicas são deixadas de lado.

Quando um colaborador tem uma fratura no braço, por exemplo, ele precisa de uma tipoia e sofre uma série de restrições por conta da lesão. Sem falar que apenas de olhar para ele é fácil identificar que, naquele momento, é um profissional que está com limitações.

Por outro lado, em questões de saúde mental não é possível visualizar nenhum machucado, então fica mais difícil de perceber quando alguém está passando por dificuldades nesse aspecto.

Existem políticas de cuidado com a parte física em muitas organizações. O mesmo se faz necessário no desenvolvimento de projetos e cuidados voltados para a saúde mental do colaborador.

Como o setor de saúde tem se preparado para acolher essa onda de novos casos de transtornos mentais?

Percebemos mudanças no modo como as empresas estão estabelecendo programas para cuidados voltados à saúde mental. A ANS (Agência Nacional de Saúde) também liberou a utilização sem limites da psicologia via planos de saúde.

Que hábitos podem ser nocivos para a saúde mental?

O etilismo, tabagismo, hábitos alimentares inadequados, sedentarismo, trabalho em excesso… Essas são apenas algumas entre várias causas possíveis que desencadeiam as doenças emocionais/mentais.

E o inverso? Que hábitos podem ajudar no tratamento?

Oito horas de sono, hábitos alimentares adequados, vida familiar, espiritualidade, prática de exercícios e psicoterapia.

Em que momento deve-se buscar ajuda?

Quando se percebe tendência ao isolamento, consumo excessivo de álcool, tabaco ou drogas.

Como eu posso ajudar alguém que esteja passando por essa situação?

A melhor forma de lidar com a dor/sofrimento psíquico é entrar em contato com ele de maneira saudável, para ganhar clareza sobre os sentimentos, e então escolher o passo que faça mais sentido. Um dos caminhos pode ser uma consulta psicológica e, em muitos casos, o tratamento deve ser conjunto: psiquiatria e psicologia.

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