Vacinas contra dengue e Covid-19 entram para programa nacional de imunização

Vacinas contra dengue e Covid-19- Público-alvo para vacina contra a dengue são crianças e adolescentes de 10 a 14 anos; para a Covid-19, o imunizante será ofertado para crianças e populações especiais

O calendário anual de vacinação terá neste ano duas novas vacinas para integrar as campanhas de prevenção do Ministério da Saúde. Uma é contra a dengue e, a outra, contra a Covid-19.

A incorporação da vacina contra a dengue, conhecida como Qdenga, foi anunciada em dezembro. Ela ainda não será usada em larga escala porque o laboratório fabricante, Takeda, tem capacidade reduzida para oferecer as doses. 

Segundo o Ministério da Saúde, a previsão é entregar cinco milhões de doses entre fevereiro e novembro – o que daria para imunizar 2,5 milhões de pessoas, já que o esquema vacinal é composto por duas doses. Por isso, a campanha será focada em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos em regiões prioritárias.

Para comparação, no ano de 2023 inteiro o Brasil registrou 1,6 milhão de casos de dengue, e até 30 de janeiro de 2024 foram 217,4 mil casos prováveis e 15 mortes comprovadas por complicações da doença.

Já a incorporação da vacina contra Covid-19 ao calendário deste ano foi anunciada em outubro passado. A campanha de vacinação deverá focar em grupos prioritários, como crianças, idosos, imunossuprimidos e quem trabalha com idosos, pessoas com deficiências e indígenas. O objetivo do Ministério da Saúde é evitar episódios graves e mortes por coronavírus.

Com o fim da emergência de saúde mundial por causa da Covid-19, a doença passou a ser vista como prevenível, mediante doses anuais de vacinas. Mas até 13 de janeiro de 2024, foram registrados 34 mil novos casos de Covid-19 e 260 mortes relacionadas à doença.

Vacinas “ensinam” o corpo a se defender

As vacinas têm a capacidade de ensinar e treinar o nosso sistema imunológico a reagir quando se depara com um determinado agente infeccioso – seja ele um vírus, uma bactéria ou um parasita. A forma como as vacinas preparam nossas células para essa “batalha” varia de um tipo de imunizante para o outro, segundo o que explica Lilian Avilla, infectologista do Hospital Edmundo Vasconcelos.

Uma das classificações mais comuns é em relação ao “status” do vírus ou bactéria utilizado, que pode estar vivo, mas com propriedades patogênicas (capacidade de gerar doença) atenuadas ou diminuídas; ou pode estar morto (inativado). Em ambos os casos as vacinas são capazes e gerar uma resposta imunológica no nosso organismo, segundo o que explica Avilla.

Até chegar à população, uma vacina passa por diversas etapas de estudos para garantir que sua eficácia e a segurança ao serem aplicadas em seres humanos. Em geral, esses estudos são feitos inicialmente em células, dentro de laboratório (estudos in vitro), para depois serem testadas em animais e, finalmente, em pessoas.

Além disso, todos os processos que envolvem o desenvolvimento, a fabricação, o armazenamento e a distribuição de uma vacina seguem normas rigorosas das agências reguladoras nacionais e internacionais. Por isso o longo processo.

A vacinação é importante para manter as doenças controladas e a população protegida, conforme ressalta a infectologista Lilian Avilla. Um exemplo disso é o controle do sarampo. O vírus chegou a ser considerado erradicado no Brasil em 2016, mas em 2018 novos casos voltaram a aparecer – naquele ano, foram registrados 9,3 mil. Em 2019, saltou para 20,9 mil.

Seleção rigorosa de vacinas para o PNI

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil considera uma lista de vacinas que devem ser aplicadas em bebês e crianças, como também em adolescentes, adultos e idosos (confira aqui).

Mas, para que um imunizante passe a fazer parte do Programa, o processo de seleção é bastante rigoroso e leva em conta critérios epidemiológicos e econômicos. 

O primeiro passo é ter um pedido de registro aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), feito pela empresa fabricante, que deverá fornecer uma série de documentos que comprovem a eficácia do produto. Com a aprovação, a vacina pode ser aplicada em clínicas particulares, por exemplo, mas não necessariamente entrará para o PNI.

Para ser incorporada ao PNI, é preciso ter também a recomendação da Conitec (Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no Sistema de Saúde), conforme critérios epidemiológicos e econômicos. Avilla explica que é só com essa recomendação em mãos que técnicos e especialistas do Programa definem critérios de aplicação, como a faixa etária, indicações e contra indicações, populações prioritárias, entre outros detalhes.

“Algumas vacinas podem ser altamente eficazes, mas se a doença que elas combatem não for algo que ocorre com frequência em uma determinada população, pode não fazer sentido que elas sejam amplamente distribuídas, pois isso implica em logística, recursos e custos adicionais, que podem não compensar do ponto de vista epidemiológico”, diz a infectologista.

Por exemplo: uma das vacinas disponíveis na rede privada e que não está no SUS é a que previne a infecção por herpes zoster. Avilla explica que, atualmente, existem duas disponíveis no Brasil: uma de vírus vivo atenuado (Zostavax) e outra de vírus inativado (Shingrix), mais recomendada para quem é imunossuprimido.

“Também há vacinas que recomendamos em situações especiais, como viagens ou para profissionais sob maior risco de adquirir um tipo de infecção, como é  o caso da vacina contra a febre tifóide. Por isso, é importante checar com seu médico se este é o seu caso, para poder receber algum imunizante que não está disponível no PNI, mas que está indicado para você”, alerta.

Os imunizantes do PNI ficam disponíveis no SUS de maneira contínua e não apenas durante as campanhas, que são feitas quando há necessidade de aumentar a cobertura vacinal e estimular a participação da população. “A vacinação é o método mais seguro que temos na atualidade para prevenir e erradicar várias doenças infecciosas. Quanto mais pessoas estiverem vacinadas, maior é a chance de impedir a disseminação de vírus e bactérias potencialmente fatais. Vacinar salva vidas”, declara a infectologista.

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