Vacina injetável para poliomielite: o que você precisa saber

O esquema vacinal contra o vírus da poliomielite (pólio ou paralisia infantil) foi atualizado no Brasil e a imunização por gotinhas deixará de existir a partir de novembro. A “vacina oral poliomielite” (VOP) vai sair do calendário nacional e deixar espaço para a “vacina inativada poliomielite” (VIP), a injetável que continua sendo a mesma de antes, sem mudanças na composição. A mudança atende a uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS)

Até então, o Programa Nacional de Imunização previa uma sequência de doses que incluía as vacinas injetáveis em bebês aos 2, 4 e 6 meses, e duas doses de reforço da oral (gotinha) aos 15 meses e 4 anos. A partir de agora, as duas doses de reforço serão substituídas por uma única dose da VIP, aos 15 meses.

O que é a poliomielite e quais são os sintomas

A poliomielite é uma doença altamente infecciosa que ataca o sistema nervoso, podendo levar à paralisia total. O vírus é transmitido de pessoa para pessoa por via fecal-oral e, menos frequentemente, pela água ou alimentos contaminados. Crianças menores de cinco anos estão mais vulneráveis ao vírus.

A infectopediatra do Sabará Hospital Infantil, Flávia Jaqueline Almeida, explica que, ao entrar no organismo, o vírus se multiplica nas mucosas da boca, garganta e no intestino. Em seguida, pode se espalhar pelo corpo, causando infecções na medula espinhal e no cérebro.

Os sintomas mais frequentes são febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, constipação, espasmos, rigidez na nuca, meningite. Na forma paralítica, ocorre a instalação súbita de deficiência motora, acompanhada de febre, assimetria na musculatura dos membros, em especial os inferiores.

Poliomielite no Brasil e no mundo

As consequências da doença nas crianças levaram o Brasil a um amplo esforço de vacinação. Foi neste contexto que foi criado o personagem icônico da imunização do país, o Zé Gotinha.

A boa notícia é que o último caso de pólio registrado por aqui foi em 1989. Cinco anos depois, em 1994, o País recebeu a certificação de área livre de circulação do vírus selvagem em seu território, ao lado dos demais países das Américas.

Ainda assim, com a erradicação da doença, a vacina contra a pólio ainda é importante e altamente recomendada pelas autoridades de saúde. Isto porque uma queda na cobertura vacinal pode deixar a população vulnerável à infecção pela doença, que permanece endêmica em dois países (Paquistão e Afeganistão) e, por isso, ainda há o risco de importação do vírus. Em 2022, dos 30 casos registrados no mundo, oito já ocorreram fora desses dois países, em Moçambique.

Diferença entre as vacinas da pólio

As duas vacinas contra a pólio – em gotas e a injetável – são produzidas de formas diferentes e isso influencia o modo como o organismo desenvolve a imunidade.

A vacina oral é feita com o vírus enfraquecido ou atenuado, que perde a capacidade de produzir paralisia. Ela produz imunidade de longa duração em mais de 95% dos vacinados e ativa a imunidade de mucosa (local) ao entrar em contato com as células da boca, conforme explica Flávia Almeida.

Além disso, segundo a OMS, quando uma criança toma a vacina oral, os vírus atenuados se reproduzem em seus intestinos por até seis semanas, até serem excretados. Se esses vírus entrarem, de alguma forma, em contato com outras crianças, eles poderão oferecer proteção sem o risco de desenvolver a doença, o que é chamado de imunidade de rebanho. Mas, em casos raros, esses vírus podem sofrer mutação e voltar a adquirir a capacidade de produzir paralisia. São os casos chamados de pólio derivado vacinal (PVDV).

“Apesar das suas vantagens, a VOP pode, embora raramente, causar poliomielite associada à vacina, bem como manter os poliovírus da vacina circulantes no meio ambiente ou nos intestinos dos indivíduos”, explica a infectopediatra.

Já a vacina injetável é desenvolvida a partir do vírus inativado (morto). Ao tomar essa vacina, partes do vírus são injetadas dentro do organismo do indivíduo para que o sistema imunológico ative os anticorpos que, em um futuro breve, poderão combater o vírus.

Almeida explica que a vacina injetável não causa imunidade de mucosa e nem imunidade de rebanho, o que seria uma proteção indireta para outros indivíduos ainda que não vacinados. “Por isso, se não houver alta cobertura vacinal, seu uso exclusivo pode ter maior risco de retorno da doença”, afirma.

A importância de manter a vacinação contra a pólio

Almeida destaca que o fato de a poliomielite estar erradicada há 35 anos no Brasil reforça a eficácia do programa de vacinação no país e a importância do Sistema Único de Saúde (SUS), que garante à população brasileira acesso a todas as vacinas recomendadas pela OMS sem custos.

Mas a desinformação ameaça mudar esse cenário. Há fake news espalhadas sobre falsos riscos das vacinas e disseminando a ideia enganosa de que algumas doenças desapareceram e que, por isso, as crianças não precisam ser mais vacinadas. Essas mentiras, segundo a especialistas, podem colocar em risco toda a população.

Portanto, quem tiver crianças menores de cinco anos, em especial bebês abaixo de 15 meses de vida, mantenha a vacinação sempre em dia! Consulte o cartão de vacinação para verificar se todas as doses foram aplicadas. Em caso de dúvida, dirija-se ao posto de saúde mais próximo da sua casa ou procure um médico de sua confiança.

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