Um passeio pela história das vacinas: da ordenha de uma vaca no século 18 ao imunizante de RNA contra a Covid-19

As vacinas aplicadas hoje no combate à pandemia são de três tecnologias diferentes – todas, eficazes

Em 1979, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que a varíola estava erradicada no mundo, uma conquista que só foi possível pelo emprego massivo da vacinação. Mas essa história começou quase dois séculos antes, quando o médico britânico Edward Jenner resolveu testar um dito popular de que ordenhadores não pegavam a doença. Ao aplicar num garoto o pus retirado de uma das mãos de uma camponesa, ele ativou o sistema imunológico da criança contra a varíola.

“Hoje, um procedimento como esse seria inconcebível”, afirma o médico Gustavo Lenci, cardiologista do Hospital Marcelino Champagnat, de Curitiba, e estudioso da história das vacinas. De fato, não seria admitido hoje uma experimentação tão rudimentar. De todo modo, ficou o marco histórico. Mas, principalmente, o aprendizado do princípio de estimular antecipadamente o sistema imunológico humano a se proteger contra uma ameaça futura.

Do século 18 para cá, com os avanços médicos e tecnológicos, os imunizantes se desenvolveram e se diversificaram. Depois do primeiro modelo, surgiram versões com vírus enfraquecidos, capazes de prevenir doenças como caxumba, rubéola, febre amarela e sarampo. Depois, foram desenvolvidos imunizantes com vírus inativos – isto, é mortos – ou partículas virais, capazes de prevenir males como tétano, hepatites A e B, meningite e HPV.

Mais recentemente, surgiram as vacinas de vetores virais, que “fantasiam” um vírus inofensivo com características do vírus que se deseja combater para que o organismo humano aprenda a se defender com segurança do real inimigo. E, de última tecnologia, as vacinas de RNA mensageiro estimulam a produção no corpo humano de proteínas do vírus a ser combatido. O imunizante da Pfizer, já aplicado no Brasil contra a Covid-19, faz uso dessa tecnologia. A Coronavac, por sua vez, funciona com vírus inativados. Já a vacina AstraZeneca, assim como a Sputnik e a Janssen, que também devem ser usadas no país, são produzidas com vetores virais.

São tecnologias diferentes, o que não significa que deve haver preferência do cidadão por qualquer uma delas em específico. “No contexto da pandemia, não é o caso de escolher. Se quisermos voltar à normalidade, é preciso que o máximo de pessoas seja vacinado o mais rápido possível”, ressalta Gustavo Lenci. Todas as vacinas aplicadas hoje contra a Covid-19 no Brasil foram exaustivamente testadas e são consideradas seguras e eficazes.

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