Terapia celular: reforço no tratamento de casos graves de covid-19

Um estudo brasileiro apresenta resultados preliminares animadores para o tratamento da insuficiência respiratória aguda causada pelo coronavírus. Iniciado em Salvador, no Centro de Biotecnologia e Terapia Celular do Hospital São Rafael, o trabalho é fruto de muitos anos de pesquisa e envolvimento de dois grupos de pesquisa de referência na área de medicina regenerativa no Brasil, um liderado pelo médico Bruno Solano, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e outro comandado pela médica Patrícia Rocco, do Laboratório de Investigação Pulmonar do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ.

O poder das chamadas células tronco mesenquimais (MSCs) no tratamento de doenças oncológicas, medulares, degenerativas, entre outras, já é amplamente conhecido: com capacidade de autorrenovação e diferenciação, elas se transformam em diferentes células que compõem tecidos do corpo. Agora,  também podem representar uma esperança para o tratamento de pacientes com quadros graves de covid-19. O Saúde da Saúde conversou com o médico Bruno Solano sobre a pesquisa:

O que são as MSCs?
 
Bruno Solano – São células-tronco que podem ser obtidas de tecidos adultos, como a medula óssea e o tecido adiposo, ou perinatais, como o tecido do cordão umbilical. Estas células têm propriedades terapêuticas pois são capazes de reconhecer e responder a ambientes de lesão, estimulando o controle da inflamação e processos de regeneração e reparo. Suas ações decorrem do conjunto de moléculas e das vesículas extracelulares que essas células liberam no ambiente lesionado. Podemos utilizar terapeuticamente tanto as células como as vesículas, que carregam mediadores importantes para a resolução da inflamação e ativação de processos de reparo.
Como poderiam ser úteis em males decorrentes da pandemia?
Acreditamos que a administração de MSCs e vesículas possa ter um papel no tratamento dos casos graves da covid-19, com hiperinflamação e lesão no tecido pulmonar, além de comprometimentos sistêmicos. Dados preliminares têm demonstrado a capacidade de imunomodulação dessas células e no controle de marcadores de resposta inflamatória. Elas também exercem atividade anti-fibrose e podem contribuir para a recuperação dos pacientes com danos pulmonares decorrentes da covid-19 e do tempo prolongado de ventilação mecânica.
Qual é o formato da pesquisa? 
A primeira etapa foi um estudo piloto envolvendo dez pacientes, que já foi finalizado. Estamos agora na etapa de análise de dados. Os pacientes receberam as MSCs em diferentes doses com foco no monitoramento de segurança e na evolução clínica dos pacientes. Os dados deles são acompanhados pela Anvisa.
Quais são os possíveis riscos e efeitos colaterais envolvidos? 
O maior temor da injeção de MSCs por via endovenosa é o risco de indução de coagulação e eventos tromboembólicos, que podem ser minimizados com o uso de anticoagulação, com o adequado controle de qualidade do processo de produção das células e com a utilização de doses seguras.
Em caso de eficácia comprovada, em quanto tempo o tratamento estará disponível para pacientes fora da pesquisa?
Tudo dependerá primeiro do cumprimento do processo regulatório e da comprovação de segurança e eficácia do tratamento. Caso os resultados sejam positivos, tenho certeza de que não haverá dificuldade em buscar parcerias para viabilizar a terapia para um maior número de pacientes.
Será um tratamento caro? 
Trata-se de um produto terapêutico de alta complexidade e, portanto, o custo de produção em boas práticas é elevado. No entanto, espera-se que ocorra uma redução de custo com o ganho de escala de produção, caso a terapia venha a ser amplamente disponibilizada.

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