Robôs de alta precisão e inteligência artificial na análise de imagens estão na vanguarda do combate ao câncer
O avanço da tecnologia tem se tornado um grande aliado no tratamento de diversos tipos de câncer. Além de contribuírem para diminuir os efeitos colaterais, representam também maior rapidez para os tratamentos disponíveis e melhoria na qualidade de vida após o diagnóstico.
No Brasil, já podemos contar com robôs de alta precisão para radioterapias em locais de difícil acesso, assim como equipamentos que fazem uso da inteligência artificial para ajudar na identificação de sinais e sintomas. Nos exames clínicos, pesquisas avançam para encontrar formas acessíveis de identificar marcadores de câncer presentes no sangue.
“No futuro, os exames preventivos poderão incluir uma simples coleta de sangue para monitorar como está a saúde e se há presença de células cancerígenas no corpo”, explica Paulo Hoff, presidente da Oncologia da Rede D’Or e diretor geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.
Esses avanços surgem em hora propícia para somar na luta contra a doença que coloca o Brasil entre os países emergentes que mais registram aumento de casos de câncer. Para se ter uma ideia, em 2006 foram registrados cerca de 400 mil diagnósticos, enquanto que em 2022 foram mais de 700 mil, segundo os dados mais recentes divulgados pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Diagnóstico
No campo do diagnóstico, a tecnologia contribui para identificação cada vez mais precoce da doença – o que é um dos pilares fundamentais para um tratamento eficaz. Equipamentos de tecnologia avançada se tornam aliados nos exames preventivos como Papanicolau, colonoscopia, mamografia e outros, para quem tem suspeita de câncer.
A Inteligência Artificial (IA) é outro diferencial, que pode auxiliar o médico no diagnóstico por meio de Raio-X. Com a IA é possível ensinar a máquina a identificar e mostrar quando há algo suspeito, comparando imagens de células saudáveis com áreas em investigação. Mas o diagnóstico só é fechado após a análise de um especialista.
Outra evolução está na investigação molecular do câncer, com o sequenciamento genético dos tumores em busca de alterações que possam indicar tratamentos direcionados e específicos, segundo o oncologista clínico titular do Hospital Sírio-Libanês, de Brasília, Gustavo Duarte Ramos Matos.
Quem descobre o câncer mais cedo tem maiores chances de cura. “Isso em qualquer idade, independentemente da pessoa ter 40 anos ou 80 anos.”, explica Hoff. Portanto, “sintomas novos devem ser investigados”, diz Matos.
Tratamento
No campo do tratamento da doença, também há diversas inovações em curso. Por exemplo: segundo Hoff, no caso de câncer gastrointestinal, já há robôs que permitem uma cirurgia mais eficiente, com cortes menores e recuperação mais rápida.
Outra novidade é um equipamento de radiofrequência com agulhas posicionadas para transmitir uma grande carga elétrica em uma área concentrada de câncer. A precisão alcançada no procedimento faz com que as células normais do entorno não sejam afetadas. “A radiofrequência leva a uma alteração na membrana tumoral das células, o que provoca a morte do câncer”, explica presidente da Oncologia da Rede D’Or.
Casos de câncer entre os mais jovens
O câncer ainda é mais prevalente na população idosa, mas pesquisas recentes apontam uma nova tendência nas estatísticas. Em 30 anos, os casos de câncer em pessoas abaixo de 50 cresceram 79% em todo o mundo. A estimativa é que, até 2030, haverá um aumento de 31% nas mortes por câncer nesta parcela da população, sendo a faixa etária dos 40 anos a mais afetada. O estudo foi publicado no periódico científico The BMJ (The British Medical Journal, na sigla em inglês).
Hoff afirma que as causas do câncer são multifatoriais e estão inseridas em um contexto de longo prazo, já que a doença leva de 10 a 20 anos desde o desencadeamento até se manifestar.
Entretanto, o aumento dos casos em pessoas mais jovens pode estar atrelado à mudança no estilo de vida, que se tornou mais urbana, afetando hábitos alimentares e deixando a população mais exposta a gases poluentes e vírus. Hoje, as pessoas estão consumindo menos frutas e verduras e têm maior acesso a produtos industrializados ultraprocessados.
Além disso, os deslocamentos nas cidades ocorrem em sua maioria com veículos motorizados, tirando o movimento diário do corpo e aumentando o sedentarismo – e já se sabe que as atividades físicas melhoram a imunidade e evitam processos inflamatórios no corpo.
Outro fator é a poluição das cidades e o fato de que a exposição a esses gases também pode contribuir para o desenvolvimento do câncer. E, segundo Hoff, também vivemos um contexto de maior liberdade sexual, que pode expor a população a vírus ligados ao câncer, como o HPV, Herpes e as Hepatites B e C.
Outros hábitos de vida também estão ligados ao surgimento de alguns tipos de câncer. Entre eles, o oncologista Gustavo Matos destaca que uma dieta pobre em fibras e rica em carnes vermelhas está relacionadas a tumores do cólon, e o sedentarismo, a cânceres de próstata e mama. Além disso, relembra a já conhecida relação entre cigarro e cânceres do aparelho respiratório e digestivo alto.
Segundo Paulo Hoff, pesquisas recentes indicaram também que o uso não controlado de vitamina A, se feito por fumantes, pode elevar os riscos de câncer no pulmão. E incluiu na lista de relações o aumento no consumo de hormônios (como aqueles usados por atletas e fisiculturistas) que podem estar atrelados ao câncer, especialmente quando o uso não é acompanhado por médicos especialistas.
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