Setembro Verde: conscientização é o primeiro passo para diminuir a espera por um transplante no Brasil

O mês de Setembro é dedicado à conscientização sobre a importância da doação de órgãos, um ato generoso que pode salvar vidas. Apesar da importância do tema, essa ainda é uma decisão que causa dúvidas e insegurança em muita gente, o que acaba refletido nas taxas de recusa familiar. De acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), esse número flutua em torno de 40% nos últimos dez anos.

Com isso, a fila do transplante só aumenta. Segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, mais de 68 mil pessoas aguardam por uma doação e este é o número mais alto em 15 anos no país. Ao mesmo tempo, há também uma boa notícia: em 2023, a taxa de doadores efetivos no Brasil foi a mais alta desde 2016 – 19,9 pmp (por milhão de pessoas). Ou seja, ainda é possível avançarmos para melhorar todo esse cenário.

Por isso, iniciativas como o Setembro Verde e o Dia Nacional da Doação de Órgãos (27 de setembro) são tão relevantes. É necessário investir em ações para sensibilizar a população sobre o tema e promover discussões para sanar dúvidas e esclarecer sobre os procedimentos envolvidos nos processos de doação e transplante. Ainda há muito trabalho a ser feito, mas graças a medidas como essas, o Brasil hoje ocupa o quarto lugar no mundo em número de transplantes de rim, por exemplo, segundo o RBT.

Para que essa conquista também seja alcançada em outros tipos de doações, é importante manter a população munida de informações como: que as pessoas saibam como funciona a doação e o transplante de órgãos; quem decide se uma doação poderá ser feita; qual o nível de segurança dos procedimentos; quem pode doar; e qualquer outra dúvida em relação ao assunto. Além disso, é fundamental que as pessoas que desejam se tornar doadoras tenham conversas claras sobre esta decisão com seus familiares e amigos mais próximos. Essa atitude facilita que, em um momento de muita dor e sofrimento, esta seja uma decisão consciente e mais fácil de ser tomada.

Neste Setembro Verde, você pode conferir aqui no Saúde da Saúde algumas das principais perguntas e respostas sobre o assunto. 

Quem pode doar e em qual situação?

Existem 2 tipos de doadores de órgãos: doador em vida e doador falecido.

Doador em vida: pessoa saudável que doa um órgão ou tecido sem comprometer sua própria saúde. Requer avaliação médica e autorização judicial.

Doador falecido: pessoa com diagnóstico de morte encefálica (perda irreversível de todas as funções cerebrais). Ocorre apenas em ambiente hospitalar.

Como é o processo de autorização de doação?

A Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, estabelece que é necessário autorização expressa da família para que seja feita a “retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica”. Dessa forma, é preciso a autorização do cônjuge ou parente maior de idade, obedecida a linha sucessória até o segundo grau, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.

Há custos para a família ou para o doador?

Não há custos nem compensação financeira.

Quem não pode ser doador?

Pessoas com tumores malignos (com algumas exceções), doenças infecciosas graves e algumas doenças infectocontagiosas. A equipe de transplante avalia cuidadosamente cada caso para definir a viabilidade da doação.

Como é diagnosticada a morte encefálica?

Os critérios médicos são rigorosos. Este é um diagnóstico preciso e irreversível, diferente do coma, e que envolve exames clínicos repetidos com intervalo de horas, além de exames complementares.

Quais órgãos e tecidos podem ser doados?

Doador vivo: rim, medula óssea, parte do fígado, parte do pulmão (em casos excepcionais).

Doador falecido: coração, pulmões, fígado, rins, pâncreas, córneas, intestino, pele, ossos, válvulas cardíacas.

O que acontece após a autorização da doação de pessoa falecida?

Primeiro, são feitos exames de sangue para avaliar a presença de doenças infecciosas e a função dos órgãos. Em seguida, uma equipe médica especializada realiza uma avaliação dos órgãos do doador para determinar a viabilidade para o transplante. Concluída essa etapa, o doador é encaminhado para a cirurgia de retirada dos órgãos. Por fim, após a remoção dos órgãos doados, é feita a reconstituição cuidadosa do corpo do doador, assegurando que sua aparência seja preservada para o velório e sepultamento, respeitando a dignidade do doador e os sentimentos da família.

Como funciona o sistema de captação e distribuição de órgãos?

Inicialmente, a Central de Transplantes recebe uma notificação sobre um potencial doador. Em seguida, uma Organização de Procura de Órgãos (OPO) é acionada para realizar uma avaliação minuciosa, incluindo história clínica e exames laboratoriais. A partir dessa avaliação, a Central seleciona receptores compatíveis, considerando fatores como tipo sanguíneo, compatibilidade genética e urgência médica. Por fim, as equipes de transplante são informadas sobre os órgãos disponíveis e os potenciais receptores, cabendo a elas a decisão final sobre a viabilidade do transplante.

Como funciona a lista de espera para transplantes?

A lista de espera para transplantes é uma lista única e nacional, organizada por tipo de órgão. Os critérios para determinar a ordem dos pacientes incluem o tempo de espera, a gravidade da condição, a compatibilidade sanguínea e genética. Em alguns casos, as crianças podem ter prioridade.

Como é o acompanhamento de um paciente que recebeu um órgão transplantado?

Após o transplante, o paciente precisa de acompanhamento médico contínuo para monitorar a função do novo órgão e prevenir rejeição. Isto inclui o uso de medicamentos imunossupressores, exames regulares e consultas frequentes à equipe médica responsável.

Rim, o órgão que lidera a lista de transplantes no Brasil

Enquanto órgãos como rim, fígado e coração são os mais transplantados no Brasil, de acordo com o Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, outros como pâncreas e o pulmão apresentam números bem mais baixos. Os dados oficiais apontam que o órgão mais transplantado em 2023 foi o rim, com 6.208 cirurgias realizadas. Em seguida, vem o fígado, com 2.416 transplantes, e o coração, com 430. No caso de tecidos, os transplantes de córnea também registraram números expressivos, com 16.027 procedimentos realizados. Já pâncreas e pulmão são apenas 26 e 81, respectivamente.  

Os transplantes no Brasil são realizados, em sua maioria, por hospitais da rede pública. No entanto, a rede privada também possui centros especializados, como os hospitais Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, e Samaritano Higienópolis, em São Paulo. A instituição carioca, por exemplo, é uma das poucas que estão aptas a fazer transplantes de pulmão, realizados em apenas três estados: Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro.

Habilitado desde 2021 a fazer esse tipo de transplante, o Pró-Cardíaco precisou treinar uma equipe multidisciplinar composta por cirurgiões, pneumologistas, enfermeiros e fisioterapeutas, além de outros profissionais da saúde. De acordo com Dominique Thielmann, diretora médica do hospital, a instituição está se preparando para aumentar gradualmente o volume de procedimentos. “A expectativa é que o hospital expanda essa capacidade à medida que a linha de cuidado em pneumologia se consolida”, afirma.

Segundo a diretora, a continuidade do cuidado pós-transplante é uma medida prioritária, especialmente no caso dos transplantes combinados, como coração-rim, em que as insuficiências orgânicas avançadas são tratadas. “Acompanhando estes casos, observamos que, após toda a complexidade que envolve o ato cirúrgico e a recuperação inicial, os pacientes alcançam excelente qualidade de vida, sendo reinseridos nos seus ambientes de trabalho e familiar”, afirma.

Paralelamente, o Hospital Samaritano Higienópolis se destaca nos transplantes pediátricos, como os de Medula Óssea (TMO) e o renal, além do transplante hepático pediátrico, principalmente em crianças de baixo peso. No total, entre todos os tipos, desde 2009 já foram realizados 1.580 procedimentos, sendo 777 em adultos e 803 em crianças.

Para que esses resultados fossem possíveis, o primeiro passo foi a conscientização sobre a importância da doação de órgãos. Consulte, leia e compartilhe a informação: a vida de mais de 68 mil pessoas ainda depende disso. Dê uma chance à vida!

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