Setembro Amarelo: como pedir e oferecer ajuda

Neste ano, a campanha de prevenção ao suicídio Setembro Amarelo, que acontece desde 2013, tem como lema “Se precisar, peça ajuda!”. A ideia é trabalhar na prevenção desse problema que ainda é visto como tabu e que se tornou uma questão de saúde pública, necessitando de mobilização e engajamento da sociedade como um todo em uma abordagem sem preconceito nem estigmas.

A campanha chama à conscientização sobre a importância da vida e busca colocar luz sobre questões que se mostram fundamentais nessa luta: segundo as entidades que encabeçam o movimento – Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Conselho Federal de Medicina (CFM), praticamente 100% dos casos de suicídio estavam relacionados às doenças mentais, sobretudo não diagnosticadas ou tratadas incorretamente.

Isso quer dizer que a maioria poderia ter sido evitada por meio do acesso a tratamento psiquiátrico e informações de qualidade, por exemplo, sobre como procurar ou oferecer ajuda.

O psiquiatra José Marcelino da Silva Garcia, da Unidade de Saúde Mental do Hospital Dona Helena, de Joinville (SC), explica que é fundamental que a pessoa que está sofrendo consiga identificar a necessidade de buscar auxílio o mais cedo possível, antes que a situação piore e que o quadro fique mais difícil de ser tratado. “Sempre que a pessoa apresentar uma ideação suicida, mesmo que ela não esteja planejando ativamente tirar a própria vida, ela deve procurar um profissional capacitado – psicólogo ou psiquiatra. Há sinais anteriores ao suicídio que demostraram um quadro de esgotamento ou um quadro de depressão, por exemplo.”

No mundo todo, mais de 700 mil casos de suicídio são registrados por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – mas estima-se que essa taxa possa chegar a 1 milhão, já que nem todos os episódios são notificados oficialmente. No Brasil, ocorrem cerca de 14 mil casos anuais (ou 38 por dia). E, nas Américas, ao contrário de outras regiões, os índices mostram que as taxas estão aumentando.

Abaixo, veja respostas às seguintes perguntas sobre suicídio:

  • Como pedir ajuda?
  • Como oferecer ajuda ao paciente?
  • Existem fatores de risco?
  • Como prevenir?

Como a pessoa que está sofrendo pedir ajuda e evitar o suicídio?

O psiquiatra José Marcelino da Silva Garcia descreve que pessoas com tristeza muito intensa, sensação de invalidez, dificuldade para executar atividades do dia a dia ou em isolamento social precisam procurar ajuda. É o caso de alguém que não consegue levantar da cama não por preguiça, mas por essa tristeza intensa.

“Sempre que esses sintomas aparecem, quando os sentimentos estão tendo impacto negativo nas atividades diárias, nós nos preocupamos. Como quando a pessoa não consegue levantar para trabalhar ou quando a vontade de ficar sozinho é tão grande, que a pessoa não sai com os amigos”, afirma o psiquiatra.

Como oferecer ajuda a quem corre risco de suicídio?

Reconhecer alguém que esteja precisando de ajuda não é uma tarefa muito fácil. Um dos caminhos é se atentar aos discursos e tentar perceber se há algo relacionado ao desinteresse pela vida. Se sim, é sinal de alerta vermelho.

“Precisamos lembrar que a depressão e os transtornos de humor, de maneira geral, têm várias outras exacerbações de sentimentos, que não só a tristeza. Pode ser irritabilidade, ansiedade intensa…”, explica Garcia. “Tudo isso pode nos ajudar a perceber que a pessoa está passando por um sofrimento mental e precisa de ajuda o quanto antes. Precisamos ficar atentos a essas oscilações de humor, principalmente se forem muito intensas.”

Não é preciso, portanto, esperar que alguém peça ajuda, mas é possível, e recomendável, agir antes. “Se tenho um parente ou amigo e noto que ele não está bem, que tem muita coisa acontecendo e que as oscilações de humor são grandes, que ele está sempre muito triste, sempre abatido e não é mais quem costumava ser, preciso ativamente ir até ele. Preciso sentar, conversar e perguntar se precisa de ajuda”, diz o psiquiatra.

O especialista dá algumas dicas, como evitar qualquer abordagem em público, próximo de outros amigos e conhecidos. E talvez seja até o caso de tomar à frente e procurar ajuda profissional para a pessoa. “Às vezes não sabemos bem o que fazer, mas se conseguirmos falar ‘marquei uma consulta para você’ isso já é muita coisa.”

Existem fatores de risco para o suicídio?

Na cartilha “Suicídio – Informando para prevenir”, o CFM menciona dois fatores de risco principais:

  • Tentativa prévia de suicídio;
  • Transtornos mentais, como depressão, transtorno bipolar, dependência de álcool ou outras drogas e transtornos de personalidade.

O material cita ainda fatores adicionais, como:

  • Aspectos psicológicos (como perdas recentes; baixa resiliência; personalidade impulsiva, agressiva ou de humor instável; histórico de abuso físico ou sexual na infância; sentimento de desesperança, desespero ou desamparo)
  • Aspectos sociais (como desemprego, isolamento social, populações vulneráveis)

“O suicídio, em si, é multicausal e depende, no mínimo, de fatores sociais, econômicos e orgânicos. Tem o adoecimento psiquiátrico, mas tem outras causas que influenciam para que isso ocorra”, afirma Garcia.

Em diferentes populações, diferentes fatores podem influenciar, como a questão de renda, por exemplo. Por outro lado, ressalva o psiquiatra, há países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto que também têm taxas elevadas de suicídio. “Não existe exatamente uma regra”, diz.

Como o suicídio pode ser prevenido em âmbito público?

A OMS indica que o estigma social e a falta de sensibilização continuam a ser grandes barreiras para quem procura ajuda, e lista quatro medidas preventivas principais baseadas em evidências:

  • Restrição do acesso a meios para se cometer suicídio, como armas de fogo;
  • Investimento em políticas de saúde mental, com informações sobre tratamento, locais de apoio etc.;
  • Investimento em políticas públicas para redução do consumo de álcool ou outras drogas;
  • Atuação adequada da imprensa ao noticiar casos de suicídio – cobertura responsável, sem sensacionalismo ou descrições detalhadas do método utilizado para que não sirva de “gatilho” ou “incentivo”.

Sobre as políticas de saúde mental, o médico José Marcelino da Silva Garcia identifica a importância de se fornecer informação de qualidade para incentivar a busca por um profissional habilitado. “Isso reduz as taxas de suicídio de forma considerável e a pessoa tem que ter portas abertas para chegar a um local adequado e ser atendida prontamente.”

O psiquiatra menciona ainda a importância de o poder público tomar ações práticas, como a instalação de guarda-corpos ou telas de proteção em pontes ou prédios, por exemplo. “Mudanças estruturais simples, como essas, são muito necessárias, por que talvez faça com que a pessoa repense a atitude.”

Em relação ao consumo de álcool e drogas, Garcia explica que esses hábitos podem representar um tipo de escape para algumas pessoas que estão em sofrimento mental, o que pode acabar gerando outro malefício ou tentativa de autoextermínio.

Matérias
relacionadas