Em época de fim de ano, é comum fazer planos para o ano que vem chegando e, entre eles, sempre está o objetivo de ter uma vida mais saudável. Mas, afinal, o que é ser saudável?
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Ou seja, vai além de não estar doente.
As definições podem ser muito amplas e não tão palpáveis, mas o importante é entender que podemos reduzir os riscos de adoecimento por meio de hábitos e atitudes simples, mas que promovem bem-estar e podem contribuir para nossa longevidade.
“Definiria uma vida saudável como poder realizar o melhor possível para si mesmo, para sua família, para a sociedade, independente das limitações físicas existentes”, declara o médico cardiologista Pedro Paulo Nogueres Sampaio, coordenador da Cardiologia do Hospital Samaritano Botafogo, rede Americas no Rio de Janeiro.
Já a médica endocrinologista Fernanda Della Santa, do Real Hospital Português de Pernambuco, acredita que o foco para uma vida saudável deve estar em buscar equilíbrio entre boas condições físicas, psíquicas e emocionais. Para isso, “é importante ficar atento à alimentação, praticar exercícios físicos, evitar o estresse e ter boa qualidade de sono”, orienta.
O médico psiquiatra Clóvis da Silva Melo Júnior, do Hospital Vila Verde Saúde Mental, de Minas Gerais, diz ainda que ter uma vida saudável está ligado à capacidade de lidar com as demandas do dia a dia e gerenciá-las bem, construindo projetos de vida e desenvolvendo habilidades sociais.
Confira abaixo os cuidados com o corpo e a mente para ter uma vida saudável, segundo orientação dos especialistas.
Atenção ao corpo
Os médicos são unânimes em afirmar que a decisão de ser saudável está nas atitudes simples do dia-a-dia. “Não há necessidade de exames caros, tratamentos mirabolantes ou abdicações de todos os ‘prazeres’ da vida. O segredo está na moderação e na busca por atitudes amplamente conhecidas, como a prática regular de atividades físicas, controle do peso, rastreio e tratamento dos fatores de risco clássicos das doenças cardiovasculares e, literalmente, ‘separar’ aquele momento do seu dia, da sua semana, do seu ano, para cuidar de você”, afirma o cardiologista Pedro Paulo Sampaio.
A endocrinologista Fernanda Della Santa reforça a importância do hábito alimentar saudável. “Para se ter saúde, tem que se manter uma dieta equilibrada, com boa ingestão de lipídios, carboidratos e proteínas”, declara.
Alcançar esse equilíbrio traz impactos positivos nas funções da tireoide, que é a glândula que produz hormônios que agem no metabolismo, nos bons níveis de glicemia (quantidade de açúcar no sangue), de colesterol (gordura), de densidade dos ossos, além de boa função renal (quando os rins conseguem filtrar os fluidos do organismo), boa função ovariana e testicular, com a produção dos hormônios femininos masculinos.
Aliado à alimentação, o exercício físico complementa o cuidado com o corpo para manter a saúde. Ele ajuda a equilibrar o bom colesterol e os níveis de triglicérides – os dois, relacionados à gordura no corpo – e também de glicose (açúcar).
Além disso, se exercitar impacta na produção de hormônios, segundo o que explica Della Santa, controlando o nível de cortisol, o hormônio do estresse. “Esse hormônio em excesso pode aumentar os níveis de pressão arterial e também os níveis glicêmicos [açúcar]”, diz.
Para gerenciar o estresse, a médica endocrinologista recomenda uma boa noite de sono e a prática de exercícios regulares, além de atividades como ioga e medidas de lazer, como caminhar na praia, ir a parques, massoterapia e meditação.
Atenção à mente
A saúde mental vem ganhando destaque nos últimos anos, em especial após a pandemia de Covid-19, que levou ao isolamento de muitas pessoas para controlar a disseminação do vírus. Recentemente, a OMS declarou que a solidão é um problema de saúde pública, porque está relacionada a quadros de depressão, suicídio e outras doenças psiquiátricas.
O psiquiatra Clóvis da Silva Melo Júnior, do Hospital Vila Verde, destaca que o bem-estar psicológico está diretamente ligado a como os indivíduos vivem suas vidas de acordo com a sua natureza, ou seja, seguindo as suas características pessoais.
Os principais indicadores desse bem-estar incluem autonomia, crescimento pessoal, auto aceitação, propósito de vida e relacionamentos positivos com os outros. “Esses indicadores apontam para perspectivas de autorrealização dos indivíduos, para capacidade de funcionamento, de desenvolvimento de confiança, empatia, autonomia, e para a obtenção de um senso de direção e seleção”, explica.
Ele destaca ainda que é importante considerar que a vida tem altos e baixos, e que o importante é responder a esses desafios de forma equilibrada, pedindo ajuda sempre que preciso.
Como exemplo, Melo Júnior cita que sempre conversa com os pacientes sobre a dinâmica da vida, que inclui momentos de ansiedade, tristeza e desânimo. “Uma saúde mental equilibrada pode significar compreender e aprender a lidar com esses sentimentos, entender que temos limites e que não somos perfeitos”, diz. Além do estado psicológico, a saúde mental também está ligada a fatores sociais, como emprego, moradia, e segurança, conclui o médico.
Para o cardiologista Pedro Sampaio, o importante é buscar ser a melhor versão de si mesmo para ter saúde, independentemente de doenças prévias, dificuldades ou outras limitações que a vida impõe. “É sempre possível melhorar a saúde. Quem tem uma doença pode também buscar ser saudável, por mais paradoxal que seja essa afirmação. Não precisamos buscar um corpo ou um exame de sangue invejável, mas sim uma vida feliz. Nosso ‘dever de casa’ é não maltratar o nosso corpo, nosso meio ambiente e nossa sociedade”, declara o médico.