Evitar o esgotamento profissional é um trabalho coletivo — e que começa nas lideranças. Conheça os cuidados e dicas

O Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho (28 de abril) é um convite e um reforço para a necessidade de repensarmos a saúde mental no ambiente corporativo. Se antes o burnout era pouco comentado, hoje ele já é reconhecido como uma síndrome ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com o reconhecimento da doença e a popularização do debate sobre sua importância e gravidade, o desafio agora é outro: como empresas e lideranças podem evitar que o esgotamento aconteça?
Para responder a essa pergunta, convidamos Silvia Cury, gerente de Saúde Mental do Hcor, que trouxe reflexões importantes e dicas sobre o cuidado com a saúde mental no ambiente de trabalho. Mais do que oferecer benefícios pontuais, ela defende que a prevenção do burnout exige uma mentalidade que precisa estar na estrutura e na cultura da empresa.
Saúde mental no trabalho começa com uma cultura saudável
Para que uma empresa seja saudável, é preciso que seus líderes estejam atentos e realmente preocupados com seus colaboradores. Essa tarefa pode se encaixar naquele ditado clássico: “fácil de falar, difícil de fazer” — mas separamos alguns pontos que podem, de fato, evitar problemas de saúde mental no trabalho:
- O primeiro passo é mapear os fatores de risco. Isso pode ser feito observando atentamente os comportamentos no dia a dia, usando canais de denúncia e ouvindo os times por meio de avaliações, também chamadas de feedbacks.
- Criar um espaço seguro, onde todos se sintam à vontade e tenham confiança para falar e escutar, faz toda a diferença.
- Cury reforça a importância de oferecer suporte psicológico e ter uma área focada no bem-estar, com ações preventivas e escuta ativa.
“A empresa precisa ter, além da medicina ocupacional, uma área que cuide do colaborador preventivamente, incluindo, nesse cuidado, atenção psicológica, psiquiátrica, entre outras”, explica.
O papel da liderança na prevenção do burnout
Segundo a psicóloga, é essencial que líderes saibam acolher com empatia e estejam abertos ao diálogo, especialmente em casos de burnout.
A ideia é que a equipe se sinta segura para pedir ajuda. Por isso, o gestor deve evitar julgamentos e garantir que a pessoa possa se cuidar, sem pressão ou exposição desnecessária.
Além disso, é papel da liderança olhar para dentro e entender o que pode estar contribuindo para o estresse: metas fora da realidade, excesso de tarefas ou até o jeito como as pessoas se relacionam no dia a dia. Pequenos ajustes nesses pontos podem fazer uma grande diferença na saúde de todos.
Como lidar com o restante da equipe quando alguém está doente?
Em casos de afastamento de alguém da equipe por motivos de saúde mental, é natural que surjam dúvidas sobre como lidar com isso na rotina.
A dica da psicóloga é simples: nada de fofocas ou comentários do tipo “tá fazendo corpo mole”. Afinal, isso só reforça preconceitos, inseguranças e pode piorar o clima no ambiente de trabalho. “Quando o colega está doente, seja do que for, é importante não expô-lo diante da equipe”, reforça Cury.
A construção de um ambiente saudável começa pelo respeito e pela empatia. Entender que todo mundo pode passar por momentos difíceis e reconhecer a vulnerabilidade do colega é o coração de uma boa cultura empresarial.
“Caso o líder enfrente um caso de burnout, ele precisa, primeiramente, incentivar que as pessoas de sua equipe não tenham medo de buscar ajuda com ele. Ele deve ser acolhedor e evitar estigmatizar o colaborador”, explica a psicóloga.
Quais são os sinais que a gestão precisa observar para evitar casos de burnout?
Uma cultura que promove a saúde mental começa com atenção e reconhecimento de que algo não vai bem. Alguns fatores que levantam a bandeira vermelha e merecem atenção são:
- Gestão autoritária ou tóxica;
- Falta de feedbacks adequados;
- Sobrecarga de tarefas e metas inalcançáveis;
- Ausência de segurança psicológica – como o medo de cometer erros por falta de suporte da liderança, clima de competição e falta de empatia e compreensão entre os membros da equipe;
- Casos de assédio ou desrespeito.
Esses fatores não necessariamente levam ao burnout, afinal, o adoecimento depende de aspectos e contextos pessoais. Porém, ambientes acolhedores e empáticos ajudam a prevenir esse tipo de doença.
Cuidar da saúde mental no trabalho é cuidar do futuro
Saúde mental e trabalho podem estar no mesmo lugar, sim. E isso não é um mimo ou um luxo — é essencial.
Quando as empresas investem em escuta, bem-estar e segurança emocional, os resultados aparecem: equipes mais motivadas, produtivas e com menos rotatividade.
No fim das contas, trabalhar com pessoas é, também, entender que, antes de qualquer cargo, somos humanos.
Neste Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, fica o lembrete: ambientes seguros vão além da prevenção de acidentes físicos — eles também cuidam da saúde emocional de quem faz a empresa acontecer todos os dias.
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