Quando dizemos que a saúde começa pela boca, não é exagero. A boca faz parte de dois dos nossos sistemas, o digestório e o respiratório, e é a maior cavidade do corpo a ter contato com o meio ambiente. Ou seja, é uma porta de entrada para bactérias e outros micro-organismos. Por isso, a boa higiene bucal pode prevenir uma série de doenças.
Para a dentista Leila Lana Miranda, do Centro de Odontologia Integrada (COI) da Fundação São Francisco Xavier, a falta de higiene adequada pode levar desde a uma dor de dente até uma infecção, que pode se espalhar pelo corpo, causando quadros mais graves – e, sem tratamento, pode até levar à morte.
“Ter saúde bucal é ter os dentes livres de cáries, doença periodontal e lesões em mucosa. Importante também que o paciente tenha conforto durante a mastigação, deglutição e fala. Para isso, são necessárias higienização diária eficiente, alimentação saudável, ingestão de líquidos em quantidade adequada e visita regular ao dentista”, afirma.
De acordo com a última edição da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE (2019), 34 milhões de brasileiros, com mais de 18 anos, já perderam 13 dentes ou mais – e 14 milhões de pessoas perderam todos. Ainda segundo o levantamento, menos da metade dos brasileiros consultou um dentista nos 12 meses anteriores à entrevista.
Um dos quadros mais preocupantes de uma má higiene bucal é o agravamento de doenças sistêmicas relacionadas à boca, que são patologias que atacam o corpo como um todo. Entre elas, estão doenças cardiovasculares, periodontais e diabetes.
Uma pesquisa realizada pelas universidades federais do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, junto à Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), apontou um aumento de 132% de paradas cardíacas nos brasileiros desde o ano de 2020. Aproximadamente 36% das mortes ligadas aos problemas cardíacos têm início na saúde bucal. Dentre elas, destaca-se a endocardite infecciosa.
Miranda explica que as bactérias presentes na cavidade bucal podem circular pela corrente sanguínea e se alojarem no coração, agravando a doença cardíaca. “A doença se instala quando bactérias causadoras de cáries, gengivite e periodontite, que é a inflamação dos ligamentos e ossos que dão suporte aos dentes, penetram na corrente sanguínea, sendo levadas até uma válvula do coração ou a outra área danificada do endocárdio, onde se fixam. Esses microorganismos patogênicos se multiplicam e podem destruir a válvula e comprometer o funcionamento do coração, que passa a ter dificuldade de bombear o sangue”.
Já a doença periodontal é provocada pelo acúmulo de placa bacteriana (película pegajosa e incolor, constituída de bactérias e restos alimentares, que se forma sobre os dentes) e pode se caracterizar por gengivite – estágio em que atinge a gengiva – ou em periodontite, que é a forma mais agressiva da doença, onde atinge o osso e o ligamento periodontal.
O diabetes pode influenciar na saúde bucal e, por outro lado, as doenças da cavidade oral podem alterar a glicemia. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, a doença periodontal pode dificultar o controle do diabetes, como qualquer outra infecção, além de estar relacionada ao descontrole do metabolismo, o que também afeta os níveis de açúcar no sangue.
O cuidado diário com a boca é indispensável não só para a estética, mas para a prevenção de doenças. “É importante escovar os dentes sempre após as refeições, principalmente à noite antes de dormir, passar fio dental e visitar o dentista pelo menos uma vez ao ano. A prevenção e o diagnóstico precoce ajudam a evitar a propagação de bactérias para outras partes do corpo”, conclui a dentista.
Fonte: Fundação São Francisco Xavier