Refluxo e obesidade: conheça a relação entre as duas doenças

A obesidade no Brasil cresceu 60% em dez anos. Com isso, doenças como o refluxo gastroesofágico (DRGE) tornaram-se mais comuns segundo Rodrigo Surjan, cirurgião do Centro de Gastroenterologia do Hospital 9 de Julho. O médico afirma que um paciente obeso tem até 50% a mais de risco de ter refluxo do que uma pessoa com peso ideal, isso ocorre devido aos maus hábitos alimentares, falta de exercícios físicos, gordura em excesso, entre outros fatores.

O refluxo gastroesofágico ocorre quando o ácido estomacal retorna para o esôfago, causando irritação nas paredes do órgão. A falha acontece por uma deficiência do esfíncter, válvula entre o estômago e o esôfago. “Em pessoas obesas, essa válvula perde sua eficácia e isso causa o refluxo que, caso não seja tratado, pode levar a um câncer de esôfago, por exemplo”, explica o especialista.

Os principais sintomas do refluxo são azia, regurgitação, dor no peito, comprometimento vocal e complicações respiratórias. A azia, também conhecida como queimação, se caracteriza pelo retorno do conteúdo gástrico para o esôfago. Para evitar alguns dos gatilhos que aumentam os riscos do DRGE, Surjan listou algumas dicas: 

– Evite se deitar após comer: O ideal é ir deitar, no mínimo, após duas horas da última refeição para evitar a sensação de “comida na garganta” e permitir que o organismo complete a digestão. “Muitas pessoas jantam e vão dormir. Isso é um hábito muito comum, mas um dos principais ‘aliados’ do refluxo”, relata.

– Gravidez e obesidade: Assim como as pessoas obesas, as grávidas têm um aumento da pressão intra-abdominal, que faz com que os ácidos “subam” e causem azia e mal-estar. “Pacientes que utilizam alguns tipos de medicamentos, idosos e hérnia de hiato também são mais propensos ao refluxo. Para isso, é de extrema importância o acompanhamento médico”, esclarece o médico. 

– Mantenha uma alimentação equilibrada: O cirurgião explica que, na maioria dos casos, com a perda de peso, os episódios de refluxo diminuem. Por isso, manter uma dieta equilibrada e rica em fibras e alimentos mais leves fracionados ao longo do dia, além de evitar alimentos ácidos, bebidas alcoólicas e gasosas, café, chá mate, chá preto, chocolate, frituras e alimentos condimentados, ajuda na melhora dos sintomas da doença e, claro, na perda de peso.

Em casos mais graves, quando o paciente está com os sintomas há muito tempo ou não responde aos tratamentos comuns, o exame de laparoscopia pode ser solicitado.

Fernando Bray, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Santa Catarina, explica que o refluxo pode até atingir a boca, proporcionando inclusive alterações dentárias. “Quando a mucosa estomacal está irritada, diversas alterações acontecem e, quando a pessoa ingere substâncias ácidas ou muito gordurosas, o retorno do conteúdo pode alcançar a boca, dentes ou até laringe e os pulmões”, diz.

Surjan explica que os pilares para a mudança são a prática de exercícios físicos e a perda de peso, aliados a mudanças alimentares. “Apenas um entre três adultos consomem frutas e verduras com frequência. Outros não fazem uma refeição completa por meses. Por isso, o acompanhamento médico e a busca por uma vida efetivamente mais saudável podem sim fazer muita diferença”, finaliza.

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