Prevenção, diagnóstico e saúde mental: a importância da conscientização no Outubro Rosa

Criada na década de 1990, a campanha do Outubro Rosa pontua a importância da conscientização sobre o câncer de mama. Afinal, com o diagnóstico precoce, há 95% de chance de cura da doença, como aponta um estudo divulgado recentemente pela Faculdade de Medicina da USP. No entanto, a prevenção ainda deixa a desejar: 54% das mulheres no Brasil desconhecem a importância da mamografia, segundo uma pesquisa realizada pelo Ipec. Então, vamos conversar sobre o assunto?

A doença surge quando células começam a se multiplicar de forma anormal na mama, crescem e formam um nódulo, ou seja, um tumor maligno com potencial para se disseminar no organismo. A mamografia (um tipo de raio-x que emite baixa dose de radiação) é o método indicado – e mais eficaz – para o diagnóstico.

O Ministério da Saúde orienta que mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos realizem a mamografia anualmente. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) recomenda que o exame seja feito a partir dos 40 anos. “O que indicamos é que a mulher busque um médico especialista e discuta com ele qual melhor idade para realizar a mamografia. Cada mulher é única, algumas têm histórico familiar e existem fatores que aumentam o risco”, comenta o oncologista da Fundação São Francisco Xavier, Luciano Viana.

Com atuação na Rede D’Or São Luiz, o oncologista José Bines observa que ainda está presente na cabeça de muitas pessoas a ideia de que “quem procura, acha”. “Também vemos casos de mulheres que evitam o exame devido à dor que ele provoca ou ao medo da exposição à radiação, apesar do procedimento ser comprovadamente seguro e indicado pelos melhores especialistas como a principal forma de prevenção”, relata. O resultado é que há casos em que mulheres acabam recorrendo ao exame somente quando percebem algum sintoma, o que normalmente indica que a doença está em um estado avançado, com sérios riscos à saúde.

Diminuição na faixa de idade

Embora raro, há casos pessoas diagnosticadas com a doença bem mais cedo do que o normal. “Infelizmente o câncer de mama pode acometer mulheres em idades muito precoces, com menos de 35 anos. Percebemos hoje um aumento no número de casos mais jovens, muitas vezes relacionados a hábitos de vida: alimentação rica em gorduras, pouca atividade física, uma vida muito estressante. Isso tudo acaba trazendo não só riscos cardiovasculares, mas também propensão à formação de câncer”, diz Viana.

De fato, a incidência de câncer antes dos 50 anos tem crescido a cada geração. É o que indica uma pesquisa publicada na revista especializada Nature Reviews Clinical Oncology, feita por pesquisadores da Universidade de Harvard, que destaca o aumento da ocorrência da doença entre adultos jovens nas próximas décadas. De acordo com a publicação, esse aumento já vinha sendo detectado antes da pandemia de Covid-19, quando um levantamento da American Cancer Society, de 2019, relatou que uma em cada oito mulheres que viverem até os 75 anos terão diagnóstico de câncer de mama.

Bines explica que o histórico familiar é importante, pois entre 5% e 10% dos casos de câncer de mama ocorrem devido a uma predisposição herdada. “Quando há casos na família, é preciso ter ainda mais atenção com a prevenção”, alerta. Nesses casos, pode ser importante uma avaliação por um oncogeneticista, que vai investigar se há mutações herdadas que facilitariam o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer.”

Além disso, segundo o especialista, a radioterapia no tórax aumenta o risco de desenvolver um câncer de mama. Por isso, se a mulher tiver feito qualquer tratamento que incluiu esse procedimento, deve manter um rigoroso acompanhamento médico.

Saúde mental

Para Flávia Andrade, psicóloga do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o mais importante é entender as emoções vividas pela paciente. “O diagnóstico oncológico é sempre impactante. E pode trazer tristeza e choro, que são normais em uma situação como essa, e fazem parte do processo. Mas, caso a paciente não consiga se reorganizar para enfrentar o tratamento, pode ser necessário um suporte profissional”, esclarece a psicóloga.

O amparo de amigos e familiares é imprescindível. “É importante contar com uma rede de apoio que se coloque à disposição, tentando entender a necessidade da pessoa. Respeitar o tempo e o espaço da pessoa é fundamental”, alerta.

Outro aspecto importante é manter um diálogo aberto com o médico. “A paciente deve sempre tirar as suas dúvidas e lembrar que o médico é sua referência de informações, ou seja, evitar buscar opiniões em outros locais. Além disso, ela precisa tentar vivenciar uma etapa de cada vez, porque no tratamento oncológico o cronograma pode mudar, de acordo com a resposta de cada uma. Assim, a esperança e a confiança são fundamentais para enfrentar o processo”, aconselha.

Com relação à autoestima, especialmente a perda dos cabelos e sobrancelhas, a psicóloga orienta: “Cada uma deve buscar aquilo que a fizer sentir mais confortável, seja com a cabeça raspada, com um lenço ou com uma prótese (peruca), maquiada ou sem maquiagem. O mais importante é lembrar que, apesar do cabelo ter muito a ver com auto imagem, essa transformação é temporária. Toda mulher muda a cor do cabelo, ou o corte e continua sendo ela mesma”, diz.

Fonte: Hospital Oswaldo Cruz, Rede D’Or São Luiz e Fundação São Francisco Xavier

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