Outubro Rosa: novos medicamentos, radioterapia de precisão e IA revolucionam o tratamento do câncer de mama

Uma revolução está tomando conta do enfrentamento ao câncer de mama. No tratamento, novos medicamentos desenvolvidos para atuar em subtipos específicos trazem maior eficácia no combate à doença. Na radioterapia, aparelhos modernos são capazes de emitir raios mais potentes e focados em destruir o tumor sem afetar as células vizinhas. No diagnóstico, o uso da Inteligência Artificial ajuda a detectar alterações “finas” nos exames de imagens de mamografia. 

O avanço da ciência levou a uma abordagem multidisciplinar do tratamento do câncer, que envolve cirurgia, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e, mais recentemente, terapias biológicas ou alvos moleculares. Segundo Fernanda Leite, oncologista no A.C.Camargo Cancer Center, as inovações estão tanto no aprimoramento das técnicas já existentes (como em cirurgias menos invasivas e radiação mais precisa) quanto no desenvolvimento de medicamentos inovadores.

Apesar dos avanços, a melhor forma de combater a doença ainda é o diagnóstico precoce por meio de exames de mamografia anuais, que detectam alterações que ainda não são possíveis de se identificar por meio do apalpamento da mama. Quanto antes diagnosticado o câncer, mais fácil será de tratar.

Novos medicamentos

Para atacar a doença com precisão, é fundamental conhecer qual tipo de câncer de mama está atingindo a paciente e, desta forma, personalizar o tratamento.  

Essa forma de tratamento é chamada de terapia-alvo, que faz uso de medicamentos que bloqueiam o crescimento das células cancerígenas ou de outros com proteínas criadas em laboratório capazes de reconhecer células cancerígenas, atacando-as sem danificar as saudáveis.

“É como se fosse o sistema de chave e fechadura. Cada tipo de câncer tem uma chave para conectar na fechadura da célula e abri-la”, explica Leite. Segundo a oncologista, “esses medicamentos se ligam a receptores específicos presentes nessas células, entregando o medicamento diretamente ao tumor. Dessa forma, minimizam o dano aos tecidos saudáveis, o que é um avanço significativo em relação às terapias mais convencionais”.

E se o câncer for dependente do hormônio feminino para crescer, o tratamento é feito com medicamentos que inibem os receptores desses hormônios ou que reduzem os níveis de estrogênio.

Radioterapia de precisão

A radioterapia é um procedimento que utiliza a emissão de radiação para atacar as células com câncer. Com o avanço dos equipamentos, esse tipo de tratamento foi ganhando maior precisão, permitindo focar em células específicas sem danificar as vizinhas saudáveis.

Além disso, a precisão dos aparelhos permitiu aumentar a dose de radiação e assim bombardear as células cancerígenas de modo mais efetivo. Esta técnica é conhecida como radioterapia hipofracionada, que permite aplicar doses maiores de radiação em um número menor de dias. Ou seja, há também um ganho de tempo no tratamento. No caso do câncer de mama, antes o padrão era fazer 25 ou 30 sessões, sendo uma por dia. Já na radioterapia hipofracionada, este número cai para 15 ou 16 sessões.

Inteligência Artificial 

A inteligência artificial tem ganhado corpo em muitas áreas da medicina. No tratamento do câncer de mama, ela pode ser empregada na análise de imagens em programas que rastreiam a leitura de um banco de exames e apontam possíveis inconsistências ou suspeitas do câncer. Com esta análise em mãos, o radiologista vai validar ou descartar a possibilidade.Segundo Cleydson Santos, oncologista clínico na Rede Mater Dei de Saúde, essa prática tem sido estudada para apoiar o diagnóstico de diversos tipos de câncer, mas ainda não é aplicável no dia a dia.

Entretanto, há pesquisas que pretendem avançar nessa análise de imagens para detectar alterações com até cinco anos de antecedência. Pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology) desenvolveram um modelo que identificou padrões sutis no tecido mamário, que são precursores de tumores malignos, usando mamografias de 60 mil pacientes.

Santos afirma que, apesar dessa pesquisa ainda não ter viabilizado a prática desse tipo de análise, traz perspectivas de como a ciência pode avançar e contribuir para um melhor diagnóstico da doença.

Biópsia líquida

A biópsia líquida é uma técnica que pretende identificar uma célula tumoral ou partes do DNA de uma célula cancerígena por meio da análise do sangue. Esse exame ainda esbarra em entraves como o alto custo e a necessidade de refinamento da técnica para melhorar os resultados.

Segundo Santos, em casos específicos, esse exame pode ser aplicado no monitoramento do risco de recidiva – quando o câncer é eliminado do corpo da paciente, mas é necessário manter a observação por cinco anos até considerar a cura efetiva.

Vacinas

Há pesquisas em curso para desenvolver vacinas contra o câncer de mama, mas ainda estão em fase inicial e enfrentam um grande desafio: a multiplicidade de subtipos de câncer de mama, o que exige mais estudos e maior eficácia no caso de uma vacina preventiva, conforme explica Fernanda Leite, do A.C.Camargo. 

Prevenção e diagnóstico precoce

Os avanços trazem maior esperança no combate a essa doença, que ainda hoje é a primeira causa de morte por câncer em mulheres no Brasil, de acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer).  

Mas a prevenção com a prática de exercícios físicos e uma alimentação saudável, além do diagnóstico precoce por meio de exames periódicos, ainda são as melhores formas de combater a doença.

A oncologista Fernanda Leite recomenda que mulheres a partir dos 40 anos antecipem os exames anuais de mamografia e não deixem apenas para os 50. Isto porque, segundo ela, cerca de 20% dos casos de câncer em todo o mundo ocorrem na faixa dos 40 aos 50 anos.

E para quem tem histórico de câncer de mama na família, a recomendação é fazer a mamografia anual ainda mais cedo: a partir dos 35 anos, segundo Cleydson Santo, da Rede Mater Dei.

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