Outubro Rosa: incidência de câncer de mama seguirá alta, e diagnóstico precoce é o caminho para salvar vidas

Outubro é o mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama, segunda doença mais comum entre as mulheres no Brasil e no mundo. Com o processo de envelhecimento da população, a incidência deste tipo de tumor continuará alta, e o diagnóstico precoce é o caminho para reduzir o número de mortes – que chega a 16,5 mil por ano no Brasil.

Para falar sobre os avanços no diagnóstico e tratamento da doença no país, o Saúde da Saúde conversou com o mastologista Henrique Salvador, coordenador do serviço de mastologia e presidente da Rede Mater Dei. Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e vice-presidente da Sociedade Mundial de Mastologia, Salvador foi eleito um dos 100 nomes mais influentes da saúde no último ano.

Fundador e primeiro presidente da Escola Brasileira de Mastologia, hoje é também conselheiro da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).  Leia a entrevista na íntegra:

Qual o panorama do câncer de mama hoje no Brasil? Houve aumento ou redução do número de casos com relação aos anos anteriores? 

Henrique Salvador: O câncer de mama é o que mais acomete a mulher brasileira depois do câncer de pele. A estimativa é de 59,5 mil novos casos neste ano. São 16,5 mil mortes por ano em decorrência da doença. É uma doença muito prevalente e importante no mundo inteiro, não só pela gravidade com que se apresenta, mas até para o que a mama significa para a sexualidade e para a identidade feminina. Infelizmente, a doença continuará com incidência elevada, porque a população está envelhecendo. As pessoas vão viver mais, e com isso vão ter mais câncer, mas dá para aumentar o número de diagnósticos precoces. Em países como Inglaterra, Suécia e Estados Unidos a incidência continua grande, mas houve queda na mortalidade da doença porque investiram no diagnóstico precoce.

Quais os avanços mais importantes no diagnóstico e prevenção nos últimos anos? 

Henrique Salvador: A mulher hoje tem acesso ao estado da arte em diagnóstico e tratamento no Brasil e pode tratar qualquer estágio da doença da mesma maneira como trataria em qualquer país. Houve vários avanços no diagnóstico: há exames genéticos que a mulher pode fazer quando jovem para ver se tem alguma mutação nos cromossomos, há equipamentos de imagem muito sensíveis e de alta resolução que detectam a doença num estágio muito inicial. Exames como a tomossíntese, a mamotomia e a ressonância nuclear magnética da mama também são um avanço e podem ser utilizados, caso necessário, para detalhar o diagnóstico dependendo das características da paciente e da mama. O exame de ultrassom complementa a mamografia, e a ressonância também pode ser usada como complemento no caso de quem tem histórico familiar, por exemplo, para detectar a doença o mais precoce possível. 

E com relação ao tratamento?

Henrique Salvador: O tratamento é composto pelo trio cirurgia, radioterapia e medicamentos. Nas últimas décadas, caminhou-se para um tratamento menos agressivo, mais conservador. Antigamente, era oferecido o máximo de tratamento que a mulher tolerasse, e hoje é dado o tratamento mínimo necessário para controlar e tratar a doença. Antes, na maioria dos casos, era feita a mastectomia (retirada total da mama), e hoje é o inverso: na maioria das situações se conserva a mama e se retira apenas o tumor com uma margem de segurança ao redor. Com isso, os efeitos colaterais são muito menores. A radioterapia aumenta a eficiência do tratamento no local. Com relação ao tratamento com medicamentos, ele pode ser composto por quimioterapia, hormonioterapia e tratamento imunológico (vacinas). Pode ser que não precise usar nenhum medicamento, isso vai depender de uma série de informações que o tumor fornece a partir da análise dos genes do tumor e avaliação das proteínas do tumor, por exemplo. O câncer de mama não é a mesma doença para toda mulher, ele acomete as mulheres de formas diferentes.  

No Mater Dei, quais as tecnologias e iniciativas de destaque no tratamento e prevenção do câncer de mama?

Henrique Salvador: Temos todo o parque diagnóstico necessário para diagnosticar a doença como em qualquer grande centro do mundo. Para o tratamento, temos até uma sala de cirurgia dentro da área de radioterapia, ambulatório para radioterapia e quimioterapia e uma equipe multidisciplinar com 20 mastologistas e profissionais de diversas áreas – médicos nucleares, oncologistas clínicos, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros que se reúnem semanalmente para discutir os casos e se atualizar. 

Já foi a época em que um único profissional conduzia o tratamento. Um time articulado e habituado a trabalhar junto com base em protocolos, na literatura e na experiência faz toda a diferença para o diagnóstico precoce e para tranquilizar a paciente. Temos também investido bastante em ensino e pesquisa, com linhas de pesquisa em andamento, um centro de estudos e uma residência em mastologia reconhecida pelo Ministério da Educação com mais de 40 residentes de mastologia formados e três em fase de formação. 

No estudo da doença, já foi identificado algum fator de risco mais relevante ou medida de prevenção mais eficaz?

Henrique Salvador: A maioria dos casos de câncer de mama é causada por fatores comportamentais relacionados aos hábitos, e a menor parte tem origem hereditária. É fundamental o diagnóstico precoce: uma vez por ano, as mulheres a partir dos 40 anos devem fazer a mamografia. Hábitos de vida saudáveis como ter uma dieta mais rica em vegetais e frutas e praticar exercícios físicos reduzem o risco não apenas da incidência de câncer de mama, mas de outras doenças como as cardiovasculares. 

O Outubro Rosa é uma oportunidade de chamar a atenção para a importância do diagnóstico precoce. Muitas mulheres ainda evitam fazer a mamografia com medo de descobrir que têm a doença, mas quanto antes o diagnóstico é feito, maior a chance de salvar mais vidas.

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