O que é endometriose?

Recentemente, a cantora Anitta jogou luz sobre um assunto muito importante para a saúde da mulher. Ela foi diagnosticada com endometriose, e teve que passar por um procedimento cirúrgico por conta das fortes dores que sentia.

O que chamou a atenção, no entanto, foi: como uma pessoa pode demorar anos para identificar um possível quadro de endometriose? Regina Amarante, ginecologista da Rede de Hospitais São Camilo, explica que o diagnóstico nem sempre é fácil. “Alguns casos, quando menos sintomáticos, podem até passar despercebidos. E os sintomas nem sempre são específicos, portanto, podem ser confundidos com os de outras doenças ou considerados comuns”, explica. “Mas isso tem mudado aos poucos, conforme há mais informações sobre a doença e sobre o fato de que as mulheres não devem sentir dores incapacitantes e achar que isso é normal”. Segundo o Ministério da Saúde, uma em cada dez pessoas sofre com endometriose no Brasil.

Ela alerta que é importante entender que nenhuma das teorias elaboradas para o que causa a endometriose é universalmente aceita para todos os casos. “É provável que cada uma delas explique a ocorrência da endometriose em uma determinada situação, ou que exista mais de uma causa relacionada com o surgimento da doença”.

Veja, abaixo, os esclarecimentos da especialista – e, na dúvida, o ideal é sempre procurar um médico.

1. O que é a endometriose?

A camada mais interna do útero é chamada de endométrio. Ele varia de acordo com o ciclo menstrual: o tecido cresce para receber o óvulo fecundado e evoluir para a gravidez; ou, caso isso não ocorra, descama e temos a menstruação. O que acontece é que esse tecido pode se implantar em outros lugares, e a esse processo damos o nome de endometriose. Essa anomalia pode ocorrer nos ovários, bexiga, intestino e até mesmo na musculatura do útero, o que é chamado de adenomiose.

2. O que pode causar a endometriose?

A causa exata da endometriose não é conhecida, mas as comumente associadas são:
– Menstruação retrógrada, quando o sangue menstrual faz o caminho inverso, e flui de volta através das tubas uterinas para a cavidade pélvica;
– Desequilíbrio hormonal;
– Cicatrizes cirúrgicas, como de uma cesariana ou histerectomia;
– Problemas do sistema imunológico;
– Genética.

Para os especialistas em ginecologia, uma das teorias mais aceitas é a da menstruação retrógrada.

3. Quais são os sintomas?

Além das cólicas muito fortes (que chegam a impedir que a mulher realize suas atividades cotidianas) e das fortes dores abdominais, outros sintomas de endometriose incluem:
– Sangramentos intestinais e urinários durante a menstruação;
– Sangramento menstrual intenso e irregular;
– Dor intensa em relações sexuais;
– Dor pré-menstrual (de uma ou duas semanas antes), acometendo o abdômen;
– Fadiga e cansaço;
– Infertilidade ou dificuldade maior para engravidar;
– Diarreia.

4. Como no caso da cantora Anitta, é possível que eu tenha endometriose sem saber? Por quê?

– Alguns casos, quando menos sintomáticos, podem até passar despercebidos. E existem alguns entraves em relação ao diagnóstico:
os sintomas nem sempre são específicos e podem ser confundidos com os de outras doenças, ou considerados comuns;
– Exames mais específicos, como o ultrassom ginecológico com doppler e preparo intestinal, são caros e precisam ser realizados por especialistas que nem sempre estão disponíveis;
– Os exames de rotina não detectam a endometriose – o ultrassom com preparo intestinal e a ressonância pélvica são os melhores exames para comprovar a doença.

Mas isso tem mudado aos poucos, à medida que disseminamos mais informações sobre a doença e esclarecemos que as mulheres não devem sentir dores incapacitantes e achar normal.

5. Em que situações deve ser feita a intervenção cirúrgica?

A cirurgia visa a remoção dos tecidos endometriais e adesões que possam já existir. É indicada nos casos de dor severa, grande sangramento, infertilidade ou ausência de resposta ao tratamento clínico. Atualmente, a mais usada é a laparoscopia, uma técnica cirúrgica menos invasiva usada para visualizar, diagnosticar e remover o tecido endometrial – o cirurgião pode remover ou cauterizar as lesões. Para as pacientes que querem engravidar, mas não conseguem, o tratamento cirúrgico é a melhor opção. Em casos muitos graves, com múltiplos implantes de endometriose e ausência de resposta a outras formas de tratamento, pode ser necessária a remoção de todo útero e/ou ovários.

6. O que pode acontecer caso eu não trate de uma endometriose?

Se não for tratada, após um período prolongado, as complicações podem incluir:
– Infertilidade;
– Dor pélvica de longa duração, interferindo no dia a dia;
– Grandes cistos na pelve que podem romper;
– Em casos raros, o tecido da endometriose pode bloquear os intestinos ou o trato urinário.

7. Mito ou verdade: a pessoa que tem endometriose não pode engravidar?

Na verdade, algumas mulheres com endometriose podem ter dificuldade para engravidar. E isso ocorre principalmente com dois fatores: a obstrução das trompas pelos focos de endometriose; o processo inflamatório crônico e alterações imunológicas promovidas pela endometriose, dificultando a implantação do bebê.

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