Mentiras no consultório médico: quais as mais contadas?

Não é difícil ouvir por aí que mentiras são inerentes às relações humanas. Quem nunca fez um drama, por exemplo? Ou disse que estava bem quando não era a realidade? Bem, mas quando isso ultrapassa relações sociais e chega ao consultório médico, o prejudicado pode ser você mesmo.

A transparência entre médicos e pacientes é fundamental para o desenvolvimento de tratamentos adequados e efetivos para cada caso. Mas, na prática, nem sempre funciona assim.

Segundo o médico Breno Figueiredo Gomes, clínico geral na Rede Mater Dei de Saúde, geralmente é a insegurança que motiva mentiras ou omissão de informações nas consultas. Ele ainda revela quais são os assuntos que pacientes mais costumam distorcer ou esconder: “As principais que a gente nota são alimentação, quando comem mal ou comem muito doce e não contam; dizer que estão tomando o remédio corretamente, quando na verdade, não estão – muito comum no caso de remédio para pressão, por exemplo. Às vezes você não tá sentindo nada, então pode ser difícil lembrar todo dia”. Mas, esses não são os únicos assuntos em que a verdade passa longe:

Número de parceiros sexuais

Hoje em dia, alguns assuntos são discutidos com bem mais naturalidade do que antigamente. Mas, em muitos casos, falar sobre sexo ainda pode ser um tabu, inclusive no consultório médico.

“Têm algumas doenças sexualmente transmissíveis que o médico só vai suspeitar se o paciente tiver um fator de risco, como múltiplos parceiros. Então, é importante [falar a verdade]”, explica Breno. No entanto, o especialista destaca que  “muitas das vezes, a questão da mentira ou omissão é falta de confiança no médico.”

“Se ele não tem segurança no médico, o paciente não vai falar. Tem que partir de nós [médicos] também criar um ambiente seguro para o paciente se abrir. E para isso, tem que ter tempo”, comenta Breno, ao destacar que essas situações podem ser evitadas pelos próprios profissionais, pois acredita que “a partir do momento que a pessoa tem confiança no médico, ela não vai mentir.”

Linguarudos

E quando os seus próprios familiares te entregam? Muita gente que decide mentir para o médico passa por isso. Neste quesito, Breno destaca mentiras em relação ao hábito ou vício em cigarros, bebida ou outras substâncias:

“A bebida é bem comum [de ser omitida ou escondida], mas geralmente quem desmente são os familiares. Com cigarro, é a mesma coisa. Muitos falam que estão fumando um cigarrinho por dia, mas na verdade é um maço inteiro. Esses são os principais”, conta. E o resultado pode ser o “impacto em exames” e a não identificação de possíveis complicações. No caso do cigarro, por exemplo, o médico ressalta a importância da transparência ao alertar: “O paciente que é tabagista pesado, o risco de tumor aumenta muito”

Insegurança ou má fé?

Apesar de acreditar que um ambiente amistoso para confissões pode ser a solução para o problema das mentiras no consultório, o diretor clínico explica que há exceções, como no caso de pacientes que forjam sintomas para conseguir atestados:

“Acontece muito, principalmente em pronto-socorro. Por diversos motivos, por não querer trabalhar ou querer emendar o feriado, por exemplo, os pacientes inventam sintomas”, conta. E quando os sintomas não são específicos, os médicos ficam de mãos atadas quando o assunto é pegar a pessoa mentirosa “no pulo”.  “Se eu falar pra você que estou com dor de cabeça, com náusea, vomitando… Não tem como o médico provar o contrário.”

Um dos perigos desse tipo de situação, é quando os pacientes chegam até mesmo a serem medicados no atendimento, com remédios intravenosos, para conseguirem o documento que “teoricamente não é falso, mas é conseguido em condições de má fé do paciente”, opina Breno. “É mais soro, e os remédios que utilizamos, como analgésico e remédios para náusea, que não têm grandes efeitos colaterais. Claro que se for usar algum outro remédio, tem os riscos. Às vezes, o paciente pode ter reação ao medicamento indicado”, destaca.

Confie e seja confiável

Deu pra ver que é muito importante ser transparente no consultório médico, não é? E para desenvolver uma relação de confiança com o médico, é importante também fazer a sua parte. “É fundamental que o paciente passe as informações corretas para o médico receitar uma medicação adequada. Eu preciso do histórico clínico, por exemplo, para dar um tratamento adequado. A partir do momento que a pessoa for ao médico, tem que contar tudo que ele perguntar.”

Então, procure um médico de confiança e sempre deixe ele a par da sua saúde e procedimentos que esteja fazendo, como destaca Breno: “Se você tem um médico de confiança, acompanhe com ele. Não importa se é um clínico ou outra especialidade, acompanhe com ele.”

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