Menopausa: como aliviar sintomas e trazer mais qualidade de vida para a mulher

A menopausa está em evidência porque as mulheres estão vivendo mais. Essa longevidade e a busca por qualidade de vida acabam invalidando a ideia antiga de que haveria uma pausa na vida da mulher — afinal, há muito mais o que viver depois dessa fase, marcada pelo fim da menstruação.

Inclusive, o tema foi capa da revista Vogue no Brasil neste ano, que reuniu cinco mulheres para falar do assunto: a apresentadora Astrid Fontenelle, a jornalista Cláudia Lima, a médica dermatologista Flávia Addor e as influenciadoras Dani Godoy e Wladia Goes. E elas demonstram estar muito bem resolvidas com essa fase da vida.

A menopausa ocorre geralmente entre os 40 e 58 anos – os 51 são considerados, portanto, uma média –, de acordo com o Guia da Menopausa da Nams (Sociedade Norte-americana de Menopausa), traduzido pela Associação Brasileira de Climatério. Já a expectativa de vida das mulheres é de 80,5 anos, segundo o IBGE. Ou seja, elas passam quase um terço de suas vidas no pós-menopausa.

Hoje já há evidências de que bons hábitos, como cuidados com alimentação e exercícios físicos, contribuem para diminuir ou aliviar os sintomas. Além disso, o avanço da ciência e da medicina permite que as mulheres recorram a tratamentos cada vez mais eficazes.

Entrevistamos dois médicos para saber mais sobre o assunto: Renata Mieko Hayashi, ginecologista e coordenadora do Programa Saúde da Mulher do Hospital São Marcelino Champagnat, e Luciano Guerra, médico ginecologista e obstetra do Hospital Nipo-Brasileiro, especialista em uroginecologia e patologias do assoalho pélvico feminino. Confira abaixo.

Quais os sintomas da menopausa e por que eles atrapalham a qualidade de vida?

Renata Hayashi: Um dos sintomas mais comuns é o “fogacho”, os calores que as mulheres sentem. A sensação é de aumento da temperatura e o corpo reage para tentar diminuí-la. Os fogachos acabam alterando o sono, porque despertam a mulher, que demora a voltar a dormir. A privação de sono leva à irritabilidade, e isso reflete na qualidade de vida.

Como saber que estou entrando na menopausa? Quem sente TPM (Tensão Pré-Menstrual) intensa pode ter menopausa precoce?

Renata Hayashi: Os sintomas gerais de perimenopausa são irregularidade menstrual associada a sintomas como fogachos, mal-estar, insônia e irritabilidade. A TPM intensa por si só não é sinônimo de menopausa precoce, mas sintomas exacerbados podem estar relacionados às mudanças hormonais que precisam ser investigadas, como alterações na tireoide.

Toda mulher vai ter sintomas de menopausa e vai sofrer com isso? Ou há aquelas que não sentem essa fase?

Renata Hayashi: Cerca de 80% das mulheres terão algum sintoma de climatério. Pode ser uma secura vaginal, o calor, alguma alteração no corpo. A porcentagem de mulheres que têm sintomas leves ou graves não é consenso. Mas pessoas que sofrem de obesidade, pacientes com distúrbios psicológicos como ansiedade, mulheres hipertensas e sedentárias apresentam maior possibilidade de ter os sintomas da menopausa.

Como manter a qualidade de vida em meio a esta fase da vida?

Renata Hayashi: Praticar exercícios físicos, manter uma boa alimentação e cuidados com o sono são ações que podem melhorar a menopausa.

Que tipo de alimentos ajudam a minimizar os sintomas da menopausa?

Renata Hayashi: Consumir alimentos frescos, como frutas e verduras, e reduzir o consumo de gordura saturada e de industrializados ajudam a ter maior qualidade de vida e a melhorar os sintomas. As sementes e as oleaginosas também podem contribuir nesta fase.

Quais são os principais tratamentos disponíveis para a menopausa?

Luciano Guerra: Os principais tratamentos disponíveis para menopausa são baseados no uso de estrógenos e progesteronas. Podem ser aplicados de forma isolada ou combinada, por via oral, via vaginal, adesivos transdérmicos, gel de aplicação cutânea, implantes transdérmicos e até dispositivos intrauterinos.

Para quem a terapia de reposição hormonal é indicada? E para quem é contraindicada?

Luciano Guerra: A terapia de reposição hormonal beneficia pacientes com sintomas vasomotores (os fogachos ou calorões), atrofia vaginal e perda de massa óssea devido à falência ovariana, além promover melhora da libido e da qualidade de vida em algumas pacientes. O tratamento, no entanto, é contraindicado para quem tem doenças cardiovasculares e fenômenos tromboembólicos pré-existentes; câncer de mama, endométrio ou de ovário; doença hepática descompensada; lúpus eritematoso sistêmico; porfirias e sangramentos uterinos de origem desconhecida.

Existem tratamentos diferentes para diferentes sintomas de menopausa?

Luciano Guerra: Sim, existem tratamentos específicos para cada sintoma ou com melhores taxas de sucesso quando utilizados em determinada fase da menopausa. Um exemplo é o uso de cremes ou óvulos vaginais para aquelas pacientes com queixa importante de atrofia vaginal, ou uso de tratamentos por via oral ou cutânea, que visam redução dos calorões e melhora da libido, por exemplo. Atualmente se fala muito na “janela de oportunidades”, que seriam os primeiros dez anos após a última menstruação, quando a terapia traria melhores resultados com menores riscos.

O tratamento é o mesmo ao longo do tempo ou ele pode ser mudado? 

Renata Hayashi: Geralmente quando optamos por iniciar a terapia hormonal, estamos na estratégia de uso por pelo menos cinco anos, mas isso não quer dizer que será sempre a mesma. É possível adaptar o tratamento aos sintomas principais e avaliar o que está mais indicado naquele momento.

Por quanto tempo devo fazer tratamento? É durante toda a menopausa? Quando ela termina?

Renata Hayashi: Em média, fazemos o tratamento por cinco a dez anos. Com o passar do tempo, os sintomas devem se tornar mais amenos, momento em que podemos tentar diminuir a dose utilizada para, então, suspender as medicações.

Há riscos com o tratamento hormonal em relação ao desenvolvimento de câncer? 

Renata Hayashi: Uma das principais preocupações relacionadas ao uso de hormônios é o risco oncológico, porém, esse risco deve ser avaliado pelo ginecologista. Hoje, a possibilidade de estudos genéticos nos ajudam muito a definir a escolha pelo tratamento. 

Quais quadros levam ao risco de reposição hormonal?

Renata Hayashi: Casos de câncer hormônio-dependente (quando o câncer depende da ação do hormônio para crescer), obesidade, tabagismo, alterações cardiovasculares e histórico de endometriose são contraindicações à terapia hormonal. 

E os tratamentos não-hormonais, eles são indicados só para quem tem sintomas leves ou é para quem tem contraindicação no tratamento hormonal?

Renata Hayashi: Tratamentos não-hormonais se baseiam no uso de fitoterápicos e hábitos de vida. Os fitoterápicos são indicados para pacientes que têm sintomas leves. Nas pacientes que têm alto risco oncológico ou que têm o câncer, nós não utilizamos nem os fitoterápicos! Essa apologia de que tudo bem tomar soja, fazer uso dos fitoterápicos não é real. Ele é um remédio e tem contraindicação também. Para essas mulheres que não devem fazer uso de terapia hormonal, os cuidados referentes à atividade física e alimentar são essenciais para melhorar a qualidade de vida.

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