Ter um médico que acompanha sua saúde por toda vida, que conhece seu histórico familiar, além de hábitos e características da comunidade e do local onde você vive pode trazer mais assertividade na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças.
Esse é o trabalho do médico de Família e Comunidade, um profissional que pode oferecer uma atenção mais personalizada, já que acompanha o paciente ao longo do tempo. A especialidade foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina em 2002, mas ainda é considerada uma área pouco explorada. No Brasil, existe um déficit desses profissionais: segundo pesquisa Demografia Médica no Brasil 2023, feita pelo departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), seriam necessários 40 mil médicos de família apenas para atender as demandas do SUS.
Por que procurar um médico de Família?
Segundo o que explica Ana Paula Tussi Leite, consultora médica no Proadi-SUS do Hospital Moinhos de Vento, médica de Família e Comunidade, diretora de Formação da Associação Gaúcha de Medicina de Família e Comunidade, este profissional “pode atender pessoas de todas as idades, gêneros e condições de saúde, e está apto a resolver aproximadamente 85% dos problemas de saúde da população, seja o indivíduo ou os membros de sua família de forma integral”.
Isso porque muitas doenças e incômodos são originados de hábitos cotidianos e, muitas vezes, podem ser tratados em casa, sem necessidade de passar por hospitais. “O médico de Família identifica e trata problemas que costumam ser comuns, nem sempre específicos, mas que pedem um tratamento médico com treinamento voltado a isso”, afirma Leite. A lista desses problemas de saúde inclui dores musculares causadas por má postura, infecções geradas por alimentação inadequada ou água não tratada, viroses, entre outras.
Mas vale frisar que passar por um médico de Família não significa ter de abrir mão de outros especialistas. Pelo contrário. Caso se mostre necessário, ele encaminha o paciente para outros profissionais ou hospitais mais focados em problemas específicos de saúde. Ou seja, o médico de Família consegue identificar qual o melhor momento para procurar outras especialidades – e qual a especialidade mais indicada para cada caso.
Esse profissional também vai coordenar o cuidado do paciente, evitando que o tratamento seja fragmentado. “Com encaminhamentos sendo feitos de maneira mais racional, o paciente e o sistema de saúde ganham em agilidade, diminuição de filas, eficiência e efetividade, além da possibilidade de diminuir de custos com intervenções mais assertivas”, declara Leite.
Médico de Família pode beneficiar toda a comunidade
O médico de Família é responsável, ainda, por promover a saúde na comunidade, conforme as necessidades e características daquela população, conforme explica Leite. Isso porque ele deve ter um olhar amplo para a saúde, e não apenas focado num único paciente. Sua formação permite observar também as questões emocionais, sociais, culturais e ambientais que podem se manifestar nas doenças. Além disso, tem uma abordagem voltada para a prevenção e rastreamento de doenças.
Por exemplo: se um paciente tem diarreia, o médico de Família não vai olhar somente para esse sintoma, mas vai observar as condições sanitárias da comunidade, por exemplo. Se estiver com risco de diabetes por estar ingerindo muito açúcar, poderá investigar também a questão emocional do paciente que talvez esteja buscando uma forma de compensação por meio da alimentação.
É importante também ressaltar que o médico de Família é diferente do clínico geral, que só atende adultos, individualmente, e não tem um trabalho voltado para a comunidade e para o contexto no qual o paciente está inserido.