Garantir mais qualidade de vida à população que está envelhecendo é um dos grandes focos da medicina do futuro. Para isso, a chave é dar mais atenção à prevenção de doenças, em uma proposta “mais proativa na questão da saúde”, segundo Emmanuel Fombu, médico e autor do best-seller “The Future of Healthcare” (“O Futuro do cuidado com a Saúde”, em tradução livre). Ele participou da palestra de abertura da mais recente edição do Congresso Nacional de Hospitais Privados, o Conahp 2021.
O médico comenta que o sistema de saúde atual foca em esperar que sintomas apareçam, progridam, para só então fazer múltiplos exames, diagnosticar e aí poder fazer a intervenção. “O que desejamos para o sistema de saúde até 2030 é diferente. Entender quais são os riscos de ter a doença, intervir antes e chegar a um diagnóstico mais preventivo. E quando a doença acontecer, se ela acontecer, a gente terá como tratá-la da melhor forma, para que possamos ser a melhor versão de nós mesmos”.
O que a tecnologia pode fazer pela sua saúde?
No mundo ideal, o tratamento adequado a cada caso seria discutido com base em dados prévios de cada pessoa, e não apenas os registros do paciente no momento do exame. Graças à tecnologia, essa tendência já vem se delineando no presente. “Estamos falando de bilhões de dólares investidos em telessaúde e muito tem se dedicado ao monitoramento do que acontece com o paciente”, ressalta. Ele lembra que custa mais caro para o plano de saúde ou para o governo atender a pessoa já doente no hospital do que fazer esse monitoramento prévio.
Alguns smartwatches disponíveis no mercado permitem coletar dados de saúde com facilidade – até quando você está dormindo – captando variações e detectando problemas de saúde antes que os primeiros sintomas apareçam. Esses dados podem ser transmitidos para uma equipe médica que entenderá melhor o contexto em que as alterações na saúde ocorreram.
O futurologista aponta que esse histórico de saúde do paciente faz toda a diferença. Fombu compara a medição comum da pressão sanguínea com a foto de um momento específico da sua saúde, enquanto o ideal seria captar todo o seu histórico. Ele exemplifica com eventos que podem alterar seus exames momentaneamente: “A pressão de um paciente estava normal, mas ao meio dia aumentou. A namorada terminou o relacionamento com ele, o que aumentou o batimento cardíaco. Se você tivesse que medir a pressão dele apenas neste momento, você acharia que ele tem hipertensão. Mas, se você olhar o contexto, vai ver que foi um evento específico que causou esse aumento do batimento cardíaco. Com acesso a essa informação, o tratamento seria outro”, explica.
Outra frente viabilizada pela tecnologia é a telemedicina. O especialista lembra que há alguns anos já se previa o uso massivo de serviços de medicina remota, que foram adotados em larga escala apenas durante a pandemia. “A gente já está implementando isso agora e a adoção dessa abordagem vai ser muito massiva muito em breve”, avalia. No entanto, existem alguns desafios neste caminho. “Precisamos educar os pacientes sobre os benefícios de uma consulta virtual. Também a tecnologia, por si só, é um grande desafio. Várias pessoas não têm acesso à internet, outras não têm um celular compatível com a tecnologia necessária”, lamenta.