No mês em que é celebrado o Orgulho LGBTQIA+, incluir o contexto hospitalar nessa pauta é fundamental. Afinal, todas as comunidades precisam se sentir acolhidas e bem-vindas no serviço de saúde, ficando confortáveis para tratar de qualquer assunto – tanto físico, quanto mental.
Mas isso não é tão simples assim quando falamos da comunidade LGBTQIA+. O preconceito contra orientações sexuais e identidades de gênero diversas restringe este direito fundamental – a assistência à saúde.
“Segundo estudo realizado pela Faculdade de Medicina da USP em 2021, a população LGBTQIA+ não possui o mesmo acesso à saúde, vivendo situações de exclusão”, conta Felipe Duarte Silva, gerente de Pacientes Internados e de Práticas Médicas do Hospital Sírio-Libanês. Nesse hospital, os serviços dedicados à população LGBTQIA+ costumam ser conduzidos por profissionais capacitados para acolher e atender às demandas específicas desse público. Segundo Silva, ao criar um ambiente confortável e seguro, é possível prover uma assistência integral e de excelência.
“Entretanto, mais do que criar clínicas específicas, nós, como agentes de saúde, devemos estar capacitados a atender a essas demandas nos serviços como um todo. É preciso saber trabalhar a diversidade de forma inclusiva, garantindo melhor acesso e, sobretudo, acesso equitativo”, completa.
As barreiras no acesso à saúde
Importantes avanços aconteceram nas últimas décadas, como:
- Criação do Programa “Brasil sem Homofobia”, de 2004, de combate à violência e à discriminação contra gays, lésbicas, transexuais e bissexuais;
- Convocação da primeira conferência nacional LGBT pela Presidência da República, em 2008, com a participação da sociedade civil e representantes de governos estaduais e municipais, que construíram a Política Nacional de Saúde Integral LGBT.
Mas os programas e projetos de políticas de inclusão existentes no Brasil reforçam a necessidade de treinamento de gestores e profissionais da saúde para o atendimento dessa população.
Felipe lista alguns dos principais desafios encontrados:
> Despreparo no acolhimento: muitas vezes o acolhimento às demandas específicas da população LGBTQIA+ não é realizado de forma empática, humanizada, respeitosa e eficiente, por desconhecimento e despreparo de profissionais que realizam o primeiro contato. Muitos adotam posturas ou atitudes que afastam essas pessoas do sistema de saúde.
> Desconhecimento técnico: muitos profissionais de saúde ainda desconhecem as dimensões da sexualidade humana e confundem conceitos que são fundamentais para o entendimento das necessidades desta população. Além disso, há quem não se sinta capacitados a prover assistência a demandas específicas (como, por exemplo, a hormonização para pessoas trans).
> Preconceito e discriminação: devido ao preconceito estrutural da nossa cultura e sociedade em relação à população LGBTQIA+, ainda são relatadas atitudes discriminatórias e excludentes nos serviços de saúde relacionadas à diversidade e às individualidades da sexualidade humana.
> Capacidade dos serviços em acolher demandas específicas: para a pessoa trans, por exemplo, há limitação de acesso aos recursos cirúrgicos, pois são poucos os centros hospitalares capacitados a fazer procedimentos como aqueles destinados à transição de gênero.
> Ausência de cobertura por operadoras de saúde para procedimentos específicos: as demandas relacionadas à diversidade, sobretudo para pessoas trans, não costumam contar com cobertura pelas operadoras de saúde, já que algumas não constam no rol da ANS.
> Sistemas de informação: os sistemas eletrônicos de informação são engessados e ainda consideram de forma binária o sexo atribuído ao nascimento. Não há espaço para identidade de gênero na maioria dos sistemas e muitos ainda não integram nome social (mesmo existindo um decreto que dispõe sobre esse direito – n° 8.727, de 28/04/2016).
A fim de reverter esse cenário, Silva destaca a sensibilização e treinamento constantes sobre o tema, além de ações (inclusive legais) de combate ao preconceito, discriminação, exclusão, homofobia, transfobia e LGBTQIA+fobia. Identificar profissionais treinados também pode ser uma boa alternativa para direcionar demandas mais específicas.
Com seu Programa de Inclusão e Diversidade e por meio de um Núcleo Científico voltado a Cuidados em Saúde para Pessoas Trans, o Sírio-Libanês tem se dedicado a revisitar aspectos que podem afastar essas pessoas dos serviços prestados e garantir respeito e acolhimento às individualidades. Algumas ações que estão sendo trabalhadas e endereçam o tema:
- Integração de nome social aos sistemas;
- Treinamentos de colaboradores;
- Sensibilizações sobre sexualidade humana e vivências LGBTQIA+;
- Lançamento do Guia LGBTQIA+, visando disseminar conteúdo;
- Realização de reuniões científicas para discutir pautas relativas à sexualidade humana;
- Organização das linhas de Cuidados em Saúde para pessoas trans.