Brasil tem mais mães adolescentes do que países desenvolvidos, e a piora na saúde mental é um dos efeitos da gestação nessa faixa etária
Todos os dias, quase mil bebês nascem de mães adolescentes no Brasil, mais do que o dobro dos países desenvolvidos. Os dados são da pesquisa liderada pelo Hospital Moinhos de Vento, do Rio Grande do Sul, dentro do projeto “Adolescentes Mães”.
O estudo apontou que um dos impactos da gestação nessa faixa etária está na saúde mental: há mais casos de ansiedade e depressão em mães adolescentes (10 a 19 anos) do que em mães jovens adultas (20 a 29 anos). As adolescentes tiveram prevalência 20% maior de sintomas relacionados a ansiedade e depressão do que as jovens adultas. Além disso, a gravidez precoce tem impactos na vida social, na educação e na saúde geral dessas mães.
“Qualquer pessoa que passe pela experiência de paternidade e maternidade sabe como isso mexe com nossas vidas, em qualquer idade. Na gestação precoce, o reflexo é ainda maior. Há casos de ansiedade e depressão, de abandono dos estudos e ausência da figura paterna daquele bebê, o que impacta no futuro delas”, afirma Tiago Dalcin, líder do projeto Adolescentes Mães.
O estudo ouviu 1.177 mulheres. Entre elas, 583 (49,5%) eram adolescentes – com idade entre 10 a 19 (média de 17 anos). Dentro dessa amostra, 25 delas (2,21%) tornaram-se mães enquanto ainda eram meninas, entre 10 e 14 anos. E metade do total das entrevistadas (594 – 50,4%), tornou-se mãe adulta jovem, de 20 a 29 anos (média de 24 anos).
Impactos da gravidez precoce nas mães
O Ministério da Saúde considera a gravidez na adolescência um grande desafio para a saúde pública. A pesquisa do Hospital Moinhos de Vento aponta que 20,4% das mães adolescentes não sabiam como evitar filhos – o que indica a necessidade de investimento em educação sexual.
A maioria (64,5%) afirma que engravidou sem querer e quase 13% das adolescentes disseram que a gravidez foi motivada pela vontade de sair da casa dos pais. Só uma em cada quatro mães adolescentes tiveram apoio do marido ou companheiro após a descoberta da gestação, uma taxa de abandono de 25%.
Outro impacto relevante foi na percepção de vida e bem-estar: 65% das adolescentes consideram a vida mais difícil, 58% perderam amigos e 17% consideram que a gestação foi o pior período da vida.
“A adolescência já é uma fase de muitas mudanças. Se acrescentarmos a gravidez, que também traz suas demandas, temos um cenário de muitos desafios”, analisa Dalcin.
Ele destaca que nove a cada dez mães adolescentes são as únicas cuidadoras dos bebês. “Por mais dedicadas que sejam, ainda assim é uma pessoa que está em formação. Ela vai ter que lidar com suas questões de transição de vida e dar suporte a uma criança que também está em desenvolvimento”, afirma.
Impactos da gravidez precoce sobre os bebês
A pesquisa indicou que a média de peso dos bebês de mães adolescentes ficou em 3,11 kg, menor se comparado aos filhos das mães jovens adultas, de 3,24 kg.
Houve complicações em 29% dos nascimentos dos bebês de mães adolescentes, contra 25% das mães jovens adultas, e 29% dos bebês de adolescentes precisaram ir para UTI, contra 17,5% das jovens mães.
Segundo Dalcin, as mães adolescentes tiveram menores taxas de amamentação até os 6 meses, se comparadas às jovens adultas. O dado pode indicar maiores complicações de saúde nos bebês. Segundo o Ministério da Saúde, o leite materno contribui para o desenvolvimento cognitivo e protege os bebês contra diarréias, infecções respiratórias, alergias, reduz o risco de hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade.
“Os resultados que alcançamos com o estudo demonstram uma premissa simples: precisamos falar mais sobre gravidez na adolescência e olhar para as mães adolescentes. Embora a gente viva em uma época de superinformação, ainda há pouco conhecimento”, diz Dalcin.
O levantamento foi feito de agosto de 2022 a maio de 2023, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) do Ministério da Saúde.
Esse conteúdo foi útil para você? Compartilhe em suas redes!