Fritjof Capra: como podemos evitar uma nova pandemia

A Covid-19 é uma resposta biológica do planeta à exploração ilimitada dos recursos naturais e à desigualdade social exacerbada. A afirmação é do físico e autor de best-sellers Fritjof Capra, referência no pensamento humano dos séculos 20 e 21 e que desenvolve um trabalho na promoção da educação ecológica.

“Entendo que o coronavírus deve ser visto como uma reposta biológica do nosso planeta, uma emergência ecológica e social na qual a humanidade acabou se colocando sozinha”, afirmou Capra durante sua participação no Conahp 2021, maior congresso de saúde do país realizado em outubro. Ele também apontou os caminhos que a humanidade deve seguir se quiser evitar que uma nova pandemia ocorra num futuro próximo.

Capra destaca que o mundo vive hoje uma “crise global multifacetada”, na qual nenhum de seus problemas principais – emergência climática, desigualdade econômica e a pandemia de Covid – pode ser entendido de forma isolada.
“São problemas sistêmicos e estão interconectados”, explica. Segundo ele, o desafio-chave da humanidade para reverter esse cenário é mudar seu sistema econômico para um modelo que seja ecologicamente sustentável e socialmente justo.

Para o físico, o progresso deve passar a ser medido pelo bem-estar da humanidade e da terra. Ele ressalta que não defende que países e economias parem de crescer. “Mas é preciso atingir um equilíbrio, que é o crescimento qualitativo, que faz frente ao crescimento quantitativo, do PIB, que é defendido pelos economistas”.

Diferentemente da economia de desperdício e destruição que vivemos hoje, o crescimento qualitativo melhoraria a qualidade de vida, gerando e regenerando recursos. “Precisamos avaliar a saúde da economia em termos qualitativos: indicadores de pobreza, de saúde, de equidade, de educação. Nada disso pode ser reduzido a coeficientes financeiros”, detalha Capra.

A evolução não deve ser mais vista como uma luta competitiva pela existência, mas como uma série de elementos cooperativos em que a criatividade e a novidade são as formas que capitaneiam a evolução. No cerne dessa mudança está que, em vez de ver o mundo como uma máquina, passamos a ver o mundo como uma rede. “Porque uma pandemia como a de Covid-19 só pode ser resolvida a partir de ações cooperativas e colaborativas, não temos outra opção”, diz.

Para Capra, a pandemia mostrou que o mundo é capaz de responder com urgência e coerência pra reduzir a atividade humana – e por consequência seus impactos no meio ambiente – quando existe vontade política. “Talvez os historiadores do futuro vejam que, a longo prazo, a humanidade entendeu que fosse mais seguro trabalhar como comunidade se mantendo longe da extinção”, finaliza.capa

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