Fevereiro Laranja: mês dedicado à conscientização sobre a leucemia

A leucemia, que começa na medula óssea e ataca os glóbulos brancos, é considerada um câncer mais raro, se comparado com os demais tipos. Porém isso não diminui a necessidade de atenção, e o mês de fevereiro é dedicado à campanha sobre os sintomas e formas de identificar a doença – que deve ter 11 mil novos casos por ano, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA).
O portal Saúde da Saúde conversou com a hematologista do Hospital Dona Helena (SC) Ana Carolina Moreira de Carvalho Cardoso, que explicou os avanços no diagnóstico e tratamento da doença nos últimos anos.

Qual é o panorama da leucemia no Brasil?
Ana Carolina: Falando mais das leucemias agudas [linfóide e mielóide], é uma doença rara, porque ela corresponde a mais ou menos 1% de todos os cânceres. A linfóide é a mais comum entre as crianças. Nos adultos, se divide um pouco entre a mielóide e a linfóide – que são relativamente mais comum em homens. No geral, há uma média de 5 em cada 100 mil pessoas que recebem diagnóstico de leucemia aguda.

Houve avanços com relação ao diagnóstico da doença nos últimos anos?
Ana Carolina: O tratamento das leucemias padrão, que tem no SUS e nos hospitais particulares, o básico, é o mesmo há muito anos. Uns cinco anos atrás, mais ou menos, foram diagnosticados alguns marcadores específicos para a mielóide, por exemplo, e aí sim alguns tratamentos-alvo estão começando a ser usados na rede particular. Então, nas leucemias agudas, já conseguimos algumas medicações-alvo que prometem um tempo maior de progressão livre da doença.

Como funcionam os tratamentos-alvo?
Ana Carolina: Quando é feito o diagnóstico, buscamos identificar mutações para tentar usar drogas específicas que aumentam a taxa de remissão da doença. As drogas-alvo são drogas contra estas mutações, o que aumenta a taxa de remissão completa. É uma droga que age exatamente em uma mutação que este tipo de câncer tem para aumentar a taxa de remissão – que está relacionado às chances de voltar a ter a doença posteriormente.

Como é feito o diagnóstico da leucemia?
Ana Carolina: Primeiro, o paciente vai procurar algum médico clínico porque vai notar que está um pouco mais cansado, que está tendo algum sangramento anormal ou umas manchas roxas pelo corpo. O clínico vai pedir um hemograma completo e vai perceber alterações nas taxas de hemoglobinas, leucócitos e plaquetas. Aí ocorre o encaminhamento para o hematologista, que fará um exame do sangue periférico, como chamamos, para olhar se ali já tem alguma célula doente. Mas isso não exclui a necessidade de fazer uma biópsia de medula. Colhemos um pouco de sangue e mandamos para os locais específicos: genética, biologia molecular, imunofenotipagem. Nestas áreas, sim, o diagnóstico avançou. Muito anos atrás, não havia alguns marcadores que poderíamos olhar na biologia molecular, por exemplo, para identificar um melhor ou pior prognóstico.

No caso da leucemia, há algum fator de risco que pode aumentar as chances de ter a doença, como ocorre em alguns outros cânceres?
Ana Carolina: A leucemia tem alguns fatores que aumentam o risco, mas que não são tão correlacionados como em outros cânceres – pulmão e intestino, por exemplo. Alguns tipo de quimioterapia e radioterapia podem aumentar o risco de ter leucemia, além do tabagismo e algumas substâncias usadas pela indústria química, como benzeno.

Em quais situações é necessário um transplante de medula?
Ana Carolina: O transplante ocorre nas leucemias em que identificamos marcadores genéticos de mau prognóstico. Nestes casos, sabemos que sem o transplante o paciente pode até entrar em remissão, mas há chances muito grandes de a doença voltar. O transplante é feito nestes pacientes de alto risco e naqueles que não tinham indicação de transplante inicialmente, porém por algum motivo a doença voltou.

Como é o tratamento destes pacientes hoje no Hospital Dona Helena?
Ana Carolina: Temos uma equipe multidisciplinar, porque todo diagnóstico de câncer mexe muito com o paciente como um todo. Então é importante ter sempre psicólogos, terapeuta ocupacional, nutricionista e a própria equipe de enfermagem oncológica.

Há algumas atitudes para tentar prevenir ou ter um diagnóstico mais antecipado da leucemia?
Ana Carolina: Uma diagnóstico antecipado é um pouco mais difícil por se tratar de uma doença bem aguda. A pessoa pode fazer um exame de sangue de rotina e estar tudo ok, e daqui dois ou três meses se sentir cansada, voltar a fazer o exame e ter um diagnóstico de leucemia. Hábitos de vida saudáveis, não fumar, ter uma alimentação com comida de verdade – sem enlatados e industrializados, mais orgânicos e com menos agrotóxicos – e atividade física. Todos esses são fatores que contribuem para evitar, não só a leucemia, como outros tipos de câncer e doenças.

Os tipos de leucemia
As leucemias podem ser classificadas de duas formas: pela evolução e pelo tipo de efeito nos glóbulos brancos.

Pela evolução
– Agudas: as células malignas se encontram numa fase muito imatura e se multiplicam rapidamente, causando uma enfermidade agressiva. Este tipo é mais comum na infância.
– Crônicas: a transformação maligna ocorre em células-tronco mais maduras. A doença costuma evoluir lentamente, com complicações que podem levar meses ou anos para ocorrer. Este tipo é raro em crianças.

Pelo efeito nos glóbulos brancos
– Leucemia linfoide, linfocítica ou linfoblástica: afeta as células linfóides, sendo mais frequente em crianças;
– Leucemia mieloide ou mieloblástica: afeta as células mielóides e é mais comum em adultos.

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