Janeiro Branco: esgotamento mental das mães pode ter sintomas semelhantes ao burnout

O cansaço extremo que algumas mães sentem ao terem que conciliar as tarefas de cuidar dos filhos, sem deixar de lado as exigências do trabalho e a rotina da casa, pode levar a um esgotamento mental que se assemelha à Síndrome de Burnout.

A Síndrome do Burnout está incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial de Saúde (OMS) como doença ocupacional. O documento não relaciona o quadro à maternidade, mas sim às atividades ligadas ao trabalho profissional.

Mas, com o debate recente sobre a economia do cuidado e o quanto as tarefas domésticas e da educação dos filhos recaem primariamente às mulheres, o termo burnout passou a ser associado também ao esgotamento extremo ligado à maternidade, como se elas experimentassem um “apagão” após serem tão exigidas.

Mães de ‘primeira viagem’ são mais vulneráveis ao esgotamento

De acordo com a psicóloga hospitalar Virginia Tavares Bonon, supervisora do Mater Dei Santa Clara (MG), este esgotamento é mais significativo em mães de primeira viagem e que ainda estão com os bebês pequenos. Nesta fase, os bebês exigem mais cuidado e atenção, ao mesmo tempo em que a mulher ainda está se adaptando à nova rotina familiar e profissional.

Durante as férias escolares, essa sobrecarga pode ser ainda maior, já que muitos berçários e creches também fazem uma pausa. Ao mesmo tempo, mães que retornam ao trabalho podem ser submetidas a uma pressão por performance e resultados nas empresas que exigem uma dedicação acima do que é saudável, considerando todas as atividades exercidas dentro e fora de casa.

“O burnout sempre foi associado à doença ocupacional, mas atualmente ganhou essa nova ‘camada’ no universo parental, que é o burnout materno”, aponta Virginia “Culturalmente, espera-se que essa mãe cuide do bebê de forma ideal, de acordo com um padrão de comportamento, mas nem sempre ela consegue corresponder a essas expectativas. Essa fase é de adaptação, e não de romantismo”. A psicóloga reforça que o termo é polêmico e não tem validação científica, mas explica o quadro geral em que muitas mulheres são submetidas.

O conceito de esgotamento materno surgiu no início dos anos 1980 e, mais recentemente, tem recebido atenção crescente. O estudo Síndrome de Burnout Materno: Fatores Contextuais e Psicológicos Associados, da Universidade Paris Descartes, explora o termo dentro do aumento das discussões em torno do papel da mulher e das disparidades de gênero nos cuidados das crianças.

Sintomas do burnout

De acordo com a OMS, os sintomas da Síndrome de Burnout incluem:

  • Sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia;
  • Aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho;
  • Redução da eficácia profissional.

No caso do burnout materno, Virginia acrescenta outros sinais, como a tristeza profunda por não corresponder aos ideais de maternidade; isolamento social ou dificuldade de pedir ajuda; falta de energia para realizar as tarefas cotidianas; mudanças de humor abruptas e frustrações constantes; restrição de sono; e alimentação desregrada.

O quadro fica ainda mais delicado quando não há um parceiro ou parceira participativos ou uma rede de apoio, seja ela familiar ou profissional, para poder dividir as tarefas diárias e o planejamento e gerenciamento da casa e educação das crianças.

Saúde mental na maternidade

Virginia recomenda que a saúde mental na maternidade seja observada de perto pelas próprias mulheres, mas também por familiares e amigos para, aos primeiros sinais, buscar ajuda profissional de especialistas, como psicólogos e psiquiatras.

Estes médicos vão diferenciar os sintomas e diagnosticar o quadro, que pode incluir outros transtornos ligados à maternidade – como a depressão pós-parto, por exemplo. Há também o “baby blues” ou tristeza pós-parto, causado por flutuações hormonais, fadiga e adaptação à maternidade, um quadro que surge no período logo após o nascimento do bebê.

Por isso, é importante passar por uma avaliação para verificar o que está de fato acontecendo e ter acesso ao diagnóstico preciso. Buscar apoio e dividir as tarefas físicas e mentais nos cuidados das crianças também é importante para manter a saúde mental em dia. Afinal, cuidar da saúde mental não representa fraqueza. Isso é sinal de autocuidado e atenção para toda a família.

Leia também:

Matérias
relacionadas