A esclerose múltipla é uma doença neurológica crônica que ocorre como uma reação do sistema imunológico contra o próprio sistema nervoso central, causando lesões no cérebro e na medula espinhal. Ou seja, ela é autoimune. De acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM), cerca de 40 mil pessoas no país são afetadas pela doença, que é lembrada todos os anos no dia 30 de maio. Conhecer os primeiros sinais é fundamental para ter um diagnóstico precoce, um tratamento mais eficaz e melhorar a qualidade de vida.
A doença ocorre quando as células de defesa do organismo atacam a bainha de mielina, a camada isolante que envolve os nervos. Esse processo resulta em inflamação e danos às fibras nervosas, interrompendo a comunicação entre o cérebro e o corpo. Embora as causas exatas sejam desconhecidas, já se sabe que fatores genéticos e ambientais desempenham um papel significativo no desenvolvimento da doença.
Como identificar sinais da esclerose múltipla
Os sinais e sintomas iniciais da esclerose múltipla variam dependendo das áreas do sistema nervoso que a doença afeta e podem ir de leves a graves. Alguns dos primeiros sinais mais comuns são:
– fadiga intensa
– visão embaçada ou dupla
– dificuldades na coordenação e equilíbrio
– alterações fonoaudiológicas
-espasticidade (distúrbio do movimento que se manifesta com o aumento do tônus muscular, que se torna mais aparente com movimentos de alongamento rápidos)
– parestesia (sensação de formigamento ou dormência nas mãos, pés, pernas e braços, boca ou orelhas)
– transtornos cognitivos
– transtornos emocionais
De acordo com a neurologista do Núcleo de Esclerose Múltipla e Doenças Desmielinizantes do Hospital Moinhos de Vento, Maria Cecília Vecino, “o diagnóstico precoce é fundamental, pois define o prognóstico a médio e longo prazo”. Iniciar o tratamento de forma rápida tem efeitos positivos na qualidade de vida dos pacientes. “Por isso, é muito importante que a investigação seja feita logo no início e que o tratamento comece da forma mais rápida possível”, afirma a médica.
Como é feito o diagnóstico?
Para que seja feito o diagnóstico são necessários exames clínicos, ressonância magnética e análise do líquido cerebrospinal. Consultar um neurologista ao observar os primeiros sinais da doença é fundamental. “No início dos anos 90, não havia tratamento para a esclerose múltipla. Esse cenário mudou muito e, hoje, temos diversas possibilidades, que permitem prognósticos mais positivos para os pacientes”, diz Vecino.
“Há dois tipos de medicação disponíveis: orais e infusionais. As orais são disponibilizadas somente pelo SUS. No Hospital Moinhos de Vento, fazemos infusão de todos os medicamentos e estamos retomando o Programa de Transplante de Medula, que é indicado para casos mais graves.”
Pesquisas avançaram desde a década de 90
Há duas grandes áreas de pesquisa em andamento sobre a esclerose múltipla. A primeira busca entender o mecanismo inflamatório da doença. “Estamos evoluindo em várias frentes, desde medicações iniciais, como interferons e acetato de glatirâmer, até anticorpos monoclonais e outros medicamentos específicos”, conta a neurologista.
A outra linha é a da remielinização, que tenta reparar os danos. “Esses estudos focam em recuperar a mielina, onde ocorre a principal agressão ao neurônio”, explica a médica.
Há também estudos sobre a necessidade de internação para casos mais graves, como um recente do Moinhos de Vento, que apontou que a hospitalização para o tratamento de surtos deve ser reavaliada – surto é a forma como é chamada a manifestação aguda da doença. Maria Cecília Vecino junto de uma colega também neurologista no Moinhos de Vento, analisou 332 hospitalizações de 153 pacientes, apontando a necessidade de um modelo de cuidado mais ambulatorial. Vecino explica que “o atendimento ambulatorial permite que o paciente mantenha uma vida normal, trabalhando, estudando ou até descansando em casa, sem a necessidade de hospitalizações frequentes”.
Além do mais, quanto mais “normal” for a vida do paciente com o diagnóstico de esclerose múltipla, melhor, já que os desafios emocionais também são significativos. “O choque inicial é muito grande, principalmente porque ainda há muitos tabus relacionados à doença. Nosso trabalho é desmistificar e auxiliar em todas as necessidades”, diz a neurologista.
No Moinhos de Vento, a assistência desses pacientes é feita por uma equipe multidisciplinar formada por neurologista, fisioterapeuta, fonoaudióloga, profissionais de enfermagem, urologista, ginecologista, psiquiatra e psicólogo. “Também trabalhamos com o Núcleo da Fertilidade para auxiliar no planejamento familiar”, acrescenta a médica.
Um dos objetivos, também, é informar e conscientizar a população, pacientes, familiares, neurologistas e as equipes multiprofissionais sobre a esclerose múltipla. “Nosso objetivo é desmistificar a doença, educar e fornecer suporte contínuo”, afirma Vecino.
É preciso se atentar para os sinais da doença e consultar sempre um especialista em caso de dúvidas. O diagnóstico precoce é a melhor forma de acompanhar a doença e combater seus efeitos.
Siga o Saúde na Saúde nas redes sociais