Entenda por que se atentar também para as vacinas tradicionais ao longo da pandemia

As vacinas em geral são uma parte importante de saúde individual e pública em todas as fases da vida. Inclusive agora

O tema do momento são as vacinas contra a Covid-19, mas outros imunizantes também merecem a sua atenção. De 24 a 30 de abril, a Organização Pan-Americana da Saúde realiza a Semana de Vacinação nas Américas e, em plena pandemia, o alerta é importante: não se pode descuidar das vacinas básicas, previstas no calendário tradicional. Elas ajudam a evitar que outras infecções aflijam a população, novas comorbidades agravem quadros de Covid e ainda mais pessoas precisem de hospitalização em um momento de leitos tão concorridos.

Quem deve se preocupar? Adultos também precisam de vacinas? E como deve proceder quem perdeu o cartão de vacinação? O Saúde da Saúde tirou estas e outras dúvidas com o médico Claiton Brenol, coordenador do Centro de Imunização do Hospital Ernesto Dornelles, de Porto Alegre.

Saúde da Saúde – Num momento em que se fala tanto sobre Covid-19, qual é a importância de se atentar para o calendário tradicional de vacinação?
Claiton Brenol – É muito importante mantê-lo em dia. A vacinação é a medida preventiva de maior impacto na diminuição da ocorrência de diversas infecções em qualquer faixa etária. Sabendo também que a prescrição específica de vacinas durante as revisões de saúde tem impacto positivo no aumento da cobertura de imunizações, é fundamental que os médicos e equipes multidisciplinares sigam as recomendações do governo e sociedades médicas científicas.

Como saber quais tomar em cada momento?
O Calendário Básico de Vacinação é definido pelo Programa Nacional de Imunizações e corresponde ao conjunto de vacinas consideradas de interesse prioritário à saúde pública no país, do nascimento à terceira idade, distribuídas gratuitamente na rede pública. Esse calendário pode ser complementado com uma série de orientações específicas para cada faixa etária e também visando a saúde do trabalhador exposto a riscos e de pacientes portadores de diversas doenças, as chamadas comorbidades.

Se uma pessoa perdeu o cartão de vacinação e não tem certeza sobre o seu histórico, deve tomar tudo de novo? Como proceder?
É uma situação comum na prática clínica. Apenas vacinas devidamente registradas devem ser consideradas válidas. Para uma avaliação correta, é necessário levar em consideração uma série de aspectos: idade, profissão (riscos ocupacionais) e presença de doenças, bem como uso de medicamentos que agem sobre o sistema imunológico. Diante da falta do registro, considera-se o paciente não vacinado e todas as vacinas indicadas para ele devem ser recomendadas. De qualquer maneira, o ideal é que um médico seja procurado para aconselhamento.

Que outras vacinas não inclusas no calendário podem ser encontradas na rede privada?
Muitas só estão disponíveis no setor privado. Em alguns casos, devem ser prescritas. Como exemplo, podemos citar o esquema de vacinação contra pneumonia em pacientes com doenças reumáticas. Sabe-se que a pneumonia pneumocócica é uma grande causa de morbidade e mortalidade nesses pacientes. No SUS, apenas a vacina polissacarídica 23 (VPP13) está disponível de maneira contínua, enquanto que o esquema vacinal mais adequado contém a vacina conjugada 13 (VPC13).

Quando não se vacinar?
Existem situações específicas nas quais se deve ter um cuidado maior. A indicação de vacinas com componentes vivos atenuados requer muita atenção por parte dos médicos e pacientes. Em geral, são contraindicadas durante o tratamento com imunomoduladores ou imunossupressores, incluindo doses mais elevadas de corticosteroides (mais do que 20 miligramas ao dia). É o caso da vacina contra a febre amarela.

Por que a vacina da febre amarela costuma ser tão mencionada quando se fala em contraindicações?
Ela é contraindicada em vários cenários clínicos, como em pacientes com imunodeficiências, indivíduos com imunossupressão secundária à doença ou terapias imunossupressoras – pacientes em quimioterapia, terapia imunobiológica e transplantados. Ela também deve ser evitada em indivíduos que apresentaram hipersensibilidade grave ou doença neurológica após dose prévia da vacina e em pacientes com reação alérgica grave à proteína do ovo. O tempo recomendado entre a descontinuidade dos medicamentos imunossupressores e a administração de vacinas vivas atenuadas é variável e sua administração precisa de avaliação médica prévia.

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