Doença de Parkinson: como estão os avanços nas pesquisas?

A doença de Parkinson é um distúrbio neurológico do movimento (progressivo e degenerativo) que afeta milhares de pessoas em todo o mundo. Conforme avança, a condição deixa o portador cada vez mais debilitado, tornando difícil ou impossível a realização de atividades diárias simples, como tomar banho, se alimentar sozinho e se vestir.

No Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, conversamos com especialistas de hospitais associados à Anahp para entender mais sobre a enfermidade, que acomete mais de 4 milhões de pessoas no mundo – estima a Organização Mundial da Saúde.

É o caso do pároco Valnei Reghelin. Mais de 20 anos se passaram desde que ele começou a perceber os primeiros sinais dos tremores nas mãos. Foi em março de 2015 que uma cirurgia para reverter sintomas do Parkinson, feita no Hospital Marcelino Champagnat, mudaria a sua vida.

“Durante as consultas, os médicos explicavam que a doença poderia me tirar os movimentos das pernas a ponto de depender de uma cadeira de rodas. Por isso, não exitei em realizar o procedimento o mais rápido possível e, hoje, afirmo que essa cirurgia trouxe uma mudança muito grande na minha vida”, conta o paciente. Aos 57 anos, ele leva uma vida muito próxima do normal, e segue com o acompanhamento de especialistas.

Ele é tratado com ECP – Estimulação Cerebral Profunda, por meio do implante de um marca-passo cerebral. Essa terapia tem evoluído desde os anos 1980, quando começou a ser indicada para pacientes que estão na fase intermediária da doença. “O melhor resultado é a combinação da cirurgia com a dose exata de medicação. A doença não é curada, mas a soma dos dois fatores eleva a longevidade e traz mais qualidade de vida para os pacientes”, explica o neurocirurgião dos hospitais Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, Alexandre Novicki Francisco.

“Existem inúmeros medicamentos em desenvolvimento. Entretanto, todos eles tratam somente os sintomas, e não a causa do problema”, conta o neurologista Ricardo Nogueira, do Hospital Nove de Julho. Segundo o especialista, há diversos estudos promissores, mas ainda é cedo para falar em cura. “Atualmente, há um remédio em estudo que tem o potencial de reduzir a proteína acumulada no cérebro do paciente com Parkinson. Esse seria o primeiro medicamento a atuar no mecanismo de lesão da doença, funcionando então como um neuroprotetor nos indivíduos susceptíveis. No entanto, os resultados ainda precisam ser confirmados em estudos com um maior número de pacientes”.

Um projeto de pesquisa liderado pela cientista e neurologista Katherine Athayde Teixeira de Carvalho, do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, busca o desenvolvimento de um novo tratamento à base de nanomedicamentos, capaz de impedir a morte dos neurônios, preservando a qualidade de vida dos portadores e reduzindo os custos de tratamento.

“As células-tronco têm capacidade regenerativa e potencial de diferenciação. Assim, espera-se o desenvolvimento de um nanomedicamento seguro”, explica a pesquisadora. A nova terapia será testada por via nasal e endovenosa.

5 perguntas e respostas, com Ricardo Nogueira, neurologista do Hospital Nove de Julho

É possível prevenir a doença de Parkinson?

Não. A Doença de Parkinson é uma doença degenerativa complexa, que resulta da interação de fatores genéticos e ambientais, por exemplo. Portanto, não tem como prevenir. Mas existem alguns agentes, como certos pesticidas, que podem desencadear a doença e/ou acelerar o seu processo em indivíduos geneticamente predispostos. Importante ressaltar que existem algumas medidas para reduzir o risco de desenvolver a doença, como o exercício físico.

É possível que pessoas jovens desenvolvam a doença?

Sim. Apesar da maior parte do acometimento ser em idosos, existe um tipo de Parkinson que é denominado de “juvenil”. Por definição, ele afeta indivíduos abaixo dos 20 anos, e é extremamente raro. Adicionalmente, o Parkinson abaixo dos 50 anos também é muito pouco prevalente, cerca de 5 a 10% dos pacientes.

Há algum fator de risco que eu deva me preocupar, como a genética?

Sim, o fator genético tem influência sobre a doença. Foram identificados genes que apresentam uma significativa influência e que respondem por 10-15% de todos os pacientes com Parkinson. No entanto, os fatores genéticos ainda são poucos modificáveis (devemos considerar que existem fatores modificáveis que podem mudar o curso da doença, como a prática de exercício físico).

Em que momento eu devo buscar um especialista e como é feito esse diagnóstico?

Os três sintomas clássicos da doença de Parkinson são o tremor, rigidez (movimentos mais “engessados”) e a bradicinesia, que é a lentidão de movimentos. Quando o paciente apresenta os primeiros sintomas da doença, geralmente o processo degenerativo já está em curso há anos.

Existem alguns sintomas que são chamados não motores, e que às vezes (nem sempre!) estão associados ao início da doença. Dentre eles, está o distúrbio comportamental do sono REM, quando o paciente fica muito agitado durante o sono, e a hipotensão ortostática, quando a pressão cai muito ao se levantar. Importante que o paciente procure um médico neurologista nesses casos.

No que consiste o tratamento da doença de Parkinson?

Hoje, o tratamento consiste em administrar um remédio que aumenta (direta ou indiretamente) a concentração de dopamina no cérebro. Existe também a cirurgia para a estimulação de algumas estruturas do cérebro por meio de eletrodos (como um marcapasso), que faz com que a concentração de dopamina no cérebro também aumente. Entretanto, até hoje os tratamentos apenas repõem essa substância que falta no cérebro. O que se busca é um tratamento que reduza a degeneração.

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