Doação de Órgãos: conheça a importância da conscientização sobre o tema

O Dia Nacional da Doação de Órgãos, celebrado em 27 de setembro, foi criado para conscientizar a sociedade sobre um assunto ainda polêmico, nem sempre compreendido como deveria. A data ajuda a reforçar o alerta sobre a importância de abordar esse tema com pessoas próximas, diante das elevadas taxas de recusa de familiares para autorizar possíveis doações.

Segundo o Ministério da Saúde, uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) atribuiu esse comportamento a três motivos – que não valem só para o Brasil:

  • Incompreensão do conceito de morte encefálica (familiares de possíveis doadores acreditam, equivocadamente, que se trata de um quadro reversível);
  • Eventual falta de preparo de equipes médicas para informar a família do doador sobre o processo de doação e tudo que ele envolve;
  • E religião (há cenários em que a crença pode dificultar o processo de doação).

A Lei de Transplantes agora estabelece que, no caso de um doador morto, a decisão final sobre a doação é da família. Ou seja, não vale mais a informação que consta do documento de identidade do doador. E os órgãos passíveis de doação, neste caso, são muitos: podem ser rins, coração, pulmão, pâncreas, fígado e intestino, além de tecidos (córneas, válvulas, ossos, músculos, tendões, pele, veias e artérias).

Quanto a doadores vivos, a pessoa doadora precisa ser maior de idade e capaz juridicamente – mas há situações em será exigida autorização judicial. Neste cenário, é possível doar um dos rins, parte do fígado, parte do pulmão e medula (leia detalhes mais abaixo).

Responsável pelo Serviço de Transplante Hepático do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR), o médico José Sampaio fala sobre a importância de as equipes estarem preparadas para o momento de abordar familiares de possíveis doadores mortos, considerando a situação dramática enfrentada por todos os envolvidos.

“Exige treinamento, tato, sensibilidade. No Pequeno Príncipe especificamente, isso é elevado à décima potência, porque estamos falando de crianças. O processo de espera do doador pediátrico é mais angustiante”, explica. Na abordagem, busca-se dizer à família do doador que “esse sofrimento enorme [de perder alguém próximo] pode acabar com o sofrimento de muita gente que está há muito tempo esperando”.

A complexidade técnica, as questões éticas e a aceitação de familiares estão inseridas em um contexto no qual é imprescindível a agilidade nas decisões. Há uma corrida contra o tempo entre o momento em que se identifica a morte cerebral de alguém e a efetivação do transplante.

Sampaio diz que mesmo a recusa de familiares deve ser devidamente acolhida, sobretudo porque, na maior parte das vezes, ela decorre de falta de informação e não de uma postura pessoal contrária ao transplante.

Doação de medula óssea

O transplante de medula óssea pode curar em torno de 80 doenças – em parte, potencialmente fatais e que não permitem muito tempo de espera até que o paciente encontre um doador. No caso de crianças, cerca de metade dos encaminhamentos refere-se a quadros de leucemia, principal câncer da infância.

“Fazemos a primeira pesquisa de doadores sempre dentro da família do paciente, para vermos se tem algum doador totalmente compatível – um irmão, por exemplo. Se não tiver, procuramos no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), que é onde todos os doadores fazem seu cadastro”, explica a médica Fernanda Benini, do Serviço de Transplante de Medula Óssea do Hospital Pequeno Príncipe.

“Vale dizer que o Brasil é muito miscigenado, do ponto de vista das etnias. Então, precisamos dessa representatividade no banco de doadores de medula também”, destaca.

A inscrição no banco de doadores é feita de maneira voluntária e vale para pessoas saudáveis de 18 a 35 anos de idade. O cadastro é simples: basta ir a um banco de sangue e fazer uma coleta por meio de exame de sangue – uma pequena quantidade já é suficiente. O processo é indolor, e é essa a análise que permanece no Redome.

“No transplante de medula, o doador está vivo, não vai perder nada. É diferente de um transplante de coração, em que infelizmente alguém teve que partir. Os doadores de medula apenas dividem e, com isso, acaba multiplicando saúde. É importante ter essa conscientização”, alerta Benini.

Mitos sobre a doação de medula óssea

A médica explica que há quem confunda o transplante de medula com coluna, o que deixa muita gente com medo de fazer o cadastro para doação e o posterior transplante. Enquanto, na verdade, a medula (que pode ser entendida como nossa fábrica de sangue) fica dentro de todos os ossos. E a coleta é feita através do osso do quadril do doador.

“Ninguém encosta na coluna da pessoa doadora. Não há risco de ficar paraplégico, por exemplo, ou de ter anemia, de ficar muito tempo afastado do emprego… Muitas pessoas vêm com essa ideia, mas não tem nada a ver”, diz Benini.

Esse tipo de “ideia equivocada”, segundo a médica, inibe a doação, porque causa medos infundados. Mas, de qualquer forma, vale saber que o transplante envolve anestesia. Ou seja, o doador não vai sentir dor. E a recuperação é rápida, permitindo a volta à rotina muito rapidamente. “A cada vez que conversamos sobre isso, o assunto vai sendo desmistificado e as pessoas, talvez, fiquem mais tranquilas em se cadastrar no banco de doação.” – reforça a médica.

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