Diagnóstico precoce determina a evolução dos casos de câncer de pulmão

A detecção precoce pode ser decisiva para o prognóstico em casos de câncer de pulmão, alertam os especialistas. Mas ainda é comum casos diagnosticados já em fases já avançadas da doença, quando as chances de cura são menores. De acordo com estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), 32 mil pessoas no Brasil devem ser acometidas pela doença neste ano, e os dados de 2023 mostram que é o terceiro tipo de câncer mais comum entre os homens e o quarto entre as mulheres no Brasil.  

Ainda segundo o Inca, o tabagismo é o principal fator de risco para esse tipo de câncer – no país, sendo associado a cerca de 85% dos casos da doença. Apesar da redução no número de fumantes nas últimas décadas ter sido significativa, os efeitos do vício em nicotina ainda são sentidos pelo sistema de saúde. E há, ainda, a “febre” do cigarro eletrônico, também conhecidos como vapes.

Desde 2009, a venda dos cigarros eletrônicos é proibida no Brasil, mas mesmo assim eles são facilmente encontrados e cada vez mais utilizados, especialmente pelos mais jovens. “Os cigarros eletrônicos muitas vezes têm mais nicotina do que os tradicionais e são frequentemente direcionados a jovens e grupos vulneráveis”, afirma o pneumologista Ciro Kirchenchtejn, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC).

Se a detecção precoce ainda enfrenta desafios no país, a importância dos serviços de rastreamento se torna ainda maior. Um deles é do HAOC, que adota práticas baseadas em estudos que demonstram a eficácia dessas medidas na redução da mortalidade. As iniciativas do hospital são do Núcleo Especializado na Detecção e Tratamento de Nódulos Pulmonares, inaugurado em 2023, e que é voltado ao diagnóstico precoce e ao rastreamento de nódulos pulmonares. Esses sinais se manifestam como pequenas manchas que podem ser identificadas em radiografias ou tomografias de tórax e podem ser indicativas de câncer.  

“Todos os casos são discutidos no nosso time multidisciplinar de tórax, que conta com radiologista, pneumologista, cirurgião de tórax e oncologista. Decisões sobre acompanhamento ou investigação invasivas são amparadas por diretrizes internacionais e algumas ferramentas digitais podem ser utilizadas para predizer risco de câncer e apoiar decisões clínicas”, explica o pneumologista Gustavo Prado, que também atua no HAOC.

O público-alvo desse programa são os fumantes e ex-tabagistas. A eles é indicado que façam anualmente uma tomografia de tórax de baixa dose de radiação a partir dos 50 anos. Essa prática melhora o rastreamento e leva à descoberta de novos casos da doença de forma precoce. Desses pacientes, cerca de 30% apresentam nódulos que, na maioria das vezes, são assintomáticos e benignos, mas em até 5% dos casos podem indicar a presença de câncer de pulmão.

“O câncer de pulmão diagnosticado na forma de um nódulo pulmonar isolado, classificado como estágio I, tem altas chances de cura, com sobrevida em cinco anos superior a 85%, comparada ao cenário menos favorável da doença diagnosticada em estádios localmente avançado ou metastático (como costuma ocorrer em cerca de 75% dos pacientes que procuram o médico por sintomas)”, explica Prado.

Além de rastrear a doença, é fundamental atuar para reforçar a prevenção. Um caminho é a ofertas de serviços e orientações para parar de fumar. Ciro Kirchenchtejn lembra da importância de abordar a dependência psicológica nesse processo. “Programas de cessação devem incluir terapia cognitivo-comportamental para ajudar as pessoas a lidarem com os gatilhos emocionais e comportamentais que levam ao tabagismo”, explica. “Embora seja possível parar de fumar sozinho, a maioria das pessoas precisa de suporte adicional para ter sucesso. Programas estruturados e acompanhamento profissional aumentam significativamente as chances.”

Prado explica que o serviço do Oswaldo Cruz é preparado para também ajudar o fumante a deixar o vício. “Mais do que investigar e tratar os pacientes com imagens suspeitas ou queixas respiratórias, também investimos na conscientização sobre fatores de risco, como o tabagismo, exposições ambientais e ocupacionais.”

O combate ao câncer de pulmão começa no combate ao cigarro comum e ao eletrônico. Mas não pode parar aí. Se você é fumante ou ex-fumante, tem 50 anos ou mais, procure um serviço especializado para te ajudar. Não deixe para amanhã a decisão que pode salvar vidas.

Matérias
relacionadas