Diabéticos na pandemia: especialistas alertam para os riscos de interrupção no acompanhamento da doença

A diabetes é uma comorbidade importante para a Covid-19 e requer atenção especialmente nesta fase

Mesmo com a chegada das vacinas e a flexibilização das fases de restrição, muitas pessoas ainda se sentem inseguras em retornar às suas atividades cotidianas e mesmo realizar exames de saúde periódicos, o que preocupa especialistas. Segundo a médica clínica e nutróloga do Vera Cruz Hospital, Gisele Figueiredo Ramos, o sedentarismo, o descontrole glicêmico e a falta de acompanhamento médico podem causar uma descompensação do diabetes e, consequentemente, complicações da própria doença. “A situação ainda pode ser agravada se o paciente for infectado pelo novo coronavírus”, alerta.

O empresário Victor Astini Muniz, de 35 anos, foi diagnosticado com diabetes tipo 2 durante a pandemia. “Eu já estava acima do peso há uns dois anos e engordei mais durante o isolamento social. Fiz um checkup e busquei acompanhamento profissional para perder peso. Não imaginava que estava com diabetes – sabia que poderia estar pré-diabético ou perto disso. Ao receber o diagnóstico, eu me senti um pouco frustrado por saber que poderia ter tomado uma atitude antes”, lamenta o paciente.

Segundo o médico Marcelo Miranda, endocrinologista do Vera Cruz, houve aumento de novos casos de diabetes durante a pandemia. “O isolamento social agravou a falta de atividade física, o consumo excessivo de carboidratos, gorduras, alimentos industrializados e fast food, além do maior ganho de peso. Todos esses são fatores preponderantes para o desenvolvimento de diabetes tipo 2, o mais comum, e que se relacionam com hábitos de vida”, explica o especialista. Mas, segundo ele, estudos apontam também mais casos novos de diabetes tipo 1, que não depende desses fatores. “Acredita-se que a infecção pelo coronavírus pode ter um papel direto na capacidade do pâncreas de produzir insulina”, afirma.

Um levantamento online da Sociedade Brasileira de Diabetes, realizado com 1.701 brasileiros com a doença, identificou que 59,5% dos entrevistados apresentaram redução nas atividades físicas, 59,4% observaram variação na glicemia e 38,4% adiaram ou cancelaram suas consultas médicas durante a pandemia.

Ainda de acordo com o endocrinologista, a redução da atividade física é mais um elemento desencadeante do diabetes, mas outro fator importante é o maior tempo parado e em frente à telas, do computador, da TV e do celular, mesmo para quem conseguiu manter uma prática de exercícios físicos. “O ganho de peso e de gordura abdominal decorrente desses maus hábitos agrava ainda mais o risco de diabetes.”

Por sua vez, Gisele ressalta que os diabéticos compõem um grupo de risco da Covid-19. “Esse grupo é mais suscetível à forma grave da doença e pode precisar de internação”, afirma. A complicação em diabéticos ocorre porque o excesso de açúcar no sangue causa alterações no sistema imunológico, predispondo a pessoa a sintomas respiratórios mais exacerbados. Esses pacientes também têm maior risco de descompensação metabólica. Por isso, é tão importante garantir a continuidade do acompanhamento.

Fonte: edição do texto original do Vera Cruz Hospital. 

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