Dia Nacional da Doação de Órgãos: uma chance para continuar a vida

Criado em 2007, o Dia Nacional da Doação de Órgãos é marcado pela reflexão e conscientização. O ato, seja da compatibilidade de um doador vivo ou a partir da autorização dada pela família, significa permitir a continuidade da vida. E a campanha do Setembro Verde, acerca da data, chama justamente a atenção para essa causa.

Embora o Brasil tenha o maior programa público de transplante de órgãos de tecidos e de células do mundo, é preciso conscientizar sobre a importância de expressar esse desejo aos parentes. Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos indicam que, devido à pandemia, há uma queda no número de doadores: em 2019, foram realizados 9235 transplantes no país; em 2020, o número caiu para 7453 e, em 2021, 7425. A entidade liga um alerta também sobre o índice de “doadores por milhão da população”, o PMP, que diminuiu consideravelmente. No período pré-pandêmico, essa taxa era de 18,1 PMP; entre janeiro e junho deste ano, a média foi de apenas 15,4 doadores PMP.

O Ministério da Saúde estima que, atualmente, mais de 50 mil brasileiros aguardam na fila do transplante. Dizer “sim” à doação é fazer com que pelo menos cinco delas consigam essa segunda chance. O órgão esclarece que, para a doação acontecer, a legislação em vigor determina que a família seja a responsável pela decisão final. O que determina essa possibilidade é o quadro de morte encefálica, incompatível com a vida, irreversível e definitiva.

No caso de um doador vivo, a pessoa deve ser maior de idade e capaz, juridicamente, que pode doar órgãos a seus familiares. No caso de doador vivo não aparentado é exigida autorização judicial prévia. Um doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula ou parte dos pulmões.

Pai e filho: uma história de doação e transformação

Em julho deste ano, uma técnica pioneira em transplante de órgãos mudou a vida do empresário pernambucano Fabiano José, de 47 anos. Com cerca de 80% do fígado lesionado por metástases decorrentes de um adenocarcinoma colorretal, já operado em sua cidade natal, ele chegou ao Rio de Janeiro com dois irmãos e o filho. Isso porque, atualmente, o transplante hepático para tratamento de metástases colorretais só pode ser feito com doadores vivos – e todos a postos para realizar os testes de compatibilidade. Foi quando Fábio Vítor, de 22 anos, apresentou resultados positivos.

“Meu filho, decidido, nunca teve dúvidas. Disse que seria o doador com certeza. Só posso dizer que tudo no mundo se resume a um ato de amor”, ressaltou Fabiano, com lágrimas nos olhos.

Em junho, pai e filho passaram pelo transplante de fígado intervivos, procedimento que durou cerca de sete horas. O resultado foi positivo e pai e filho tiveram alta hospitalar no mês seguinte.

O transplante hepático vem sendo utilizado como alternativa de tratamento para casos de câncer colorretal que apresentam metástase no fígado. O procedimento inovador foi desenvolvido na Noruega e realizado pela primeira vez na América Latina no Hospital São Lucas Copacabana. A técnica, ainda pouco realizada no mundo, tem sido uma esperança para os pacientes oncológicos.

Segundo Eduardo Fernandes, cirurgião especialista em transplante de órgãos do abdome da instituição e criador do protocolo brasileiro desse tipo de cirurgia, o transplante beneficia pacientes que apresentam lesões metastáticas no fígado que são consideradas inoperáveis.

“O tumor colorretal é muito comum e, em grande parte da população que apresenta metástase hepática, ele é irressecável porque ocupa uma área muito grande do órgão ou porque as lesões são inúmeras e não é possível removê-las por meio de cirurgia. Até esse novo protocolo, desenvolvido na Noruega, a única opção de tratamento para esses pacientes era a retirada da parte do fígado atingida pelo tumor. Mas quando o câncer tomava todo o órgão, não havia nada mais a ser feito”, explica.

É nesse contexto que a substituição do fígado se faz necessária. “Para estar elegível ao procedimento, o paciente precisa ter operado o tumor primário – no caso, o colorretal – há, pelo menos, um ano, ter lesões metastáticas restritas ao fígado e consideradas irressecáveis e que a doença esteja controlada por quimioterapia”, indica o especialista.

Fonte: edição do texto originado pelo Hospital São Lucas Copacabana

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