Dia Mundial do Câncer: em que momento estão as pesquisas e tratamentos?

Você sabia que o câncer é a segunda causa de morte em todo o mundo? Segundo o Ministério da Saúde, a doença mata quase 10 milhões de pessoas por ano, a maioria (cerca de 70%) acima dos 65 anos. No entanto, até 3,7 milhões de vidas poderiam ser salvas com estratégias apropriadas de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado.

Ou seja: informar e educar a população é essencial. Por isso, a União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) estabeleceu o 4 de fevereiro como o Dia Mundial do Câncer, uma data para aumentar a conscientização sobre a doença e incentivar iniciativas de controle.

Para entender em que momento estão as pesquisas e avanços na busca pela cura, conversamos com Jayr Schmidt, médico responsável pela Imunoterapia no A.C.Camargo Cancer Center, referência mundial em tratamentos e estudos oncológicos.

O especialista participou recentemente de um procedimento de infusão das chamadas células Car-T, considerado um tratamentos mais avançados contra o câncer atualmente, e explicou ao Saúde da Saúde como funciona. Confira:

Por que o câncer é uma doença tão temida?

Durante muito tempo, o tripé do tratamento oncológico foi de cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Esse tripé continua muito importante, mas recentemente outras modalidades foram agregadas, de conceitos inovadores. Alguns exemplos são a terapia-alvo, direcionada contra alvos moleculares presentes nas doenças oncológicas; a imunoterapia, com medicamentos que podem estimular o sistema imunológico a voltar a combater o câncer; e, também, as terapias celulares e gênicas, em que você extrai células do sistema imunológico do paciente e modifica geneticamente, para que elas voltem a atacar e destruir a doença.

Apesar de tudo isso, o câncer é uma doença potencialmente fatal. Em muitos casos, é possível a cura com o tripé convencional, e outros com as novas modalidades de terapia. Mas, em alguns casos, a despeito de todos os esforços possíveis, a doença pode levar a óbito.

Na sua percepção, o diagnóstico é visto como uma sentença pelo paciente?

Na verdade, não. Cada vez mais as modalidades de câncer são tratáveis. Há uma perspectiva, e o tratamento oncológico está cada vez mais eficaz. Claro que há os efeitos colaterais e desafios a serem vencidos, mas que não inviabilizam o tratamento.

Recentemente, o senhor participou da infusão de células Car-T em pacientes no Brasil. No que consiste esse tratamento?

Nós participamos da infusão de células Car-T no protocolo de pesquisa para tratamento de mieloma múltiplo. Essa terapia consiste em retirar células do sistema imunológico do próprio paciente, os linfócitos T. Esses linfócitos são modificados geneticamente com um vetor viral. Esse vírus, modificado em laboratório, faz com que o linfócito reconheça a doença para poder atacá-la. Ou seja: a gente reprograma as células para que, quando elas voltarem ao paciente, cumpram essa função de destruir a doença.

O que o tratamento com as células Car-T representa na luta contra o câncer?

O tratamento é um avanço bem significativo, porque age contra doenças que não responderam a tratamentos existentes como quimioterapia, imunoterapia e transplante de medula óssea. Há perfis de doenças em que a expectativa de sobrevida é de seis meses ou menos. Quando falamos do Car-T, falamos de uma terapia com potencial curativo de 40% a 50% dos casos. É algo muito significativo em termos de agregar benefício clínico e chance de cura para esses pacientes.

E qual é o momento em que estamos, agora, sobre os tratamentos contra o câncer?

O câncer é uma doença que ainda demanda muita pesquisa, de maneira contínua, para que cada vez mais a gente entenda os mecanismos dos diversos tipos e desenvolva novos tratamentos.

O que temos de produtos de células Car-T, hoje, são fruto de desenvolvimento de pesquisas que começaram por volta de dez anos atrás. E vale lembrar que essas terapias já estão disponíveis em outros países, como, por exemplo, nos Estados Unidos desde 2017. A gente tem um atraso de pelo menos cinco ou seis anos para essas terapias chegarem ao Brasil.

Estamos na primeira onda do tratamento aqui, mas a gente vislumbra um futuro promissor para essa terapia. Outros tipos de células Car-T têm sido desenvolvidos, com o potencial de ampliar o tratamento para mais tumores e doenças.

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