Dia Mundial de Conscientização da Epilepsia: você realmente conhece o transtorno?

No dia 26 de março é comemorado o Dia Mundial de Conscientização da Epilepsia – também chamado de Purple Day. A data exalta a importância de desestigmatizar o transtorno que, no mundo, afeta 50 milhões de pessoas, ou seja, uma em cada 100 pessoas.

O que é epilepsia?

A epilepsia é uma doença de ordem neurológica. Ela produz descargas elétricas anormais no cérebro, causando crises epilépticas ou convulsões, uma vez que as descargas, além de irregulares, ocorrem de maneira excessiva. A origem pode ser congênita, isto é, presente desde o nascimento, ou adquirida por meio de traumatismos cranianos, infecções, uso excessivo de álcool e drogas, etc.

Apesar das formas de desenvolvimento da epilepsia serem conhecidas, em 50% dos casos a causa é desconhecida. Mesmo com cerca de 70% dos casos serem facilmente controlados, ainda existe muito preconceito e falta de informação sobre o assunto, daí nasce a importância de uma data como o Dia Mundial de Conscientização da Epilepsia.

Ataque epiléptico

As formas que a epilepsia se manifesta no corpo são várias. O transtorno pode, por exemplo, afetar a coordenação motora e causar alterações da consciência, da sensibilidade ou sensoriais.

Segundo a neurologista do Hospital Santa Paula, Luciana Rodrigues, “a manifestação clínica vai depender da área do cérebro” que é afetada. “Por exemplo, crises da área motora do braço se manifestam com movimentos repetitivos do membro superior; crises do lobo temporal se manifestam com alterações da consciência e movimentos sutis de boca e mãos; já crises da área da visão se apresentam com fenômenos visuais e oculares”, explica.

Outro conhecido sintoma de epilepsia são as convulsões. Mas é importante lembrar, especialmente no Dia Mundial da Conscientização da Epilepsia, que nem toda pessoa epiléptica sofre com esse sintoma.

No entanto, é fundamental acabar com mitos sobre as crises de convulsão, como a crença de que ela seja transmissível. Veja alguns cuidados necessários:

Para quem sofre da condição:

  • Ambientes com carpetes são mais seguros, pois diminuem o impacto em caso de queda. Se você mora com mais pessoas, evite trancar a porta de espaços como o banheiro e o quarto para facilitar os primeiros socorros, caso necessário;
  • Não se limite: interaja de forma plena em todas as atividades escolares ou do trabalho;
  • Pratique esportes e atividades de lazer com os amigos;
  • Evite entrar no mar ou na piscina sozinho, porque, em caso de crise, existe o risco de afogamento;
  • Não fique em lugares altos sem grade ou proteção;
  • Não manuseie máquinas que possam feri-lo no caso de perda da consciência;
  • Lembre-se que a crise, na maioria das vezes, é inofensiva. É a alteração da consciência ou a queda que podem levar a acidentes com consequências graves.

Para auxiliar alguém em crise:

  • Coloque a pessoa deitada e retire objetos que possam lhe machucar de perto. A área ao redor deve ficar livre;
  • Deixe a pessoa se debater. Não a segure, não dê tapas, não jogue água ou qualquer outra substância líquida;
  • Coloque um objeto macio, como uma almofada, travesseiro ou até roupas, debaixo da cabeça da pessoa, para que não bata no chão com os movimentos ou abalos;
  • Não insira nenhum objeto na boca do paciente. Geralmente, a mordedura da língua ocorre logo no início da crise, por isso, é desnecessário tentar interferir, além de poder engasgar quem está em crise;
  • Levante o queixo para facilitar a passagem de ar e vire a pessoa para o lado. Limpe toda a saliva ou sangue que sai pela boca para que ela permaneça seca, facilitando a entrada de ar e evitando a aspiração de sangue ou saliva.
  • Afrouxe as roupas da pessoa;
  • Crises com duração maior que cinco minutos ou que se repetem em um intervalo de cinco minutos sem que o paciente recupere a consciência, devem ser tratadas como emergência. Nesses casos, chame uma ambulância.
  • É normal ocorrer sonolência após a crise.

Tratamentos para Epilepsia

A Epilepsia não tem cura, mas existem abordagens de tratamentos que podem ajudar a pessoa diagnosticada a manter o transtorno sob controle. Mas é importante saber que o tratamento não deve visar apenas o controle dos sintomas, mas também a melhora da qualidade de vida do paciente. “Na maioria dos casos, o indivíduo é capaz de trabalhar e levar uma vida normal”, afirma Luciana.

De acordo com a neurologista, houve um avanço importante nas últimas duas décadas em relação ao tratamento, tanto através de medicamentos, quanto em caso cirúrgico. Ela destaca que os remédios utilizados atualmente se dão melhor com o organismo humano, o que reduz consideravelmente os efeitos colaterais que podem ser causados. Esse é um importante avanço nos tratamentos para Epilepsia, já que a maioria dos casos são tratados por medicamentos orais.

Nos casos em que tomar os remédios não proporcione o controle do transtorno, intervenções cirúrgicas podem ser indicadas. Mas é fundamental ter cuidado nesta etapa, pois os critérios para chegar a essa abordagem são rigorosos e incluem exames especializados como avaliação neurofisiológica (eletroencefalograma, por exemplo), exames de imagens e avaliação neuropsicológica.

“Um desses exames é a monitorização por vídeo-eletroencefalograma. Neste exame o paciente é internado em uma unidade hospitalar e monitorizado continuamente para detectar e caracterizar o início e o tipo de crise. É com essa investigação minuciosa que a equipe multidisciplinar, formada pelo neurologista, neurofisiologista, neurocirurgião, psicólogo, radiologista e assistente social, decidirá a conduta cirúrgica”, conclui a especialista.

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