Saúde da Mulher: prevenir o HPV é evitar o câncer de colo de útero

O Dia Internacional da Luta pela Saúde da Mulher (28/5) é mais uma oportunidade de alerta para prevenção de uma doença que chega a alcançar de 25% a 50% da população feminina, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA): o HPV, sigla para Human Papillomavirus. Em português, o papilomavirus humano é um nome genérico de um grupo com mais de 100 tipos diferentes de vírus, sendo 14 deles de alto risco (que podem provocar o câncer de útero).

Em algum momento de sua vida, a maioria das mulheres sexualmente ativas será infectada e algumas podem apresentar infecções recorrentes. “O HPV infecta pele e mucosas de localizações anatômicas, podendo acometer várias partes do corpo humano e causar diversos tipos de doenças benignas ou malignas. Esse vírus acomete, preferencialmente, o trato anogenital”, explica Roberta Pereira, ginecologista na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

A transmissão do HPV acontece predominantemente por via sexual, mas também pode acontecer por meio da saliva, por perfuração ou corte com objetos contaminados pelo HPV e também da mãe infectada para o filho no momento do parto.

Ainda existe um tabu que relaciona o HPV à promiscuidade, e é importante acabar com essa ideia. Estima-se que o risco de uma pessoa ter contato com o HPV ao longo da vida chega a ser de 80%, ou seja, como é uma infecção muito frequente, basta ter uma vida sexual ativa para acabar sendo infectado. “Sabe-se que metade dos jovens até 25 anos apresentam algum tipo de HPV”, diz Elaine Wendland, médica epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento, do Rio Grande do Sul.

Sintomas e diagnósticos

O HPV pode ser silencioso e, na maioria dos casos, não apresentar sintomas. Mas alguns subtipos podem provocar lesões, como verrugas e condilomas visíveis a olho nu e outras detectáveis apenas por meio do exame colposcópio e citológico (Papanicolau). Por isso, os exames preventivos regulares são tão importantes.

As verrugas, quando aparecem, manifestam-se dentro e fora dos genitais de homens e mulheres – na vulva, vagina, colo de útero, região perianal, ânus e região pubiana. Apesar de menos frequente, também podem aparecer na mucosa nasal, oral e laríngea.

Vale dizer que o vírus do HPV pode ser eliminado espontaneamente pelo organismo, sem que a pessoa sequer saiba que tenha sido infectada. “Nenhuma terapia garante a erradicação do HPV, o que se sabe é que a imunidade é a responsável por erradicar a maioria dessas infecções ao longo do tempo”, explica Pereira.

Uma vez diagnosticado o HPV, a ginecologista explica que os fatores que vão influenciar a escolha do tratamento a ser seguido são: local acometido, tipo, tamanho de lesão, tempo de aparecimento. E podem ser empregados métodos químicos, cirúrgicos, eletrocauterização, laser e crioterapia.

Câncer de colo de útero

Nem todo HPV evolui para um câncer, mas o câncer não existe sem uma infecção adquirida previamente. “O risco oncogênico viral é ditado pela associação entre o tipo de HPV e o tipo de lesão tecidual desencadeada por sua infecção. Alguns estão associados exclusivamente a lesões benignas, como as verrugas e as lesões de baixo grau, de improvável progressão para malignidade, sendo classificados como baixo risco”, explica Renata Pereira.

Os tipos 6 e 11 são considerados não oncogênicos, associados a verrugas genitais de homens e mulheres. Já os tipos 16 e 18 são responsáveis por causar até 70% dos cânceres de colo de útero e lesões pré-cancerosas.

De acordo com dados da organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o câncer de colo de útero é a principal causa de morte entre mulheres na América Latina e no Caribe. Apesar de ser altamente evitável, a doença mata 35,7 mil mulheres a cada ano nas Américas – a maioria (80%) desses casos ocorre nessa região. As taxas de mortalidade que são três vezes mais altas na América Latina e no Caribe em relação à América do Norte destacam as desigualdades existentes em termos de renda, gênero e acesso aos serviços de saúde.

A principal característica do câncer causado pelo HPV é que ele demora muitos anos para se desenvolver. As primeiras manifestações surgem entre 2 a 8 meses, mas pode demorar até 20 anos para aparecer algum sinal de infecção que, na maioria dos casos, é assintomática.

“Mais do que uma infecção sexualmente transmissível, é um vírus que causa câncer. Essa é a grande importância dessa doença, e daí a relevância da prevenção”, explica a infectologista Wendland. Considerando a ausência de sintomas em muitos casos, a investigação do especialista é orientada pela identificação precoce do câncer, pois ele pode ser tratado e curado.

O diagnóstico do câncer de colo de útero é feito pelo exame histopatológico. O tratamento vai depender do estágio da doença, e entre as opções estão cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Os cuidados paliativos, para os casos mais graves, também são um elemento essencial do tratamento para aliviar a dor e o sofrimento.

Prevenção

A via sexual não é a única forma de contaminação, mas é a principal. Portanto, o uso de preservativo é uma medida indispensável de saúde e higiene para evitar a disseminação não só do HPV, mas de outras infecções sexualmente transmissíveis. Lembrando que a doença é transmitida também por via oral, não apenas com a penetração.

Outra medida preventiva é a vacinação antes do início da vida sexual. Os imunizantes protegem contra os tipos 16 e 18 do HPV, sendo recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e aprovadas para uso em muitos países. “As mulheres vacinadas apresentam menos risco, mas não estão isentas do risco de câncer cervical. Importante deixar evidente que as mulheres vacinadas devem continuar com o acompanhamento ginecológico e com a coleta de citologia cervical de rotina”, afirma Pereira.

A vacina contra o HPV

A ginecologista da Rede São Camilo explica que atualmente existem três vacinas disponíveis: a quadrivalente contra HPV (6,11,16 e 18), a cervarix (HPV 16 e 18) e a HPV 9 (nonavalente HPV 52, 45, 33, 31, 18, 16 e 58, 11 e 6) – essa última é indicada para homens e mulheres entre 9 e 45 anos, com três doses a partir dos 15 anos.

No Brasil, o Programa Nacional de Imunização (PNI) contempla atualmente meninas e meninos de 9 a 14 anos com a vacina quadrivalente (4V), que é oferecida via SUS com esquema de duas doses. Estão inclusos nos grupos prioritários pacientes oncológicos e pessoas com HIV, que estejam na faixa dos 9 a 45 anos.

Em 2015, foi licenciada e recomendada nos Estados Unidos, pela ACIP (Advisory Committee on Immunization Practices), uma nova formulação da vacina que, além dos quatro tipos de HPV incluídos na 4V, contempla cinco outros tipos oncogênicos de HPV (31, 33, 45, 52 e 58). Chamada Gardasilâ 9V, sua comercialização foi liberada em março deste ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em clínicas privadas.

Na rede básica gratuita de saúde, a vacina disponível permanece sendo a quadrivalente, ou Gardasil 4V.

Matérias
relacionadas