Como os idosos devem se proteger do novo coronavírus, e como os mais jovens podem ajudá-los

Os idosos estão entre as pessoas mais vulneráveis ao novo coronavírus. Isso não significa que apenas eles se contaminam, mas que há maior possibilidade de desenvolverem a forma mais grave da doença. E por que isso acontece? Como os idosos podem se proteger? E como os mais jovens podem ajudá-los? 

A coordenadora médica da S.O.S Vida, Patrícia Espiño, explicou essas e outras questões importantes nesta entrevista ao portal. Confira: 

Porque o novo coronavírus é mais perigoso para os idosos? Quais as idades com maior risco?

Patrícia Espiño: Podemos elencar dois principais aspectos que justificam o maior cuidado com os idosos em relação ao coronavírus. O primeiro é o declínio gradual da função do sistema imune. Sabemos que o sistema imune passa, com o decorrer do tempo, a reduzir sua atividade, propiciando aparecimento e desenvolvimento de infecções – algumas delas ditas como “oportunistas”. Nos idosos, o número de glóbulos brancos (leucócitos) encontra-se reduzido ou com atividade reduzida, e são estas células as responsáveis pela defesa do nosso organismo contra patógenos (bactérias, vírus, fungos, etc). No caso do coronavírus, está acrescido o fato de que ele pode também danificar as células do sistema imune, deixando os idosos em situação ainda mais vulnerável.

O segundo fator é a presença de doenças crônicas. Assim como o sistema imune, outros sistemas vão apresentando alterações nas suas funções e, com isso, há uma maior prevalência de comorbidades – como hipertensão arterial, diabetes e hipotireoidismo. Esses fatores são indicadores de maior debilidade da pessoa e esse fato acarreta em casos de infecções mais graves; assim como obesidade e sedentarismo. 

Segundo o CDC (Centers for Disease Control and Prevention), as pessoas com idade maior ou igual a 65 anos estão mais suscetíveis à infecção pelo Covid-19, mas também se destacam outros grupos como: habitantes das chamadas Instituições de Longa Permanência; pacientes com doença pulmonar crônica ou asma moderada-grave; doenças cardiovasculares; câncer e condição de imunodeficiência; obesidade (Índice de Massa Corpórea maior que 40); ou presença de certas condições médicas, particularmente se não foram controladas, como diabetes mellitus, doença renal crônica ou doença hepática.

Apesar de o grupo suscetível descrito pelo CDC ser de maiores de 65 anos, o Ministério da Saúde define como grupo de risco pessoas acima dos 60 anos, e aquelas com doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares.

Os efeitos do vírus só são mais grave nos idosos?

Patrícia Espiño: A gravidade do vírus está ligada à mortalidade relacionada ao patógeno. Entretanto, como os idosos estão mais suscetíveis, temos mais óbitos nessa população. Mas não devemos atribuir a este grupo todos os casos mais graves, uma vez que também há descrição de óbito entre as outras faixas etárias.

Quais medidas de prevenção devem ser tomadas pelos idosos?

Patrícia Espiño: Assim como toda a população, devem adotar as medidas orientadas pelo Ministério da Saúde e pelo CDC, que são:

  • Distanciamento social – evitar aglomerações e fazer viagens
  • Lavagem das mãos com água e sabão frequentemente
  • Manter distância de outras pessoas quando em ambiente externo
  • Evitar contato próximo com pessoas que estejam doentes
  • Limitar o tempo de exposição em público – procurar sair de casa apenas para compra de suprimentos (alimentação e itens de saúde/higiene) 

 Como os mais jovens e familiares podem ajudar?

Patrícia Espiño: Os idosos estão mais suscetíveis a quadros de depressão e ansiedade e, nesse período, podemos ter um aumento significativo desses casos. Sendo assim, o período de isolamento social deve ser alicerçado pela família para menor impacto.

Algumas sugestões:

  • Utilização de tecnologia: muitos idosos não possuem grande habilidade com uso de tecnologias, mas sabemos que as ferramentas de videochamadas podem viabilizar a troca de informações entre familiares, preservando o contato.
  • Estímulo à atividade física dentro de casa: além de favorecer saúde física, também propicia uma ambientação social. Durante o período de isolamento, devemos estimular a manutenção das atividades dentro do ambiente, com orientações de alongamento.
  • Alimentação saudável: manter-se informado e aproveitar para se alimentar de forma mais saudável e com mais consciência. Nesse sentido, os familiares podem realizar compras online ou solicitar delivery de alimentos com maior valores agregados – dar preferência a frutas e legumes e reduzir a ingestão de sal, açúcar etc.
  • Interação constante : é importante que as rotinas sejam mantidas e é importante que as chamadas telefônicas sejam frequentes para acompanhar qualquer alteração clínica nos idosos e tomar medidas necessárias.

É importante lembrar que o distanciamento social não significa isolamento, pois hoje entendemos que é imperativa a união entre as pessoas e que precisamos buscar meios sábios de interagir, justamente pelo elevado risco de depressão e ansiedade dentro dessa população.

A doença se manifesta da mesma forma nos idosos? Quais são os sinais de possível infecção que podem ser observados?

Patrícia Espiño: A apresentação clínica é semelhante nas faixas etárias. Entretanto, o que se observa é a maior gravidade dos sintomas quando presente em idosos. Os sinais mais frequentes são: febre, tosse e dificuldade de respirar.

Quando é necessário levar o idoso ao hospital ou atendimento médico?

Patrícia Espiño: A presença de sinais de alerta para Covid-19 devem ser considerados em todas faixas etárias, sendo eles:

  • Dificuldade de respirar (dispnéia)
  • Persistência de dor torácica
  • Alteração do nível de consciência ou sonolência
  • Lábios e extremidades das mãos e pés azulados (cianose)

Esses são os principais aspectos, mas sempre é importante entrar em contato com seu médico em caso de dúvida. 

Se o idoso estiver infectado, quais os cuidados necessários?

Patrícia Espiño: Nos casos de diagnóstico, seguir as orientações do Ministério da Saúde:

  • Quarentena, com isolamento domiciliar;
  • Uso de máscara, se estiver tossindo ou espirrando, para evitar transmitir o vírus para outras pessoas;
  • Distância entre moradores: manter distância mínima de um metro entre o paciente e os demais moradores da casa;
  • Adequação de espaço domiciliar, mantendo as janelas abertas para circulação do ar, a porta fechada durante todo o isolamento e a limpeza frequente da maçaneta com álcool 70% ou água sanitária;
  • Itens de uso pessoal: o lixo produzido pelo paciente contaminado precisa ser separado e descartado; todos os itens usados pelo paciente – como toalhas de banho, garfos, facas, colheres, copos e outros objetos – não devem ser compartilhados; os móveis da casa precisam ser limpos frequentemente com água sanitária ou álcool 70%.

Em quanto tempo os sintomas podem aparecer após a infecção pelo coronavírus?

Patrícia Espiño: Os sintomas podem aparecer entre o 2º e 14º dia após exposição – tempo baseado no período de incubação dos vírus da família COVID.

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