Como evitar que a pandemia agrave quadros de doenças crônicas

Ao interromper o tratamento de uma doença crônica por causa da pandemia de Covid19, o paciente corre o risco de tornar uma enfermidade controlada em um quadro potencialmente fatal. Já quem ainda não apresenta um problema de saúde do tipo, mas tende a negligenciar alguns sintomas por medo de procurar o hospital, pode contribuir para um diagnóstico tardio – o que dificulta o controle da doença posteriormente.

Em entrevista ao portal, a vice-diretora clínica do Hospital Vera Cruz de Campinas (SP), Gisele Figueiredo Ramos, falou dos cuidados necessários para evitar o agravamento de quadros de diabetes, hipertensão e doenças cardiovascular, por exemplo, por causa da pandemia. 

Quais os riscos para um paciente com doença crônica que deixa de fazer o acompanhamento médico durante a pandemia por medo de se contaminar no hospital?

Gisele: Muitos pacientes que possuem doenças como hipertensão, diabetes, dislipidemia e doenças cardiovasculares, necessitam de um acompanhamento. A perda do seguimento e a interrupção de medicamentos de uso contínuo podem levar a um desfecho desfavorável. O paciente pode ter complicações da própria doença e chegar a um infarto ou AVC. Por isso é tão importante manter o seguimento dessas doenças crônicas no contexto da pandemia. 

Esse cenário pode refletir no aumento da incidência de doenças crônicas no futuro? 

Gisele: Com certeza. Pode aumentar o número de doenças crônicas em decorrência da falta de procura de assistência e de cuidados médicos nesse momento de pandemia – uma vez que os pacientes não estão procurando os médicos para identificar doenças, verificar a pressão, fazer os exames laboratoriais e identificar possíveis complicações e alterações na saúde. Por exemplo, a hiperglicemia no caso de um possível diagnóstico de diabetes. Quando o paciente procurar por atendimento, pode ser que esteja em uma fase já mais complicada, de difícil controle, exigindo internações mais prolongadas. Também ocorre que algumas pessoas estão ansiosas e estressadas em casa, sedentárias e se alimentando mal. Então, há ainda uma questão multifatorial contribuindo para o aumento no número de doenças crônicas. 

Quais sintomas acendem o sinal de alerta para possíveis complicações de doenças como hipertensão, diabetes e cardiovasculares? 

Gisele: É importante que os pacientes, quando perceberem algum sinal, algum sintoma diferente, procurem o atendimento médico. Entre esses sintomas estão emagrecimento, boca seca, aumento da diurese, dor no peito, perda de força em algum lado do corpo. Todos esses sintomas são importante e sinais de que é preciso procurar um atendimento médico. 

A telemedicina pode ser uma alternativa de acompanhamento para pacientes crônicos? Que tipo de monitoramento ela permite?

Gisele: A telemedicina é uma opção, sim, principalmente para a checagem de exame laboratorial, renovação de receita, solicitação de exames. Cada caso é um caso, e alguns precisam ser avaliados pessoalmente. Mas com certeza a telemedicina é uma opção nesse momento de pandemia. 

Como o Vera Cruz tem garantido a segurança no cuidado desses pacientes durante a pandemia?

Gisele: Aqui em Campinas, temos a unidade do Hospital Vera Cruz e também a unidade Casa de Saúde Vera Cruz. Para proteção e para continuar o seguimento dos pacientes de doenças crônicas, pacientes oncológicos, as emergências clínicas e cirúrgicas, para que pudessem continuar sendo atendidos de forma segura, optamos por montar um centro especializado de atendimento a pessoas com suspeita ou com diagnóstico de Covid-19 na Casa de Saúde Vera Cruz. 

Dessa forma, estamos conseguindo separar os pacientes com quadro respiratório, encaminhados para a Casa de Saúde Vera Cruz, e os pacientes que não têm quadro respiratório são atendidos no Hospital Vera Cruz. Assim, conseguimos dar continuidade no atendimento das emergências clínicas, cirúrgicas, cardiológicas e também no tratamento ambulatorial. Foi uma medida muito importante nesse momento, pois não podemos esquecer das doenças crônicas, que têm uma mortalidade altíssima, como as doenças cardiovasculares. Então, acabamos direcionando e garantindo um tratamento seguro para esses pacientes.

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