Os idosos são parte do grupo de risco para covid-19, o que significa que eles têm maiores chances de desenvolver a forma mais grave da doença quando contaminados pelo coronavírus. Precisam, então, manter o isolamento social rigorosamente, o que pode ter reflexos na saúde mental.
Em entrevista ao portal, a psicóloga Cláudia Cruz, da S.O.S Vida (Salvador – BA), explicou como os familiares e amigos podem ajudar os idosos a manterem o equilíbrio emocional, mesmo diante das restrições do contexto da pandemia, e também quando é necessário procurar ajuda de um profissional de saúde. Confira:
Como o isolamento e o contexto da pandemia podem afetar a saúde mental dos idosos?
A pandemia trouxe a vivência de uma situação desconhecida, sem precedentes. Mudou abruptamente a rotina, os planos, os hábitos da população. Também gerou medo e a necessidade de adotar medidas que reduzam os risco de contaminação por uma doença altamente transmissível e potencialmente fatal. Assim, o distanciamento social, as mudanças na rotina e o estresse causado pelos cuidados necessários na prevenção e pelo excesso de informação impactam na saúde mental dos idosos e podem, ainda, agravar o quadro daqueles com doenças psiquiátricas prévias. Além disso, alguns estudos já realizados com esse grupo na quarentena evidenciaram aumento da prevalência de sintomas de estresse pós-traumático, ansiedade, depressão, irritabilidade, raiva e medo – que podem, inclusive, persistir por anos.
Quais seriam os sinais de alerta para as famílias de que o idoso está deprimido ou ansioso por causa do isolamento?
Os sinais de alerta estão relacionados com a intensidade dos sintomas e o impacto na rotina dos idosos. É preciso buscar ajuda profissional se forem observados os seguintes sintomas por mais de duas semanas:
- Sentimentos de tristeza, desânimo, falta de energia, pensamento negativo, falta de esperança;
- Mudanças significativas de comportamento, como irritabilidade, angústia, perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas;
- Alterações no sono, como insônia ou excesso de sono;
- Alterações no apetite, com perda ou ganho de peso;
- Diminuição da autoestima, quando há descuido da aparência, aspecto de cansaço, de fadiga, de perda de energia;
- Dificuldade de concentração, de raciocínio e perda de memória;
- Pensamento recorrente de morte, quando o/a idoso/a manifesta desejo de morrer e falta de perspectiva.
Como as famílias devem agir ao identificar esses sinais?
Em primeiro lugar, se aproximar mais desta pessoa, ver de que forma podem acolher os medos dela, dar orientação e explicar por que precisamos praticar o isolamento, além de esclarecer os benefícios de seguir as medidas de proteção contra o vírus. Também é importante buscar ajuda profissional especializada caso os sintomas relatados anteriormente persistam por mais de duas semanas.
Quais medidas práticas ajudam a evitar problemas de saúde mental nos idosos em isolamento?
- Manter uma rotina regular e saudável, com boa alimentação e atividade física, mesmo que não seja na intensidade de antes;
- Incluir na rotina atividades prazerosas para o/a idoso/a, como leitura, música, algo com que ele se identifique;
- Buscar maneiras para o/a idoso/a ajudar em casa, se sentir útil ou incentivá-lo/a a buscar fazer algo que lhe dê propósito;
- Estimular a manutenção dos laços sociais e da interação com a família por videoconferência ou mensagens;
- Manter o uso das medicações regulares e buscar avaliação médica, caso apareça algum sintoma novo;
- Acolher os medos e auxiliar nas dúvidas para que possam entender melhor o momento e se sentirem mais seguros nesse contexto de mudanças causado pela pandemia;
- Exercitar a espiritualidade. Estudos mostram que as pessoas que nutrem crenças têm mais equilíbrio na conexão entre mente e corpo, têm o pensamento mais positivo e reagem melhor às adversidades. A crença ajuda ainda no processo de envelhecimento saudável, pois você se conecta com algo que não é só da cognição.