Com a necessidade de isolamento causada pela pandemia de Covid-19, a telemedicina foi liberada em caráter emergencial no Brasil. Nos últimos dois anos, esse recurso ajudou a facilitar o acesso à saúde, tornou o atendimento mais cômodo e teve boa aceitação entre pacientes e médicos. Na opinião dos especialistas, é um recurso que veio para ficar. Mas ainda é necessária regulamentação para que a telemedicina continue sendo oferecida após a pandemia e se expanda entre os setores público e privado.
A necessidade de consolidar a telemedicina foi tema de um dos debates do Anahp Ao Vivo – Jornadas Digitais, evento online temático e gratuito realizado pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).
Uma das convidadas, a gerente de Tecnologias e Informações Clínicas da Amil, Camila Botti, disse que a operadora realizou mais de 1,5 milhão de atendimentos remotos em 2021, representando 15% do total das consultas. Ela acrescenta que há um alto índice de satisfação por parte tanto dos clientes como dos médicos. Mais de 2 mil profissionais credenciados já se ofereceram para prestar o serviço de telemedicina dentro da operadora, que tem atendimento remoto para 50 especialidades.
Antônio Marttos, cirurgião da Universidade de Miami, ressalta que os pacientes podem se sentir completamente seguros ao utilizar a telemedicina, que “não é Big Brother e é feita por profissionais com práticas, ferramentas e tecnologia adequadas”.
O gerente Médico do Centro de Telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein, Carlos Pedrotti, reiterou a fala de Marttos, lembrando que os médicos são naturalmente preparados para examinar e tomar decisões sobre o tratamento, mesmo que seja por meio de uma tela. “Isso faz parte do dia a dia dele, que tem a sensibilidade de compreender rapidamente quando é o caso de indicar uma intervenção presencial”, explicou.
Do lado do paciente, Pedrotti ressaltou a comodidade como um atrativo: “[Os pacientes] Estão muito felizes por poderem falar com um médico sem enfrentar fila ou pegar transporte público”. Entretanto, o especialista aponta que é fundamental ter plataformas mais acessíveis e recursos que tornem todo o processo mais simples e resolutivo, melhorando a experiência do paciente com a telemedicina.
Para Pedrotti, num futuro próximo, a telemedicina terá papel importante no acompanhamento mais eficiente do paciente e da evolução dos tratamentos, especialmente nos casos de doenças crônicas.
Coordenador do Grupo de Trabalho de Inovação e Saúde Digital da Anahp e gerente médico de Saúde Digital do Hospital Moinhos de Vento, Felipe Cabral acrescentou que a tecnologia permitirá criar uma jornada digital do paciente também focada na prevenção, com o monitoramento remoto permanente de indicadores, como peso e pressão. “Minha Alexa sabia que eu engordei 10 quilos na pandemia e poderia ter me avisado”, exemplificou.
No evento da Anahp, os convidados destacaram ainda as repercussões sociais da telemedicina, que refletem em economia de tempo, qualidade de vida, produtividade e impactos para o meio ambiente.
Para Caio Soares, presidente da Saúde Digital Brasil (SDB), não faz mais sentido discutir se a telemedicina veio ou não para ficar. “Assim como não discutimos se o smartphone veio para ficar”, compara. Porém, Soares alerta: “Corremos o risco de não ter uma regulamentação permanente quando a emergência passar.”
Para Marcelo Chaves Aragão, auditor federal de Controle Externo do Tribunal de Contas da União – Secretário de Controle Externo da Saúde, são fundamentais regras claras, parâmetros e protocolos definidos para adoção da telemedicina em modelo de larga escala no serviço público, com a realização de concorrências e contratos.
Você pode assistir à íntegra do debate sobre telemedicina no YouTube da Anahp.