Cirurgia robótica: como funciona e quais as vantagens para o paciente

Procedimentos complexos feitos com maior precisão e cortes mínimos, com chances de recuperação mais rápida do paciente. Essa é a revolução que a cirurgia robótica trouxe para os hospitais na última década e que está se aprimorando a cada ano no Brasil.

O Saúde da Saúde conversou com André Berger, coordenador do Núcleo de Medicina Robótica do Hospital Moinhos de Vento (RS) e professor de Urologia da University of Southern California, nos Estados Unidos, para explicar como funciona este método e as principais vantagens para os pacientes. Com mais de 2,5 mil cirurgias robóticas realizadas, Berger afirma que o método reduz a necessidade de transfusão e as chances de ocorrer infecções, e ainda tem resultados mais positivos no pós-alta do paciente.

Quais as principais vantagens da cirurgia robótica para o paciente?
Berger: É uma cirurgia bem menos invasiva, feita com incisões pequenas e menor sangramento – e por isso menor taxa de transfusão sanguínea. A recuperação também é mais rápida, e os pacientes voltam mais cedo para casa. Outra vantagem é uma taxa menor de infecções.

Como funciona a cirurgia robótica? O robô opera sozinho?
Berger: O robô não opera sozinho, e a experiência do cirurgião é fundamental para potencializar as vantagens que a tecnologia robótica traz. Entre elas, está uma visão 3D e em HD da cirurgia e a flexibilidade das pinças robóticas, superior a do próprio punho humano. Além disso, o robô filtra os eventuais tremores da mão do cirurgião e nenhum deles é transmitido para os instrumentos. O cirurgião trabalha sentado, o que é ergonomicamente melhor, pois ele fica menos cansado fazendo a cirurgia.
Os portais de entrada do abdômen ou do tórax são conectados ao braço do robô, que é controlado pelo cirurgião sentado no console, onde manuseia joysticks e pedais. Ao lado do paciente, fica um cirurgião auxiliar, também bem treinado, que auxilia com aspiração, retirada de agulhas etc. 

O que acontece se o robô falhar?
Berger: É uma situação muito rara o robô falhar. Já fiz mais de 2,5 mil cirurgias robóticas e, até hoje, não teve nenhuma vez que o robô parou de funcionar totalmente. Mas, caso isso aconteça, na grande maioria dos casos você consegue recuperar essa falha e continuar a cirurgia. Se o robô falhar e não voltar a funcionar, tem um cirurgião experiente que consegue terminar o procedimento. O robô é deslocado do paciente, e o cirurgião continua usando a técnica de laparoscopia.
A cirurgia robótica é um avanço da laparoscópica. Uma das diferenças é que, na laparoscópica pura, o cirurgião segura os instrumentos que ficam dentro do paciente – que são retos, não flexíveis. E a visão é em duas dimensões. 

Em quais casos a cirurgia robótica é aplicada atualmente?
Berger: Geralmente, é bastante usada em casos de cirurgia dentro do abdômen, no tórax e até transoral, dentro da boca do paciente, em situações específicas. O que vai determinar é o grau de dificuldade e o nível de conforto do cirurgião. As mais comuns no Brasil e no mundo são: urológicas, de câncer de próstata e rim, ginecológicas, do aparelho digestivo, torácicas, de cabeça e pescoço e até cirurgias cardíacas. Na realidade, a cirurgia robótica foi criada para fazer procedimentos cardíacos e depois avançou para outras especialidades. Atualmente, a urologia é a que mais utiliza a cirurgia robótica no mundo.

Há quanto tempo existe a cirurgia robótica no Brasil?
Berger: No país, é um movimento que existe desde 2008, porém o número começou a aumentar de maneira significativa nos últimos três anos. De 2008 até 2016, ainda era pequeno o número de cirurgias e sistemas robóticos instalados. Nos últimos três anos, o número de sistemas quase triplicou. Há cerca de 57 sistemas robóticos [o robô em si] instalados no Brasil, provavelmente entre 45 e 50 hospitais oferecendo esse tipo de cirurgia.

Quantos profissionais fazem esse tipo de cirurgia no Hospital Moinhos de Vento?
Berger: Temos hoje cerca de 25 cirurgiões treinados ou em treinamento. Um dos diferenciais do nosso programa é realmente a experiência de profissionais com quase 3 mil cirurgias feitas em outros hospitais no Brasil e de fora. Então, desde o início, o programa foi capaz de atender casos desafiadores e complexos. Do total de cirurgias robóticas realizadas no hospital, 90% são de câncer de próstata. Mais que dobramos o número de pacientes tratados desta doença no Moinhos de Vento desde que começou o programa de cirurgia robótica. São feitas, em média, de 15 a 20 cirurgias robóticas por mês.

Há dados que mostram os resultados da cirurgia robótica nos pacientes do hospital?
Berger: Eu coletei dados de pacientes operados de câncer de próstata e, em 94% o tumor foi removido totalmente. Também temos números superiores, se comparado aos das cirurgias convencionais, quando falamos de controle de urina e da qualidade de ereções após a procedimento robótico. Três meses depois da cirurgia, 94% deles estavam totalmente continentes e não precisavam de nenhuma proteção contra vazamento de urina, e 83% apresentaram ereções boas o suficiente para ter uma relação sexual.

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