Anunciado na internet, especialmente nas redes sociais, como solução para o corpo perfeito, emagrecimento, aumento da massa muscular e da libido e como forma de combater os sinais do envelhecimento, um implante hormonal subcutâneo – colocado sob a pele – se popularizou com um apelido mais do que enganoso: “chip da beleza”. Essas promessas, no entanto, escondem não um, mas vários perigos: infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e doenças renais ehepáticas são apenas alguns dos riscos do produto que não é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O resultado é um cenário em que o apelo, principalmente, à beleza se transforma em uma armadilha. “O termo “chip da beleza” é equivocado por, na verdade, não estar associado à beleza. Esse termo foi disseminado e acabou ganhando força por poder gerar o aumento da massa muscular, porém devemos sempre buscar a beleza através da mudança do estilo de vida, como adoção de alimentação saudável e prática regular de exercícios físicos”, diz a médica do Hospital São Lucas Copacabana.
O que é o implante hormonal, mais conhecido como “chip da beleza”?
Implantados em clínicas médicas com anestesia local, os “chips da beleza” são preparados em farmácias de manipulação e não têm sua eficácia e segurança comprovadas por estudos científicos. Além disso, muitas vezes, há falta de controle sobre os ingredientes utilizados para a formulação.
De acordo com a endocrinologista Simone Palonine, do Hospital São Lucas Copacabana, que faz parte da Dasa, os maiores riscos estão ligados ao fato de não termos certeza da real composição desses chips e da quantidade de substâncias inseridas neles. “Além disso, está associado ao uso desses hormônios o aumento dos riscos de trombose, embolia pulmonar, acidente isquêmico cerebral, doença arterial e doenças hepáticas”, explica. “Na parte estética, pode haver a virilização em mulheres (como a diminuição dos seios e o aumento do clitóris), assim como aparecimento ou aumento de acne e queda de cabelo.”
Falta de regularização aumenta os riscos do “chip da beleza”
A falta de regulação e os riscos associados ao uso dos, erroneamente chamados, “chips da beleza” levaram sociedades médicas, como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) a se posicionar e enviar uma carta aberta à Anvisa. Nela, as entidades pedem que a Anvisa tome providências para conter a prescrição, a venda e uso dos implantes hormonais.
O texto da carta diz que a “chipagem hormonal”, proposta por falsos especialistas e vendida como a “medicina moderna” é, na realidade, algo antigo e ultrapassado, pois usa medicamentos abandonados pela Medicina Baseada em Evidências (como a gestrinona e a oxandrolona). “A monetização desse comércio por meio de venda direta ou parcerias comissionadas, bem como a promoção de cursos não científicos, fere todos os princípios éticos, legais e humanos”, dizem as entidades.
Apesar dos alertas, a falta de conscientização sobre os riscos à saúde e a disseminação de informações não cientificamente fundamentadas nas redes sociais contribuem para a perpetuação desse problema. A recomendação é que todo e qualquer tratamento hormonal seja prescrito e acompanhado por um médico especialista e de confiança. Além disso, é importante sempre buscar fontes de informação reconhecidamente sérias e seguras.
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