Os diversos tipos de câncer infantil são a principal causa de morte em menores de 14 anos. Em crianças, o câncer é mais agressivo do que em adultos, por isso o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura e diminui as possíveis complicações da doença e do tratamento. Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), 80% das crianças e adolescentes acometidos por câncer podem ser curados se o diagnóstico for rápido e o tratamento for feito em centros especializados.
Mas é preciso ficar atento porque os sintomas se confundem com outras doenças típicas dessa fase da vida. “Os sinais e sintomas do câncer pediátrico podem simular doenças comuns dessa faixa etária. Febre persistente, aparecimento de manchas roxas no corpo, aparecimento de tumores, dores ósseas que prejudicam as atividades da criança, cefaleia persistente e reflexo branco nas pupilas (olho de gato) são os sinais de alerta mais frequentes”, afirma Lilian Maria Cristofani, médica oncohematologista pediátrica do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo.
O Inca estima que, entre 2023 e 2025, 7.930 novos casos de câncer infantil serão registrados no Brasil. Isso significa que, a cada 1 milhão de crianças e adolescentes, 135 correm o risco de desenvolverem câncer.
Diagnóstico precoce do câncer infantil
O câncer infantil não tem prevenção, segundo Cristofani. “Fatores de risco para o câncer de adulto como tabagismo, obesidade, ingestão de álcool, dieta inadequada, comportamentos de risco, exposição solar excessiva, nada disso tem impacto no câncer pediátrico”, diz a médica.
Em crianças, alguns fatores genéticos aumentam as chances de câncer – entre eles estão síndrome de Down, imunodeficiências, síndrome de Li Fraumeni ou da doença de von Hippel-Lindau. Mas a grande maioria dos casos não apresenta fator de risco e a doença se desenvolve “ao acaso”, explica Cristofani.
“Só 3 a 4% das crianças com câncer são portadoras de anomalias genéticas ou hereditárias. A grande maioria não apresenta fatores de risco e desenvolve a doença ao acaso. Entretanto, é importante a conscientização de hábitos saudáveis desde a infância, para a prevenção do câncer na fase adulta”, afirma.
Os tipos de câncer mais comuns na infância são leucemias, tumores primários do sistema nervoso central, neuroblastoma, tumor de Wilms e linfomas. No adolescentes, linfomas, leucemias, sarcomas ósseos e tumores cerebrais são os que mais ocorrem.
Sinais para ficar atento
A visita regular ao pediatra é o primeiro passo para identificar precocemente qualquer sintoma. “O pediatra, ao avaliar cuidadosamente eventuais sintomas e fazer um exame físico completo, pode perceber algum sinal de alerta da doença”, diz Cristofani. “Febres persistentes, adenomegalias que não regridem, massas abdominais, alterações oculares, dores em membros inferiores que pioram ao longo dos dias e deficiências neurológicas são sinais que merecem investigação aprofundada”, alerta.
Fique atento a estes sinais de alerta:
– Febre por mais de sete dias sem causa aparente;
– Dor óssea, com aumento progressivo e duração por mais de um mês;
– Petéquias, equimose (manchas arroxeadas na pele) e palidez;
– Leucocoria (reflexo branco na pupila do olho quando exposta à luz), estrabismo e protusão ocular (olhos proeminentes ou mais salientes);
– Distúrbios visuais;
– Linfonodos aumentados;
– Dor de cabeça persistente e progressiva – Atenção àquela que aparece de noite, que acorda a criança ou aparece quando ela se levanta de manhã, acompanhada de vômito ou de sinais neurológicos.
Dependendo dos sintomas, o pediatra pode pedir exames complementares, como hemograma completo, ultrassonografia abdominal, radiografia simples de tórax e tomografia computadorizada de crânio.
Também é recomendada uma avaliação oftalmológica em casos de alterações oculares e neurológicas se tiver cefaleia (dor de cabeça) ou distúrbios motores. “A confirmação diagnóstica é feita por mielograma, nos casos de leucemias, e exame anatomopatológico, nos casos de tumores sólidos e linfomas” detalha a médica.
Tratamentos para o câncer infantil
O câncer infantil pode ser tratado com quimioterapia, cirurgia e, eventualmente, com radioterapia. “O tratamento do câncer, em geral, tem evoluído com o maior conhecimento dos mecanismos genéticos celulares envolvidos na doença e o desenvolvimento de terapias-alvo, que já são muitas vezes a primeira opção de tratamento em muitos tumores dos adultos. Na pediatria, temos terapia-alvo para alguns tipos de neoplasias, como leucemias, linfomas, neuroblastomas e tumores cerebrais, que são utilizadas junto à quimioterapia, para um melhor resultado. Transplantes de células tronco hematopoéticas e imunoterapia celular (CAR T cells) também têm seu papel em alguns casos”, explica Cristofani.
É possível que a criança sinta os efeitos colaterais das medicações nas fases mais intensas do tratamento. Ela também fica suscetível a maiores riscos de infecções.
“Sempre tentamos adequar da melhor forma possível o tratamento e a rotina de vida da criança e de sua família. O diagnóstico precoce permite um tratamento menos tóxico e impactante na maioria dos casos”, afirma a oncohematologista.