Câncer de próstata não tem prevenção, mas diagnóstico precoce e hábitos saudáveis aumentam as chances de cura

O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer que mais atinge os homens no Brasil – ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Cerca de 75% dos casos surgem em homens com mais de 65 anos, segundo o Instituto Nacional de Câncer – Inca, mas a vigilância deve começar por volta dos 40 anos, especialmente para quem tem casos deste tipo de câncer na família.

Por isso, é preciso ficar sempre atento: esta é considerada uma doença silenciosa, praticamente sem sintomas diretamente relacionados. É fundamental manter os exames em dia para facilitar o diagnóstico já que, quanto mais cedo for identificada, maior as chances de cura.

Para entender mais sobre a doença e esclarecer dúvidas sobre sintomas, riscos, tratamento e cura, conversamos com Newton Ferreira de Oliveira, urologista e chefe da especialidade no Hospital Monte Sinai, de Juiz de Fora (MG). Segundo o especialista, este é um tipo de câncer ao qual todos os homens estão vulneráveis – independentemente da idade, e investir em alguns hábitos de vida pode contribuir para afastar a doença. Confira a entrevista abaixo:

O câncer de próstata pode acontecer com todos os homens ou só com idosos?

Todos os homens, em todas as faixas etárias, podem ter câncer de próstata, mas a doença é mais prevalente a partir dos 70 anos. Este é um câncer insidioso, que não mata, e, quanto mais idade, menos agressivo é. Em geral, o paciente morre com o tumor, e não pelo tumor.

Há como prevenir o câncer de próstata?

Não há como prevenir, pois é uma doença genética. E, por isso, o histórico familiar é fundamental. Mas, apesar de não ser prevenível, é curável. Podemos evitar a morte pelo câncer de próstata com hábitos saudáveis de alimentação e com o diagnóstico precoce.

Quais são os sintomas do câncer de próstata?

O câncer de próstata não apresenta sintomas. Até atingir a uretra, pode levar anos para ser detectado, pois ele é um câncer silencioso. A genética familiar é o principal sinal de alerta. Além disso, o Inca recomenda investigar sinais como dificuldade de urinar, diminuição do jato de urina, necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite e quando há presença de sangue na urina.

A partir de que idade é preciso fazer os exames periódicos?

O consenso médico é a partir de 45 e 50 anos. Mas, se há caso de câncer na família, recomenda-se a partir dos 40 anos.

Quais são os exames para detectar o câncer de próstata?

Há o exame de toque retal e o exame laboratorial, que mede a dosagem de PSA (antígeno prostático específico).

É comum fazer o exame de toque retal para diagnóstico do câncer de próstata?

O exame de toque ainda hoje é importante, e acredito que já haja uma cultura de esclarecimento para fazer este procedimento: o toque não afeta a masculinidade! A família costuma cobrar por esta avaliação e o benefício é que isso tem evitado um número maior de descoberta tardia de câncer de próstata.

O que é o exame PSA e como ele é usado em casos de câncer de próstata?

O principal exame de rastreio hoje é o PSA, que é feito a partir da coleta de sangue. Nesta amostra, é possível aferir a dosagem de uma proteína produzida pelas glândulas da próstata, que é liberada para a corrente sanguínea na medida em que se tem um tumor maior. Com isso, dá para rastrear o câncer, monitorar a progressão e detectar outros tipos de inflamações.

Os principais exames de PSA são o PSA total, o PSA livre e o PSA complexado. O PSA livre (da albumina), por exemplo, indica o índice de agressividade. Quanto mais PSA livre no sangue, menor a chance de ter um câncer que evolua mais rápido.

Esse exame pode ser usado para adiar o exame de toque. Se um paciente tem PSA baixo, fração livre baixa, e sem histórico familiar de câncer de próstata, ele pode ficar sem fazer o toque, mas deve acompanhar os resultados e consultar o médico anualmente.

O rastreamento coletivo, nas campanhas do Novembro Azul, é necessário porque o acompanhamento regular da saúde do homem é culturalmente negligenciado.

Ter próstata aumentada significa câncer?

Não. Há três tipos de patologia da próstata. A inflamação da próstata, que provoca ardência para urinar e febre, é um problema urinário comum que afeta os homens. A próstata cresce, enche a bexiga, amplia a frequência ao urinar, afeta o jato e é o incômodo dos sintomas que leva à decisão por intervenção. Já o câncer de próstata é diferente e se origina na próstata.

Há hábitos de vida que podem aumentar a incidência de câncer de próstata?

O principal hábito de vida que os estudos mostram que influenciam a incidência de câncer é a alimentação. Um estudo com homens asiáticos mostrou um índice muito menor deste câncer nesta população: eles consomem mais peixes, em vez de carne vermelha, comem mais vegetais e verduras e, por isso, lidam menos com fatores que aceleram a proliferação deste câncer, se comparado ao homem ocidental.

Hábitos como fazer ou não atividades físicas, ou o tabagismo, também influenciam. O uso de gordura mineral e a alimentação hipercalórica ampliam a propensão ao câncer. A pesquisa com os asiáticos demonstrou que, se um grupo deles absorver este tipo de dieta, a chance de desenvolver a doença será igualada à dos homens ocidentais.

O homem obeso, por exemplo, tem maior propensão ao câncer de próstata porque quanto mais calórica a alimentação, mais substratos orgânicos e energéticos se está fornecendo às células. Se você fuma, é diabético ou sedentário, tem mais chances de fazer com que o tumor se desenvolva mais rápido. Já atividades como andar de bicicleta ou a cavalo não têm influência para o surgimento do câncer de próstata.

Qual o tratamento para o câncer de próstata?

O principal tratamento é a intervenção cirúrgica. Há cirurgias que exigem que se retire a próstata toda com a cápsula que a envolve. Quimioterapia e/ou radioterapia entram como tratamento complementar, mas não matam o câncer. Já outras técnicas podem tentar eliminar o câncer ou intervir só sobre o tumor, como a braquiterapia – com radiação específica implantada dentro da próstata.

Mas, infelizmente, 50% dos homens já chegam ao consultório para o tratamento com o tumor avançado ou com metástases.

Vasectomia aumenta os riscos de câncer de próstata?

Isso é mito. Não há nenhum fator que ligue a vasectomia com risco de câncer de próstata.  

Câncer de próstata causa impotência?

A faixa etária após 60, 65 anos já tem uma ereção diferente de 40, 45 anos. Em geral, este homem já está usando alguma droga vasoativa. A cirurgia pode afetar a capacidade erétil, mas há muitas técnicas disponíveis. O que se observa atualmente é que a cirurgia robótica garante o melhor resultado quanto à manutenção da potência sexual, pois amplia a chance da preservação dos nervos que sustentam o pênis e que podem ser afetados na intervenção.

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