Automedicação pode agravar quadros leves

Quando surge aquela dor de cabeça, um desconforto abdominal, uma alteração no funcionamento do intestino ou uma inflamação na garganta, é comum recorrer à farmácia para um alívio rápido. Uma pesquisa do Datafolha, do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade mostrou que 89% das pessoas ingeriram remédios por conta própria em 2022.

Embora corriqueira e aparentemente eficaz, a automedicação tende a ser perigosa, pois pode mascarar doenças mais graves, atrasando o diagnóstico e o tratamento adequados, permitindo que a doença progrida e cause complicações. Em outros casos, que seriam de fácil tratamento com orientação de um médico, acaba prolongando o tempo de recuperação. Além disso, o uso de remédios inadequados ou em doses incorretas pode não só falhar em aliviar os sintomas como apresentar riscos importantes.

“Normalmente, a indicação para tratamento de resfriados e doenças respiratórias envolve analgésicos simples e soro fisiológico nasal, medicações que dificilmente vão trazer danos a curto prazo. Entretanto, ao utilizarmos combinações com anti-histamínicos, antialérgicos e vasoconstritores, existem riscos de efeitos colaterais, intoxicação por posologia inadequada e o surgimento de alergias”, explica a médica do Hospital São Marcelino Champagnat, Maria Fernanda Uady Carvalho.

O estudo do Datafolha detectou ainda uma modalidade diferente de automedicação, a partir de medicamentos prescritos. Nesse caso, a pessoa passou pelo profissional da saúde, tem um diagnóstico, recebeu uma receita, mas não usa o medicamento conforme orientado, alterando a dose receitada. Esse comportamento foi relatado pela maioria dos entrevistados (57%), especialmente homens (60%) e jovens de 16 a 24 anos (69%).

O risco de interação medicamentosa, que pode potencializar ou inibir os efeitos dos medicamentos, é real. É preciso estar atento aos riscos de reunir, sem intenção prévia, dois ou mais efeitos terapêuticos. As consequências variam de dores pelo corpo, sangramentos e até problemas cardíacos, podendo, no extremo, ser fatal.

Para os idosos, o consumo de medicamentos sem prescrição médica pode ser especialmente prejudicial. Esse grupo tem maior probabilidade de apresentar reações adversas aos remédios devido a mudanças fisiológicas relacionadas à idade, como diminuição da função renal e hepática, e alterações na absorção dos medicamentos. “A automedicação também é perigosa porque aumenta o risco de efeitos colaterais indesejados no tratamento de condições e doenças crônicas comuns em idosos, resultando em complicações graves ou piora dos sintomas”, complementa a médica.

Consulte sempre o médico

Quando o médico prescrever medicamentos, lembre-se de perguntar sobre os possíveis efeitos colaterais e se podem acontecer interações outros remédios, além de informá-lo sobre outras condições de saúde que você tenha e ele desconheça.

Embora a bula tenha essas orientações, compreendê-la nem sempre é uma tarefa fácil. Se surgir dúvidas, vale procurar ajuda de farmacêuticos. Eles podem colaborar com informações sobre posologia adequada, efeitos colaterais, contraindicações e se o medicamento pode ou não ser consumido junto a outros remédios, com água ou outros líquidos, em jejum ou alimentado.

Outro problema muito comum entre quem tem o hábito da automedicação é o acúmulo de remédios em casa, que vem acompanhado por uma lista de consequências negativas:

  • Mau armazenamento e consumo após a data de vencimento, com consequente ineficácia do tratamento;
  • Ingestão acidental por crianças;
  • Confusão entre diferentes remédios.

Saiba mais sobre os perigos da automedicação

Apesar da facilidade e sensação de segurança, a automedicação apresenta vários riscos:

1. Reações alérgicas

Os diferentes princípios ativos e suas combinações com outras substâncias, interações com outros medicamentos e quadros clínicos de saúde podem desencadear reações alérgicas, das sutis às mais severas.

2. Resistência aos remédios

A resistência acontece quando um medicamento é utilizado por um período prolongado ou quando usamos uma substância inadequada para tratar um determinado problema. O organismo não consegue mais responder à ação dos remédios, o que complica e retarda o tratamento. O uso indiscriminado de antibióticos pode favorecer o desenvolvimento de superbactérias, como o caso da Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), que causou recentemente a morte de uma estudante brasileira.

3. Efeitos colaterais intensos

Até mesmo os remédios considerados inofensivos podem causar efeitos colaterais. Essas reações variam de pessoa para pessoa conforme sua sensibilidade, de acordo com suas condições orgânicas e a possível ingestão de outras substâncias. A ocorrência de efeitos colaterais intensos por causa do uso inadequado dos remédios é, portanto, um dos grandes perigos da automedicação.

4. Atraso no diagnóstico

Geralmente, as pessoas procuram um remédio que ajude a controlar um sintoma incômodo. Mas não podemos esquecer que o sintoma é uma informação importante que o organismo emite quando algo está errado – ou seja, ele não é o problema ou a doença em si. Quando apelamos para a automedicação para controlar um determinado sintoma, estamos mascarando o verdadeiro problema. Com isso, atrasamos ainda mais o diagnóstico, pois temos a falsa sensação de que tudo está bem e adiamos a ida ao médico. Esse atraso pode dificultar o tratamento e comprometer ainda mais a saúde.

5. Agravamento do quadro

Vamos pegar como exemplo a dor de garganta. Sabia que ela pode ser ocasionada por diferentes fatores além de gripes e resfriados, entre elas reações alérgicas, uso excessivo da voz, desidratação orgânica, refluxo gastroesofágico e contaminação por bactérias? Em cada uma dessas situações, o tratamento é diferente. Se a dor de garganta for de origem bacteriana, por exemplo, precisa ser tratada com antibióticos, então a pastilha não vai funcionar e a infecção vai se agravar com o passar dos dias. Isso vale para vários outros problemas, por isso é importante sempre buscar orientação médica.

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