Alzheimer: fatores de risco e medidas de prevenção dessa e outras síndromes demenciais

O Alzheimer é a forma mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas idosas. As campanhas nacionais e internacionais a respeito da doença alertam para a importância de dois aspectos fundamentais quando se trata de prevenção:

  • Identificar os fatores de risco para a doença
  • Tomar medidas efetivas para reduzir, atrasar e até mesmo prevenir o aparecimento desse tipo de demência

Mas, antes de tudo, vale explicar os quatro principais tipos de síndromes demenciais:

> Alzheimer: é a mais comum e se caracteriza pela destruição de células cerebrais e nervos, afetando o “transporte” de informações no cérebro, principalmente as que se referem ao armazenamento de memórias. Representa de 50% a 75% dos casos de demência.

> Demência vascular: provocada por obstruções nos vasos do cérebro, causando acidente vascular cerebral. Representa de 17% a 30% dos casos.

> Demência com corpos de Lewy: similar ao Alzheimer, é causada pela formação de proteínas anormais das células do cérebro, provocando a morte delas e danificando a química cerebral. Abrange a demência da doença de Parkinson e representa de 10% a 15% dos casos.

> Demência frontotemporal: mais rara que as outras três, usualmente aparece mais precocemente com relação ao Alzheimer e atinge as regiões frontal e temporal do cérebro. Causa perda progressiva de funções como linguagem, além de alterações comportamentais. É o tipo que afeta o jornalista Maurício Kubrusly e o ator Bruce Willis.

Segundo a Alzheimer’s Disease International (ADI), é crescente o entendimento de que essas doenças podem começar a se desenvolver muitos anos antes de os primeiros sintomas aparecerem. Ou seja, cuidados com a saúde cerebral ao longo da vida são fundamentais para a prevenção (isso envolve alimentação saudável, rotina de exercícios físicos, sono de qualidade e atividades que estimulem o cérebro).

Diante da previsão de que, no mundo todo, o número de pessoas com demência deve triplicar até 2050, a ADI destaca que “jamais foi tão urgente a necessidade de se compreender e responder aos fatores de risco associados” para síndromes demenciais, especialmente por se tratar de uma condição usualmente associada a estigmas e medos, muitas vezes injustificados.

Então, é preciso esclarecer os fatos: a demência não é parte do envelhecimento natural, mas trata-se de uma doença degenerativa, sem cura e que provoca deterioração cognitiva – perda de memória e alterações de comportamento. As síndromes demenciais afetam as pessoas de maneiras muito distintas, e é errado pensar que a memória ou a autoconsciência do paciente irão “desaparecer” da noite para o dia. Ou que se trata de “loucura”.

Mas isso não significa que, diante do diagnóstico, não há mais nada a se fazer. A neurologista do Hospital São Lucas Copacabana, do Rio, Ana Carolina Andorinho, explica que, após o diagnóstico, é preciso e há tempo suficiente para que a rotina do paciente seja reorganizada. E a parceria com o núcleo familiar e outras pessoas do convívio social é fundamental nesse momento. “Podemos interferir com estratégias do dia a dia”, afirma.

Para a especialista, a grande incidência de doenças como o Alzheimer significa também que mais pessoas estão chegando à velhice, o que mostra o “sucesso” humano em conquistas médicas. E chama a atenção para a importância de olhar para o cenário populacional e investir em medidas preventivas. “Temos mais casos de demência porque temos mais pessoas idosas, mas agora precisamos refinar a qualidade de vida. Antigamente, o objetivo era bater meta de chegar à terceira idade. Agora, o pensamento tem de ser outro: chegar bem à terceira idade”.

Abaixo você vai saber quais são os principais sintomas e sinais de alerta para do Alzheimer, as fases da doença, os fatores de risco, como prevenir e como é o tratamento para este tipo de demência.

Quais são os sintomas e sinais de alerta do Alzheimer?

Segundo a Alzheimer’s Disease International, estes são os dez sintomas iniciais da doença, que devem acender um sinal de alerta:

  • Declínio da memória – sobretudo a de curto prazo, é o sintoma inicial mais comum e pode afetar atividades em geral e trabalho.
  • Dificuldade para realizar tarefas habituais – pode afetar ações quotidianas, como a ordem de vestir a roupa e de preparar uma receita familiar.
  • Dificuldade de comunicação – embora todos tenhamos, às vezes, problemas para encontrar a palavra certa, no caso do paciente de Alzheimer isso se dá com termos simples.
  • Desorientação no tempo e no espaço – embora todos nós esqueçamos, às vezes, qual é o dia da semana ou o caminho ideal para um percurso, alguém com demência pode confundir dia e noite, ou se perder em locais familiares.
  • Diminuição da capacidade de juízo e de crítica – por exemplo, usar roupas de modo considerado inadequado, como casacos num dia quente, trajes de verão num dia muito frio.
  • Dificuldade de concentração, planejamento ou organização – tem a ver com tomadas de decisões, resolução de problemas ou pagamento de boletos.
  • Colocar coisas no lugar errado – não se trata de se esquecer onde guardou a chave, mas de confusões mais drásticas, como colocar um controle remoto na geladeira.
  • Mudanças de humor ou comportamento – tristeza e mau-humor são comuns a todos nós, mas, no caso de pacientes com Alzheimer, essas alterações podem ser súbitas e sem razão aparente.
  • Problemas para estabelecer relações espaciais ou visuais – sem relação com catarata, que é algo típico em idosos; no Alzheimer, essas dificuldades passam por dificuldade para ler, calcular distâncias, assimilar imagens em três dimensões ou determinar cores.
  • Afastamento do trabalho ou atividades sociais – é mais do que cansaço de tarefas profissionais, domésticas ou de lazer; trata-se de passividade em excesso, falta de interesse por atividades recreativas.

Andorinho cita ainda a dificuldade para dormir como um dos sintomas comuns em quadros de demência. “Além disso e de episódios de esquecimento, às vezes envolve muita ansiedade ou sinais depressivos. Com o passar do tempo, vêm a irritabilidade e agressividade. Ou o paciente fica muito ‘apagado’, apático em frente à TV”, exemplifica ela.

Quais são as fases do Alzheimer?

O Ministério da Saúde indica que o Alzheimer tem quatro estágios:

  1. Inicial: alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais.
  2. Moderada: dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos; agitação e insônia.
  3. Grave: resistência à execução de tarefas diárias; incontinência urinária e fecal; dificuldade para comer; deficiência motora progressiva.
  4. Terminal: restrição ao leito; mutismo; dores no momento da deglutição; infecções intercorrentes.

Quais são os fatores de risco do Alzheimer e outras demências?

A Alzheimer’s Disease International lista 12 fatores de risco:

Sedentarismo: atividade física regular é uma das melhores formas de se reduzir o risco de demência, pois traz benefícios para o coração, circulação, controle de peso e bem-estar mental. Recomenda-se que adultos façam, semanalmente, 150 minutos de atividade aeróbica moderada ou 75 minutos de atividade aeróbica intensa.

Tabagismo: fumar aumenta consideravelmente o risco de demência e outros problemas, como acidente vascular cerebral, câncer e diabetes tipo 2.

Consumo excessivo de álcool: segundo a entidade, o consumo considerado indevido (mais de 21 doses por semana), além de aumentar o risco de demência, pode ter relação com outros problemas comportamentais e cerebrais.

Poluição do ar: pesquisas apontam evidências de que o risco de demência cresce em locais com elevada poluição atmosférica.

Ferimento na cabeça: neste caso, trata-se de lesões representativas, decorrentes de acidentes de carro, moto ou bicicleta, por exemplo; da prática de esportes como boxe, futebol e hóquei; de ferimentos causados por armas de fogo, agressões violentas ou quedas.

Contato social pouco frequente: relações sociais aumentam a chamada reserva cognitiva, levam comportamentos benéficos para o cérebro e reduzem o risco de demência.

Baixa escolaridade: está ligada a uma menor reserva cognitiva.

Obesidade: sobretudo na meia-idade.

Hipertensão: pressão alta, também na meia idade, aumenta o risco de demência.

Diabetes: a entidade menciona especificamente a diabetes tipo 2.

Depressão: é um dos aspectos do chamado “pródromo da demência” (ou seja, sintoma que é verificado antes dos demais sinais levados em conta na hora do diagnóstico); ainda não está determinado até que ponto a demência pode ser causada pela depressão, ou vice-versa (na verdade, ambas as hipóteses podem estar corretas).

Deficiência auditiva: estuda-se a possibilidade de aparelhos auditivos, quando necessários, reduzirem o risco de demência.

Como prevenir Alzheimer e outras demências?

O Ministério da Saúde lista as seguintes ações:

  • Praticar atividades físicas regulares
  • Ter alimentação saudável e regrada
  • Controlar os fatores de risco cardiovascular (como hipertensão e diabetes)
  • Dormir bem
  • Não fumar
  • Não consumir bebida alcoólica
  • Não usar outras drogas
  • Ter uma vida ativa e com objetivos
  • Estudar, ler e manter a mente sempre ativa, adquirindo conhecimento
  • Trabalhar a capacidade de concentração
  • Fazer exercícios de aritmética
  • Fazer jogos inteligentes
  • Praticar atividades em grupo

“Uma dieta saudável e uma rotina de exercícios físicos ajudam a melhorar a qualidade e a preservar o sistema cardiovascular e cerebrovascular. Se você cuida dessa sua ‘tubulação’ por onde correm sangue e nutrientes, e que também serve para já, melhora bastante a sua reserva cognitiva”, diz a neurologista Ana Carolina Andorinho.

Reserva cognitiva é tudo que uma pessoa retém de aprendizado ao longo da vida, o que inclui a escolaridade, e é ela que proporciona plasticidade cerebral, elaboração de pensamento e de estratégia. Aprender algo novo, portanto, contribui para a criação desse substrato que ajuda a proteger da demência. Ou seja, é colocar o cérebro para se exercitar.

“Mesmo para pacientes já diagnosticados, ler jornal ou fazer palavras cruzadas, por exemplo, são exercícios interessantes”, explica a médica.

Melhorar o sono também é primordial, segundo ela. “Nosso cérebro tem um sistema linfático especial, que é coletor de lixo, e que precisa ser drenado. Como a gente faz isso? Dormindo. É assim que fazemos essa higiene, ‘catando’ lixo do cérebro. Não que vai impedir a demência, mas, de repente, vai retardar.”

Sem contar que uma noite mal dormida deixa a pessoa com sono o dia inteiro, o que reduz a atenção e tem impactos negativos na memória.

Por fim, Ana Carolina Andorinho reforça a importância do convívio social, lembrando que o isolamento está bastante ligado ao declínio cognitivo. “A mensagem é: viva bem a vida, tenha seu momento de trabalho, mas aproveite a hora do almoço, jogue conversa fora, saia para se divertir. Interação social ajuda a cuidar da saúde mental e a prevenir de síndrome demencial.”

Como é o tratamento para o Alzheimer?

O Alzheimer não tem cura, mas é possível tratar os sintomas. E, neste sentido, há dois tipos de abordagens possíveis e não excludentes: a farmacológica (com remédios) e a comportamental. Além do controle de quadros como pressão alta, diabetes ou colesterol, por exemplo, segundo o Ministério da Saúde, a qualidade de vida do paciente também pode ser garantida com terapia ocupacional e atividades físicas.

“Embora não exista um tratamento curativo, há muita coisa para se fazer, tem hábitos, rotinas e comportamentos para gente melhorar. O tratamento é uma parceria entre médico e família, é conjunto”, diz Ana Carolina Andorinho.

A abordagem farmacológica prevê uso de medicações que ajudam a melhorar o sono, ou a irritabilidade e a agressividade. Um ponto importante para o qual a neurologista chama a atenção é evitar remédios que deixem o paciente “apagado”, sem disposição para atividades que lhe dão prazer ou para interações sociais com filhos, netos e amigos. “O objetivo é tentar dar qualidade de vida ao paciente, mantendo a relação com a família. E o indivíduo vai conseguir preservar o reconhecimento de sua própria identidade, ainda que não reconheça mais a doença que está enfrentando”, afirma a neurologista.

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