O setor da saúde suplementar no Brasil vive uma crise muito importante, decorrente de um esgotamento do sistema atual. Os planos de saúde não conseguem repassar os custos aos contratantes e beneficiários e, com isso, a tendência é que haja uma diminuição no número de beneficiários em curto prazo e um aumento da pressão sobre os hospitais – já que, para poder administrar seus fluxos de caixa, as operadoras de saúde têm voltado a sua pressão para cima dos hospitais. Isso, por sua vez, prejudica a qualidade do atendimento e o sistema como um todo.
É um momento muito delicado e, seguramente, o mais desafiador dos últimos 30 anos. Não há, que nós conheçamos, um esforço organizado no sentido de promover uma revisão e uma reforma no sistema. E o que nos preocupa, portanto, é a falta de uma discussão mais profunda sobre a necessidade dessa reforma. Os hospitais estão sendo sacrificados, e tememos pelo desenrolar desse ano de 2023, uma vez que o que vem se formando é o que podemos chamar de uma “tempestade perfeita”: as operadoras pressionam porque têm resultados ruins, a lei da enfermagem estabelece um custo extra que não temos como pagar, e o conjunto do sistema dá mostras de um grande estresse.
Nossa maior preocupação não é com mudanças que estão sendo anunciadas, até porque não existe nenhuma neste momento sendo discutida com maior profundidade. A preocupação da Anahp é, justamente, com a falta de um debate que leve a mudanças. Nós não podemos achar que os hospitais vão resolver seus problemas da forma como se propõe hoje. É o sistema como um todo que está em dificuldades e, se não encontrarmos formas de solucionar e enfrentar, todos perdem.
As operadoras de planos de saúde vêm trabalhando em duas linhas que, ao nosso juízo, não resolvem o problema da saúde suplementar. A primeira é pressionar os hospitais com glosas e aumento dos prazos para pagamento; e a segunda é pressionar os contratantes e beneficiários, aumentando o custo-preço dos planos. O que pode acontecer, com isso, é algum equilíbrio de caixa no curto prazo, mas trata-se de uma solução ilusória. Isto porque é o sistema como um todo que está com dificuldades.
Outro problema secundário é a redução no número de beneficiários, considerando que, atualmente, já lidamos com um volume baixo cujo principal motivo está no alto custo dos planos em relação à média de renda da população e faturamento das empresas. Se não enfrentarmos esses problemas, estaremos andando em círculos: a saúde suplementar não consegue novos beneficiários, tenta cobrar mais dos atuais, o que reduz o número de beneficiários. E assim sucessivamente, o que não é benéfico a nenhuma das partes.
O sistema como um todo precisa ampliar sua eficiência, combater fraudes, mudar a qualidade dos produtos que oferece, envolver mais os contratantes para que participem da escolha e da fiscalização do que é oferecido, seja pelas operadoras, seja pelos prestadores de serviço. Ou seja, não é hora de fazer mudança conjuntural. O problema é estrutural e, se não enfrentarmos a estrutura do sistema da saúde suplementar, que está dando sinais visíveis de esgotamento, a crise volta rapidamente.