Marisa Pereira de Brito convive com uma doença autoimune há 16 anos, mas há dois e meio, encontrou a luz no fim do túnel. “Quando fui diagnosticada com Miastenia Gravis, uma doença incurável, degenerativa progressiva, passei a depender dos familiares para me movimentar e alimentar, de cadeiras de banho, e cheguei a ao ponto de não segurar uma caneta, uma colher. Com minha última crise, fiquei na cadeira de rodas três anos, seis meses e 18 dias. Mas, hoje, minha realidade é outra. Eu sou uma antes da plasmaferese e outra depois”, conta ela, alegre e brincando com a equipe, antes de mais um procedimento que lhe custa algumas horas com um cateter interno, em seis dias alternados, realizado a cada mês.
A Plasmaferese Terapêutica é um procedimento realizado num equipamento muito específico, com método semelhante à hemodiálise. No Monte Sinai, é feito no Centro de Transplante de Medula Óssea e Terapia Celular (CTMO), único na região a disponibilizar a terapia. A máquina de plasmaferese remove o plasma do sangue, levando consigo as substâncias indesejáveis que estão causando doenças. Em agosto, no hospital, Marisa estreou o novíssimo equipamento Spectra Optia® Apheresis System – Terumo BCT, a mais moderna geração do sistema.
O hematologista Leandro Dutra Borges de Almeida é o responsável pelo tratamento. Ele realizou as primeiras sessões num caso de Síndrome de Guillan-Barré há três anos, num militar que estava muito grave, na UTI. Ele, hoje, é maratonista e voltou a tocar na banda de sua corporação. O médico explica que esta é a síndrome neurológica de origem autoimune com mais indicação para plasmaferese. Ela ganhou mais conhecimento popular, há alguns anos, como uma das consequências da Zika, mas pode ameaçar a vida quando atinge os músculos da respiração.
Doença autoimune degenerativa
Na Miastenia Gravis, os chamados autoanticorpos atacam células saudáveis do organismo por engano, por confundi-las com agentes invasores, como vírus e bactérias.Ela promove um distúrbio crônico neuromuscular caracterizado pela fraqueza muscular e fadiga rápida. “Fiz vários tratamentos com medicação, mas continuava ainda bem debilitada até que o Dr. Angelo (Atalla – responsável pelo CTMO) sugeriu tentarmos a plasmaferese. Não tive qualquer dificuldade com meu plano de saúde para iniciar os procedimentos e realmente foi fantástico. E ‘o Plasma’ foi uma bênção na minha vida. Hoje, tomo meu banho sozinha, eu cuido da minha casa, cuido da minha mãe. Não consigo, claro, como uma pessoa normal, com rapidez, mas no dia e que mastiguei um chiclete de novo foi ótimo, liguei para o Rodrigo (Andrade – enfermeiro do CTMO) para contar”.
“Na plasmaferese realizamos a troca do plasma, a parte acelular do sangue, aquele líquido amarelo, onde circulam as substâncias que estão no sangue, entre eles os anticorpos, hormônios e mediadores imunológicos. O mesmo volume de plasma que é eliminado na plasmaferese precisa ser reposto com bolsas de plasma fresco ou soro fisiológico com albumina, dependendo da patologia a ser tratada. Isso é feito por um acesso venoso para que possamos levar o sangue até a máquina e depois trazê-lo de volta ao paciente. É importante entender que a plasmaferese remove as proteínas indesejáveis, mas não influencia na sua produção, por isso, o tratamento neste caso da Miastenia é periódico”, explica o hematologista.
Entre as diversas doenças com possibilidade de tratamento pelo procedimento ele cita Púrpura trombocitopênica trombótica, Guillan-Barré, Polirradiculopatia Desmielinizante Crônica, Macroglobulinemia de Waldenstron, Crioglobulinemia e em algumas situações de rejeição de transplante de órgãos, de Granulomatose de Wegener, de síndrome de Goodpasture, de Lúpus, de Esclerose múltipla, de glomeruloesclerose, dentre outras doenças.
Mariza faz outros exames e rotinas de avaliação permanentes e sabe que a doença não tem cura. “Tenho consciência de que a plasmaferese é um tratamento invasivo, sim, mas o resultado é um espetáculo. Já começo a sentir pequenos ‘flashs’ de debilidade quando fico 15 ou 20 dias sem o tratamento (o intervalo é maior entre as sessões quando há intercorrências, como infecções urinárias). Por isso, volto feliz a cada sessão, pois além contar com outra bênção na minha vida, o Dr. Bruno Barbosa, o neurologista que me acompanha atualmente, ainda tenho esta equipe (do CTMO) show de bola que tenho aqui no Monte Sinai”, faz questão de ressaltar. “Sou toda pela bandeira do ‘plasma’. Espero que meu depoimento atinja a todos que precisem, pois a qualidade de vida que ganhei supera todas as dificuldades do tratamento”, conclui ela.
“A crise acontece sem um gatilho, começa a fraqueza, dificuldade de alimentar e vemo abatimento total. Mas quando estou “em plasma” parece que estou ligada em mais que 220 volts. E passei a encontrar prazer em coisas simples como comer uma bala, andar no meu jardim ou fazer uma simples caminhada entre as ruas Floriano Peixoto e Rio Branco”.
A nova Spectra Optia® e a evolução do equipamento
Como a versão antiga da máquina de Plasmaferese, da Terumo BCT, vai sair de linha, a tendência mundial é a migração. O novo equipamento só está disponível a nível mundial, há dez anos e tem uma série de vantagens, com ganhos mecânicos e tecnológicos. Traz mais eficiência operacional, mais segurança, mas não muda o processo. No Brasil, havia 150 exemplares da máquina antiga, o “up grade” para a Optia começou há seis e só há outros 45 equipamentos já em uso. A principal vantagem da máquina nova é que ela é bem mais amigável, a outra só falava inglês, esta tem todas as informações em português e é totalmente ’touch’, com controles dispostos numa tela de fácil entendimento. “Como não tinha tantos recursos informatizados, os alarmes da antiga não eram tão sensíveis. A nova tecnologia bloqueia uma sequência errada, por exemplo, e minimiza a intervenção e possibilidade de erro de operação”, conta Carla Tschudar, especialista clínica da fabricante que passou uma semana treinando a equipe do CTMO para utilização do equipamento.
A Spectra Optia® Apheresis System é usada também nos procedimentos de Transplante de Medula Óssea (Coleta de Células Mononucleares Contínua – CMNC), no caso do tipo autólogo. Ela pode ampliar ainda mais o espectro dos tratamentos e traz muitos valores agregados. Foi usada pela primeira vez com Marisa e a equipe destacou a vantagem do menor tempo gasto na sessão realizada na paciente.