Seminário Anahp promovido em Belo Horizonte reúne mais de 300 participantes

“As mudanças demográfica e epidemiológica da população impactam diretamente no sistema de saúde. O modelo atual não suportará as demandas da população e precisa ser revisto. O hospital tem papel fundamental neste processo, e certamente pode contribuir com o setor”. Foi com esta preocupação que o Presidente do Conselho de Administração da Anahp, Francisco Balestrin, abriu as atividades do Seminário Anahp abordando o tema “O hospital na construção da excelência do sistema de saúde: Perspectivas e desafios”, promovido no dia 12 de junho, no Hospital Mater Dei (MG), em Belo Horizonte.
Sistema de saúde de excelência
Miguel Cendoroglo, Superintendente do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) compartilhou a experiência da instituição com a inclusão do Triple Aim, do Institute for Healthcare Improvement (IHI), como conjunto de princípios e objetivos estratégicos do Sistema Einstein de Qualidade. A ferramenta tem como principais finalidades melhorar a experiência do paciente, melhorar a saúde da população e reduzir o custo per capita com cuidados de saúde.
“Toda essa mudança acontece a partir de uma nova mentalidade, que utiliza como princípio a medicina baseada em evidências. Antes, pensávamos que era necessário escolher entre qualidade e sustentabilidade, mas hoje percebemos que as duas coisas andam juntas e proporcionam eficiência. No entanto, para que seja possível, a liderança assistencial é necessária”, explica Miguel.
O palestrante compartilhou ainda alguns programas aceleradores implementados no Einstein e reforçou a importância da integração e formação da liderança de alto impacto. “Estabelecemos times multidepartamentais, com foco e autonomia; gestores das unidades na liderança; indicadores e metas passaram a integrar o dashboard da instituição, com as lideranças responsáveis por prestar contas; e proporcionamos ainda o envolvimento da base com instrumentos de engajamento e redes sociais”, explica.
A iniciativa do Einstein apresentou resultados positivos para a instituição. “O giro de leitos aumentou e o tempo médio de internação diminuiu, proporcionando aumento de saídas sem a necessidade do aumento de leitos na mesma proporção”, compartilha Miguel.
“Ao mostrar seus resultados, a instituição engaja o corpo clínico e se torna melhor”, acrescenta Ary Ribeiro, Superintendente de Serviços Ambulatoriais e Comercial do Hospital do Coração-HCor (SP) e moderador da mesa.
Para Eugênio Villaça, Consultor em Saúde Pública, o Triple Aim trabalha o modelo de gestão como parte do objetivo de melhora da qualidade de vida da população. “Há necessidade de um modelo com foco na população, que seja baseado em evidências, bem como um novo modelo de remuneração. O Triple Aim contempla exatamente esses três pontos principais”, comenta. Eugênio ainda reforça que instituir uma rede coordenada de atenção primária à saúde é fundamental.
Para Martha Oliveira e Michele Mello, respectivamente Diretora-presidente Substituta e Gerente de Monitoramento Assistencial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a mudança do modelo atual de saúde deve contemplar a assistência, remuneração e aspectos culturais. “Na ANS trabalhávamos esses tópicos de maneira fragmentada, mas hoje buscamos fazer isso de forma integrada”, explica Michele.
“Existe uma desconfiança muito grande que dificulta o diálogo do setor. Com essa iniciativa do Triple Aim é possível buscar a mudança necessária do modelo de saúde, associada à mudança do financiamento”, complementa Martha.
O papel do líder médico na revolução da assistência transdisciplinar ao paciente
“Somente com o alinhamento de interesses entre o corpo clínico e o hospital, entenderemos o papel de cada um na instituição”, afirma José Henrique Germann Ferreira, Diretor do Instituto de Consultoria e Gestão do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).
Paulo Chapchap, Superintendente de Estratégia Corporativa do Hospital Sírio-Libanês (SP), abordou o desafio de financiamento da saúde a partir de uma gestão eficiente. “Hoje, o governo é responsável apenas pela metade do que é investido em saúde. Além disso, há uma carência de infraestrutura e recursos humanos, com déficits de 140 mil leitos e 60 mil médicos”, comenta.
A necessidade de compartilhamento de responsabilidades, inclusive com os pacientes, também foi citada por Paulo. “A medicina hoje está cada vez mais preventiva, preditiva, personalizada e participativa. A participação do paciente na segurança do cuidado é fundamental, assim como a participação dos médicos na qualidade, segurança e abrangência do cuidado”, afirma.
De acordo com Paulo, o gestor é o facilitador estratégico, a governança clínica faz parte do processo e o ativismo dos pacientes é fundamental. “Nós não vamos sobreviver com um sistema que trata apenas o paciente internado”, ressalta.
A relação médico e instituição foi outro ponto mencionado por Paulo. “O médico cliente do hospital não existe mais. Hoje ele é um parceiro da instituição e cresce junto com a entidade”, completa.
Márcia Salvador, Vice-presidente Assistencial, Operacional e Diretoria Clínica do Hospital Mater Dei (MG) e José Jair James de Arruda Pinto, Diretor Executivo Regional São Paulo da Rede D´Or São Luiz (SP) também compartilharam os desafios e as iniciativas das entidades para o engajamento do corpo clínico.
“Quando falamos em uma rede, com instituições em diferentes localidades do país e diferentes culturas, o processo de engajamento do corpo clínico é muito mais complexo”, comenta José Jair ao abordar os desafios de engajamento na Rede D’Or São Luiz.
Segundo Márcia, as iniciativas para engajamento do corpo clínico adotadas pela rede Mater Dei é participativa e apresenta resultados positivos desde a sua adoção pela instituição. “A integração do Corpo Clínico com a gestão das organizações hospitalares é hoje imprescindível para a sustentabilidade do setor. Este modelo envolve o corpo clínico, tornando-o um participante ativo nos processos gerenciais e assistenciais”, explica.
Visão e prática de um hospital como protagonista na busca pela excelência do sistema de saúde
Henrique Moraes Salvador, Diretor-presidente do Hospital Mater Dei (MG); Ângelo Pimenta, Diretor Clínico do Hospital Felício Rocho (MG); José Mariano Soares de Moraes, Diretor Superintendente do Hospital Monte Sinai ( MG); e Patrícia Pena, Gerente Corporativa de Saúde da Vale (MG) discutiram o papel do Hospital como protagonista na busca pela excelência do sistema de saúde.
Para Henrique Moraes Salvador, Diretor-presidente do Hospital Mater Dei (MG), as instituições hospitalares enfrentam grandes desafios atualmente. “Vivemos uma realidade em que o acesso é restrito; a profissionalização da gestão é uma necessidade; o relacionamento com os clientes é cada vez maior; os investimentos na captação, desenvolvimento e retenção das pessoas nas organizações é cada vez mais necessário; e a gestão dos custos para o sistema uma prioridade”, comenta.
“Somos o 2º país do mundo com maior número de escolas médicas, e ainda assim não temos médicos o suficiente para atender a população brasileira. O mesmo acontece com o número de hospitais. Não adianta ter muitas escolas e hospitais, se os profissionais não possuem formação adequada e visão sistêmica do mercado”, afirma José Mariano.
De acordo com Henrique, o resultado que buscamos em saúde deve ser baseado em alguns princípios fundamentais para a sustentabilidade do setor. “Uma vez que haja acesso ao sistema, três outras dimensões são fundamentais – segurança, resultados assistenciais e respeito ao indivíduo”, explica. O palestrante compartilhou ainda alguns exemplos de sistemas integrados a partir de experiências internacionais.
Experiências de hospitais da Anahp na construção da excelência do sistema de saúde
“Precisamos envolver o paciente em todas as fases do processo terapêutico”, afirma Sandra Cristine da Silva, Gerente de Qualidade do Hospital Sírio-Libanês (SP), ao abordar a perspectiva do paciente neste processo. De acordo com a palestrante, o cuidado centrado no paciente proporciona melhor eficiência operacional, uso apropriado dos recursos, melhores resultados com qualidade e segurança e retenção da equipe.
Sandra abordou ainda as tendências em relação às expectativas do paciente. “Hoje, eles buscam se envolver no processo de cuidado e querem autonomia na tomada de decisão. Os pacientes solicitam informações sobre as condições e opções de tratamento e buscam serviços de alta qualidade”, compartilha.
Para falar sobre gestão de saúde populacional, Fernando Torelly, Superintendente Executivo do Hospital Moinhos de Vento (RS), compartilhou a experiência do Sistema Regional de Saúde Restinga e Extremo Sul. “O Hospital Restinga foi construído a partir de um modelo de filantropia, e entregue ao Ministério da Saúde. A instituição atende 100% pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS)”, explica.
Para que esta iniciativa fosse possível, o Hospital Moinhos de Vento investiu na capacitação da população ao redor do complexo e na construção de três unidades de saúde da família. O palestrante citou ainda os desafios dessa inicitiva, como a dificuldade de integração dos vários níveis de atenção, o sistema de regulação e a sustentabilidade do projeto.
Evandro Tinoco, Diretor Clínico do Hospital Pró-Cardíaco (RJ), abordou a redução do custo per capita a partir de programas de cuidados continuados em Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC). De acordo com o palestrante, os programas para doenças específicas, com abordagem multidisciplinar baseadas em evidências, melhoram a qualidade assistencial e promovem a redução dos custos médico-hospitalares. “Por meio destes programas é possível aumentar o número de pacientes atendidos e ainda atraímos a incorporação de soluções e inovação”, comenta.
DRG como ferramenta de gestão
Para finalizar as discussões, André Alexandre Osmo, Superintendente de Desenvolvimento de Novos Negócios do Hospital Sírio-Libanês e Alexandre Holthausen, Médico Pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) citaram as experiências das instituições com a implementação do sistema de classificação por Grupos de Diagnósticos Relacionados (DRG – sigla em inglês), que busca correlacionar os tipos de pacientes atendidos nas instituições com os recursos consumidos durante o período de internação.
Os participantes apresentaram os ganhos assistenciais e financeiros proporcionados pela ferramenta. “Por meio do sistema de DRG é possível identificar o perfil nosológico do hospital; avaliar a qualidade assistencial; comparar médicos, áreas e instituições; identificar áreas e processos com oportunidades de melhoria; e facilitar as negociações com as fontes pagadoras e médicos”, comenta Alexandre.
“O hospital possui tantos produtos quanto o número de pacientes tratados. Apesar de único, cada paciente possui características demográficas, diagnósticas e terapêuticas comuns a outros pacientes, que determinam o tipo e nível de serviços que receberá. O agrupamento de pacientes com características clínicas e perfil de tratamento semelhantes permite identificar o perfil nosológico hospitalar em termos de recursos consumidos durante a internação, e assim mensurar o produto hospitalar”, finaliza André.
Fonte: Anahp