Nos últimos anos, houve em nosso País uma tentativa maniqueísta de partir a sociedade entre “nós e eles”. E o afastamento entre bem e mal, bom e ruim, criou uma realidade ilusória em diversos setores.
Na Saúde, essa dualidade se materializa na ruptura entre público e privado.
O que isso significa? Que existe um embate ideológico entre grupos que pensam que a Saúde, para ser boa e adequada, deve ter origem pública e estatal. Outros defendem que a assistência apropriada só pode ser privada e privatizada.
Aparentemente, ambos julgamentos sustentam enganos. As sociedades caminham para um ambiente em que projetos e propostas colocam o cidadão no centro das intenções e das atenções. Assim, não importa a natureza da prestação do serviço, desde que exista um ambiente de acolhimento, qualidade, equidade e honestidade. Além de um modelo de financiamento que caiba no bolso. É o que ocorre no Canadá e outros diversos países.
O Estado, quando responsável pelo financiamento da assistência a camadas menos privilegiadas da população, tem a incumbência de regular e checar os resultados dessa atividade. Mas não deve, necessariamente, gerir os serviços. Essa distinção explica uma outra confusão comum: a operação da saúde pública não precisa ser estatal. O fundamental é que a garantia dos padrões adequados de atendimento norteie o sistema.
Existe no Brasil o mito, ou o devaneio, de que a assistência privada é superior à pública. E de onde vem essa mentalidade?
O que ocorre é que o agente público prestador do serviço, muitas vezes, não consegue manter parâmetros assistenciais independentes de orientações ideológicas. Ele coloca-se em primeiro lugar, defende suas vontades e necessidades e, com isso, alimenta a deficiência de percepção sobre quem é, de fato, o cliente.
A segregação entre “nós e eles”, entre saúde pública e privada, evidencia apenas uma verdade: as lacunas de gestão, mais acentuadas, em geral, no primeiro segmento. É por isso que, entre outros tantos acontecimentos lamentáveis, ministro é demitido por telefone.
Quando a Saúde se torna fundamentalmente bem do cidadão, as barreiras – sejam elas ideológicas, territoriais ou tecnológicas – se quebram. E já não existe mais “nós e eles”.