Na Saúde ou em outras esferas, assumir o posto requer coragem, inteligência e visão
Tenho pensado muito no vácuo de liderança que hoje se percebe no Brasil, especialmente na área pública, mas também com reflexos no mercado privado de saúde. Recentemente, a Anahp e a Hay Group desenvolveram uma pesquisa qualitativa para medir o engajamento e o suporte organizacional das instituições associadas e a constatação é de que, nos principais direcionadores, nossas médias estão abaixo dos índices gerais de mercado.
Por exemplo, 61% dos colaboradores na saúde percebem um clima favorável no ambiente de trabalho, contra 75% entre as empresas com as melhores práticas de mercado e 24% dos profissionais têm a intenção de deixar seus hospitais nos próximos dois anos, ante 9% nas melhores empresas do País. Esses dados podem ser lidos como um reflexo de nossa gestão ainda muito técnica na parte assistencial e pouco amadurecida em estratégias de negócios.
Por isso, me parece que muitos dos atuais líderes chegaram a seus postos despreparados para assumir as responsabilidades que chegam com o cargo. Confunde-se autoridade com a real capacidade de conduzir uma instituição ou uma nação, e muitas vezes observamos chefes grosseiros, que dificultam o diálogo para que as pessoas não coloquem em xeque uma liderança que já não existe, ou então, pior, falta coragem para falar a verdade e aí não se muda nada e não se consegue evoluir.
Um amigo me disse: para ser líder é preciso ter coragem intelectual, inteligência emocional e visão espiritual. E com essa síntese me lembro de algumas pessoas que mostraram para mim o que era liderança.
Minha memória mais antiga é do meu avô, o homem que me ensinou a tirar fotografias e que construía meus carrinhos de rolimã. Ele sempre foi um homem criativo e religioso, com uma tolerância enorme. Tudo que ele plantou, germinou. Meu avô nunca se preocupou somente com as aparências, por isso, conseguiu construir um legado.
Pessoas como ele – e como muitos dos líderes de saúde que fizeram parte da minha trajetória – têm em comum o fato de nunca serem indiferentes e sempre buscarem o melhor caminho, apesar da atual mentalidade, em que fazer o correto é estar “fora do esquema” e, para ser popular, se rebaixa o pensamento e a forma de ver a vida e o mundo.
Aqui na Anahp, por exemplo, temos essa preocupação em preparar as instituições para que deixem sua marca positiva no mercado – o que é possível de ser alcançado por meio de seus executivos. É por essa razão que liderança nos é um tema tão caro, e será um dos eixos do 3º Conahp (www.conahp.com.br).
Como ouvimos frequentemente que não representamos os hospitais brasileiros, mas somente a elite – e muitos se queixam do nosso protocolo, de nosso formalismos, e nos consideram intransigentes no cumprimento do estatuto – queremos, com pesquisas e conteúdos, contribuir para que as instituições alcancem os padrões mais altos de excelência.
É dessa forma que se aumenta o profissionalismo e a credibilidade do setor. Pegue o exemplo da Igreja Católica. Não é por causa da organização, processos e estrutura que a instituição é sólida há mais de dois mil anos?
Deixo como mensagem final um ensinamento do astro do beisebol, Joe di Maggio. Já idoso, em um jogo de apresentação, perguntaram-lhe por que se desgastava e se esforçava tanto, mesmo agora que já era rico e famoso. Ele respondeu: sempre haverá uma criança que pode estar me vendo pela primeira ou pela última vez. Eu devo a ela o meu melhor.